Pina Colada

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Janeiro já estava perto do seu fim e Ellen rolava na cama, assistindo vídeos e mais vídeos no seu celular. Queria matar o tempo, distrair a mente para que não tivesse oportunidade de pensar e sua ansiedade não lhe importunasse. Não conseguiu. Eram 15:53. O relógio na tela a sua frente não mentia, faltavam apenas alguns minutos. A angústia se intensificava, não conseguia esperar mais.

Levantou-se da cama e correu até o computador, que estava ligado a horas. Ela verificou o site. Estava correto. Olhou a hora de novo, 15:54. Como aquilo estava acontecendo? Ellen deitou a cabeça, em sua incredulidade exasperada, bem em cima do teclado. Faltavam apenas seis minutos! O tempo tinha parado e ela não ficou sabendo? Tentou se controlar. Com os olhos fechados, o rosto ainda apoiado nas teclas, colocou as mãos em cima das coxas, as fechou em punho e respirou fundo. Sua mente esvaziou.

Sim, aquilo era importante, sim ela queria muito saber o resultado, mas precisava maneirar, se não acabaria perdendo o controle de vez. Assim ficou. Imóvel, relaxando cada vez mais, concentrando sua atenção apenas na sua própria respiração, sua tensão se esvaindo, até chegar ao ponto de adormecer.

Ellen abriu os olhos e viu a janela do seu quarto. Já era noite lá fora. Levantou-se assustada, seus sentidos lhe dando consciência da situação. Sentiu uma umidade no canto da boca, limpou de imediato e verificou se não tinha estragado seu teclado com baba. Suspirou aliviada quando notou que suas teclas ainda funcionavam perfeitamente. Tinha pagado caro no teclado. No computador como um todo. Queria ter um bom equipamento quando entrasse na faculd... A FACULDADE!!

Recobrando o porquê daquilo tudo, Ellen imediatamente verificou o horário; 20:17. Já tinha passado tempo demais. Instantaneamente se ajeitou na cadeira e entrou no site do vestibular. Procurou a lista de aprovados para o curso de design gráfico.

- Onde está?... Onde está? - sussurrou para si mesma - Edna... Eduarda... Eduardo... Egídio, quem se chama Egídio? Ellen! Achei! Espera, essa não sou eu, essa é Ellen Cássia, eu sou Ellen FERNANDA!! - Gritou ela, lendo o nome logo abaixo.

Alegria inundou o quarto. Ellen pulou em cima da própria cama, assustando seu cachorro, Fred, que dormia recostado nos travesseiros. Ela o abraçou e o beijou um número incontável de vezes, enquanto murmurava "passei, passei" incansavelmente. O vira-lata caramelo amava sua dona, mas naquele momento, só queria se livrar do seu agarrão cheio de alegria. Quando conseguiu escapar, saiu correndo pela porta, Ellen o seguiu, aproveitando pra dar a notícia para a primeira pessoa que encontrasse. Chegando na cozinha, deu de cara com Fred se escondendo por entre as pernas da pessoa que ele mais amava, depois dela.

- O que você fez com o Fred, Ellen? E o que aconteceu com seu rosto? Ele tá todo marcado!
- Nada, pai! Eu só dei um monte de amor e carinho pra ele, porque eu estava muito feliz. Advinha só, eu passei pai! Eu passei! - respondeu, tão contente que nem prestou atenção no próprio rosto contendo vários quadradinhos desenhados na bochecha.

Seu pai estava com um pano de prato nas mãos, as secava no momento em que a garota chegou. Quando ouviu a notícia, o pano foi parar em cima dos armários da cozinha quando ele abriu os braços, levando-os ao alto para abraça-la, sem dizer palavra alguma.

Ellen adorava os abraços do seu pai, sentia-se a pessoa mais segura na face da terra. Através dele podia sentir o tanto que seu pai a amava, mesmo ele não sendo muito bom em se expressar verbalmente, mas aquele gesto...compensava tudo!

Ela retribuiu o abraço apertando-o bem forte. Quando se separaram Ellen encarou olhos castanhos que tanto amava, cheios de lágrimas.

- Eu tenho tanto orgulho de você, filha! - disse com a voz completamente embargada. Tentou falar mais, mas não conseguiu. Seu rosto ficou vermelho e as lágrimas e soluços vieram. Ellen não pode deixar de se emocionar também. Aquela era a realização de um sonho, não só dela, mas dele também. Seu pai nunca terminou os estudos, foi até o ensino médio e teve que parar quando o irmão dela nasceu. Fraldas não são baratas, ele sempre dizia.

Pina Coladaحيث تعيش القصص. اكتشف الآن