PROLOGO

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Elisa Moraes Dias

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Elisa Moraes Dias

 
Massageei minhas têmporas delicadamente, tentando controlar a vontade de matar meu assistente. Da próxima vez vou mandar alguém apenas levar os documentos na minha mansão, assim não tenho que ficar ouvindo alguém questionar a minha decisão, quando ela já estava bem clara de qual seria, antes mesmo de eu tomá-la. Evitaria essa dor de cabeça desnecessária de agora, afinal já basta os problemas que tenho que resolver, não preciso de mais.
 
Odeio isso. Odeio, com todas as minhas forças, quando alguém não respeita a minha vontade e fica insistindo para que eu mude a minha opinião, achando que ao me perturbar vai conseguir que eu mude de ideia. Acreditando que o cansaço de debater o mesmo assunto diversas vezes me ganha, quando na verdade é o exato oposto, tenho um gênio forte, quando coloco algo na cabeça para tirar é quase uma missão impossível, principalmente quando venho com isso desde pequena.
 
Porra, sempre deixei bem claro que sou super a favor dos Novas Espécies. Então, pela lógica, é óbvio que eu iria me recusar a ajudar a financiar uma instalação da Mercelli. Se fosse por mim, eu afundava todos eles e salvava cada um Nova Espécie, vítimas dessa indústria que está disposto a passar por cima de tudo por causa do dinheiro. Mas infelizmente sou apenas uma bilionária com um monte de Império, não possuo nenhuma mágica capaz de fazer tal coisa. Pelo menos não ainda.
 
Mas isso não significa que fico de mãos atadas, coloco meu dedo em tudo que posso para ajudar. Seja com dinheiro, todo mês faço uma doação bem generosa, até denunciar de forma anônima qualquer um que queira os invadir. Sem contar que sou conhecida por dar minha cara a tapa nessa causa, fazendo de tudo para impedir que façam ainda mais com a vida deles. É como se eu fosse um anjo da guarda para eles, pois tudo que posso eu faço para proteger a todos.
 
Ser nascida e criada em um país como o Brasil faz você entender o quanto dói o preconceito, o quanto machuca e pode fazer grande mal ao seu psicológico. Não importa pelo que, porque por mais que eu ame o meu país tenho que ser sincera ao declarar que muitos brasileiros estragam a nossa casa, fazendo bullying  por nada, sendo pior que detetive quando estão em busca de algum defeito de alguma pessoa. Eu amo o meu país, tenho o maior orgulho de ser brasileira, mas preciso ser sincera.
 
Não é porque nasci, literalmente, em um berço de ouro que não saiba o que é isso. Ser uma Dias é muita responsabilidade para uma única pessoa, porque esperam que tudo que você faça seja perfeito, caso não seja, pode contar que seu rosto vai estar estampado em várias revistas e blogs de fofocas com as piores da críticas. Sem contatar que ser uma CEO em um país tão machista não facilita nada. Todo os dias eu lido com preconceito, todos os dias eu tenho que me superar para mostrar que sou capaz. Sei que nada se compara ao esforço daqueles que possuem uma situação financeira inferior à minha. Mas esse tipo de coisa não é diferente para ninguém, todo o ser humano presencia, afinal ninguém está imune.
 
Só consigo me colocar no lugar deles. Lidar com tanta descriminação por algo que eles não escolheram ser, que foram transformados a base de muita tortura. São vistos como animais por essa sociedade que, ao invés de apoiá-los depois de tudo que sofreram, muitas das vezes apoia seus agressores, dando a desculpa estúpida que eles mereceram passar por aquilo tudo. Meu cu, isso sim!!
 
Não vou apoiar mesmo, pelo contrário, vou fazer o que puder para impedir que uma instalação dessa entre no meu país.
 
__ Senhora, pense bem...–- Levanto minha mão, mandando ele parar.
 
__Já pensei e já decidi. Não vou me filiar a Mercelli, assunto encerrado -- ele abre a boca para contestar—Eu disse assunto encerrado, não quero ouvir mais uma vírgula a respeito disso ou te mando embora no mesmo momento.
 
Falo, só que dessa vez mais firme e convicta, deixando minha voz sair séria. Vendo que eu já tinha tomado a minha decisão, Micael confirma contrariado e com cara de quem comeu e não gostou, sai da minha sala. Suspiro pesado, relaxando o meu corpo ao ver a porta se fechar e ele sair. Só não o demite ainda por ser um bom funcionário, mas falta pouco para isso acontecer.
 
Não sou daquelas que sai demitindo os funcionários e pronto, sempre tento dar mais algumas chances. Quando demito é porque já estou sem paciência mesmo e para não fazer nada de errado isso é o mais fácil.
 
Já não basta todas as ameaças que venho sofrendo, agora mais essa. Ter que ficar aturando as pessoas tentando passar por cima de mim?
 
Verifico a hora no relógio de pulso, vendo já está na hora de sair para mais uma reunião. Pego a minha pasta, com tudo que vou precisar, saindo da minha sala e no meio do caminho encontro com Fernando, advogado da empresa e meu melhor amigo.
 
__ Eai chefinha!? — Toca no meu braço, dando aquele sorriso de cafa.jeste.
 
Fernando é o típico mulherengo, daqueles que se você der mole, na primeira oportunidade está na cama dele. O mesmo não perde uma oportunidade que seja, mas é sempre importante lembrar que não passa de uma noite.
 
Nossos pais sempre foram grandes amigos, o que nos fez crescer juntos. O que eu adorava, porque ele era/ é como um irmão pra mim, porque ser filha única não é tão legal assim. Então como temos quase a mesma idade, acabamos crescendo juntos e criando essa relação tão forte e íntima. Ele pode não ser o meu irmão de sangue, mas com certeza é de coração.
 
__ Ama me perturbar hein--Nego com a cabeça, virando a direita.
 
__ Meu passatempo favorito-- Dar uma piscadinha, abrindo a porta para que eu passe e ele venha logo em seguida.
 
Logo ficamos sérios, deixando o ar descontraído para trás. Sou uma mulher com o coração nobre, daquelas que sempre que pode está com um sorriso no rosto, mas sei reconhecer as pessoas que merecem o meu sorriso e as que merecem a minha frieza. E bem, Joana que apesar de ser uma senhora de idade, não merece o meu sorriso. Vemos a ganância através das roupas de marca e os brincos exagerados de cristais.
 
Vivemos em um pé de guerra, porque ela quer que eu entre na Mercelli, e eu obviamente bato o pé para não entrar. Isso acaba nos tornando meio que inimigas. Uma não suporta a outra.
 
Meu pai era CEO de várias empresas muito importantes, já a minha mãe era dona de hospitais de renome espalhado pelo Brasil, possuindo até cinco laboratórios. Quando eles morreram no acidente de trânsito, todo o legado veio para mim já que era a única família, então me ter na Mercelli ajudaria aumentar meu capital e os ajudaria muito, os faria disparar. Depois que assumi a presidência eu aumentei o nosso capital e tudo que tínhamos. Hoje em dia sou uma das principais empresas do mundo todo.
 
Mas graças a Deus cresci com pais maravilhosos que me ensinaram valores, jamais entraria em algo desse tipo, assim como eles não fariam. Sem contar que por que eu iria querer aumentar ainda mais o capital?! Já tenho muitas coisas para tomar conta, quero saber de mais nada. Já sou rica demais e se eu quiser ser mais vai ser através de forma justa, não no sofrimento de alguém.
 
__ Senhorita Dias! -- Me comprimenta.
 
__ Senhora Hernández! --Correspondo, sendo educada--Ao que devo a honra de sua visita?! --me sento na mesa,sem conseguir evitar o deboche em minhas palavras.
 
__ Quero lhe fazer uma proposta--se senta também, do meu lado direito o mais perto possível de mim. Meu amigo se senta ao meu lado esquerdo.

Trocamos olhares desconfiados, ela está aprontando algo, com certeza.
 
__ Prossiga-- faço um gesto com a mão, mas já sabia muito bem do que se tratava.
 
__ É sobre a Mercille...---Ela começa sua fala, mas nem a permito terminar de falar.
 
__ Acho que não preciso responder, assim como você não precisa continuar! --falo ainda mais firme.
 
Sou surpreendida quando sinto um cano gelado na minha perna, vendo seu sorriso no rosto. Tento me manter neutra, segurando a vontade de partir para cima dessa vadia. Teria como ser mais previsível?
 
__ Continuando! Aqui tem um papel que, ao assinar, você nos concede um de seus laboratórios para nossas pesquisas, prometendo arcar com qualquer gasto. Em troca, todo mês vamos depositar um milhão e meio na sua conta! — Fala como se nada estivesse acontecendo.
 
-Eu não vou assinar! — A olho em sinal de desafio, sentindo ela apertar ainda mais o cano da arma na minha perna. — Vai, me mata aqui com tantas testemunhas assim! Se estivéssemos falando de uma mulher comum, passaria batido, mas ao se tratar de mim, com certeza você vai presa.
 
Na mesma hora, ela levanta a sua mão e aponta a arma para a minha cabeça. Com calma, mantenho nossos olhares juntos a todo momento sem expressar nenhum sentimento, passo a mão pela minha mesa e aperto o botão de emergência que soa silencioso. Nunca entendi porque papai fazia questão de ter um assim em todas as suas salas e de reunião, ou qualquer lugar que ele fosse nas empresas, mas agora o entendo e agradeço.
 
__ Assina o papel! -- senti a raiva no seu tom de voz.
 
__ Pensa bem Joana, se fizer qualquer coisa a Elisa será como assinar a sua carta de morte. Mesmo que mate Elisa, não vai garantir que fique livre, muito pelo contrário. Ninguém vai poupar esforços para colocar na cadeia a assassina de umas das mulheres mais poderosas dessa América! —Fernando fala, ganhando tempo.
 
__ Se ela não quer morrer é só assassinar o papel, assim todos ficamos bem! --Percebi um medo no final de sua fala.
 
__Eu me recuso a assinar esse papel, mesmo que custe a minha vida e toda sua riqueza. Afinal, na cadeia você não vai ter nem um terço do que tem em liberdade.--Toco no seu ponto fraco.

Foi questão de segundos e três seguranças invadiram a sala, dando um tiro no braço de Joana fazendo com que a mesma jogasse a arma no chão. Minha única reação foi me tacar nos braços do meu amigo, sentindo a adrenalina ir embora e eu finalmente me dei conta de que quase perdi a minha vida.

A levam para fora, provavelmente pra delegacia, enquanto me traziam um copo d'água com açúcar. Tomei devagar, sentindo meu corpo ir se acalmando aos poucos.
 
__ Esta melhor?! -- Nando pergunta e apenas concordo--Você precisa sumir do mapa por um tempo! Hoje só foi uma demonstração do que estão disposto a fazer.

__ Para aonde eu vou? --pondero, aceitando que ele está certo. No momento o melhor para a minha segurança é que ninguém saiba onde estou. Não poderei ajudar os NE caso esteja morta.
 
__ Pede ajuda a Homeland, você pode viver lá!! Pelo menos até a poeira abaixar! --mexe em meus cabelos.
 
__ Não posso colocar eles ainda mais em perigo! Tenho muitos inimigos, nem todos são por causa dessa causa que defendo --Nego com a cabeça.
 
__ Você pode mandar um currículo para vê se consegue ser uma das médicas de lá, se passar, lá você fica usando o nome de solteira da sua mãe e te levamos escondida até o mesmo ---aconselhá -- Lá você vai poder viver um pouco da forma que sempre sonhou; sem as pessoas te bajulando por causa de todo dinheiro e poder que possui, enquanto esperamos a poeira aqui fora abaixar.
 
Fernando fica falando toda hora a mesma coisa, batucando na mesma tecla e pelo cansaço acabou me vencendo. Fizemos um currículo onde uso o Moraes da minha mãe que quase ninguém conhece, porque vamos ser sinceras, ela tinha tanto nome e por esse ser o do meio ninguém fez questão de lembrar. E mandamos o currículo, mas eu não tinha nenhuma esperança de ser aceita.
 
É, ele é o único que consegue me vencer pelo cansaço, afinal é ainda mais cabeça dura que eu.

Thunder Where stories live. Discover now