Emboscada

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Agora olho para o fio da lâmina, afiando-o com uma pedra enquanto o fogo crepitante ilumina a noite que me cerca. O meu estômago vazio deixava claro os dias em que não conseguia nem ao menos caçar, meus pensamentos me levam a tempos mais simples onde minha única preocupação era o arado no dia seguinte.

O fogo afasta os insetos, mas atrai as criaturas, bandidos e até mesmo cultistas. Não posso descansar durante a noite e tenho que seguir caminho durante o dia, as viagens longas sem um grupo me deixam à beira da exaustão total e pelos meus cálculos, ainda faltam três dias infernais até a próxima cidade. Já tentei seguir caminho durante a noite, mas a escuridão é um tremendo empecilho. Espero que enquanto afie a minha espada as criaturas, bandidos e cultistas se mantenham afastados.

A noite passou arrastada, e ao primeiro raiar de sol, quando minhas olheiras afundavam de forma gradual ao meu cansaço, passei a seguir caminho desfazendo o meu acampamento provisório.

Meu planejamento atual era seguir por algumas horas antes de tentar caçar algo, segui pela estrada quando meus ouvidos captaram um movimento estranho. Rapidamente segurei a espada em sua bainha e olhei ao redor. Cinco, talvez seis. Não sei quando aconteceu mas estava cercado, quem sabe tenha sido o fogo da noite passada, talvez seguir pela estrada não tenha sido uma boa ideia. Dei um passo em recuo, entretanto uma flecha foi atirada em minha frente, um tiro de aviso, que dizia claramente que recuar não era uma opção.

Os batedores logo se mostraram, eram cinco humanóides, tendo entre eles goblins, humanos, anões, elfos e até mesmo orc's. Dois deles seguravam bestas engatilhadas, mantendo-se se entre os arbustos, os outros três se aproximavam com cautela.

— Viajante — o homem que parecia o líder deu um passo à frente. — Hoje é seu dia de sorte, estou de muito bom humor então façamos o seguinte. Deixe suas coisas no chão e vá embora.

O riso debochado que se formou no rosto daquele humano me deixou tomado por uma raiva descomunal.

— Que tal vocês deixarem suas coisas, virarem e irem embora. Então assim deixarei-os viverem. 

O humano e seus capangas riram. — Veja só, seria ele um tolo, ou um homem de extrema coragem. Não sei se percebeu — virou-se para seus companheiros. — Mas estamos em maior número.

Apertei o cabo de minha espada.

— Tentei lhe dar uma chance, mas você não me deixa escolha — um sorriso monstruoso se formou no rosto daquele homem. — Cadáveres não contam histórias, matem-no homens!

O avanço foi brusco, flechas voaram pelo céu mas me esquivei no último momento, me escondendo entre as árvores. A Orc me alcançou de imediato, me atacando lateralmente com um imenso martelo, aproveitei o balanço de seu corpo para me esquivar enquanto sacava a minha espada desferindo um golpe em seu antebraço, decepando-o. 

Ela gritou, gemendo enquanto ia ao chão. Respirando de forma pesada me arrastei pela folhagem dificultando o trabalho dos arqueiros, tinha que me aproximar deles de alguma forma, mas quando olhei pelas árvores os dois haviam sumido, talvez estivessem se movimentando para algum lugar favorável, talvez tivessem fugido. Minha mente trabalhava de forma rápida em uma situação de vida ou morte. O mato farfalhou e um dos bandidos saltou para fora segurando uma adaga, aparei o ataque que ia em direção a minha garganta, encarando-o de forma penetrante.

— Você é forte, para um idiota — desdenhou.

— Você é inteligente, para um bandido.

O empurrei, olhando para trás no momento em que o humano me desferiu um ataque covarde. Me joguei para o lado observando a situação de longe, brandi minha espada esperando o avanço dos bandidos.

Eles avançaram em conjunto. Esquerda. Direita. Aparei a cimitarra do humano, mas o goblin conseguiu acertar minha perna com a adaga. Movi a espada com maestria, afundando-a no peito do goblin. O sangue escorria pela minha lâmina assim como na ferida de minha perna.

— O que fará agora idiota — o humano balançava a cimitarra entre os dedos. — Você pode ter conseguido neutralizar dois dos meus, mas nem se estivesse em um de seus melhores dias conseguiria me derrotar.

— Você fala demais — arranquei a adaga de minha perna, o sangue escorreu, mas rapidamente estanque-o com minha roupa. 

O humano partiu para ofensiva, sua cimitarra colidiu com minha espada e nossos olhos se cruzaram. Pelo fio da lâmina consegui ver um dos arqueiros a tempo de me desviar do ataque, a flecha passou como o vento atingindo por sorte a minha armadura. Ataquei o humano com uma estocada, mas seus reflexos eram rápidos, com um movimentos de pernas já estava em minhas costas, movimentei minha espada segurando sua cimitarra no ar.

Me afastei pegando cobertura em uma árvore, esquivando de mais uma flecha. O corpo do goblin estava caído em minha frente, peguei sua adaga e arremessei contra o arqueiro, o ataque fez com que sua besta caísse, mas isso não me salvaria por muito tempo. O humano correu em minha direção, desferindo dois ataques, o primeiro atingiu em minha armadura, mas o seguindo pegou meu rosto de raspão. Eu estava lento, a noite mal dormida e a fome atrapalhavam meu raciocínio, respirei profundamente, arrumando minha postura e segurando minha espada com o máximo de força que conseguia. Avancei com um ataque lateral como distração, manobrando a espada de baixo para cima como um rasante, acertando uma parte do rosto só humano.

— Meu lindo rosto!! — Ele segurou sua face ensanguentada. — Como ousa!

Seus ataques agora se assemelham ao de um animal, apenas movimentos desconexos e perigosos que podem ser lidos como as partituras de uma música bem ruim. Me esquivei para o lado, seu ataque passou diretamente e o contra-ataquei com um chute em suas costas. Seu corpo cambaleou em direção ao chão e aproveitei o embalo para me aproximar do arqueiro usando as árvores como proteção, saltei do arbusto com intenção assassina. Cortando o peito do arqueiro com um ataque rasante, meus olhos se movimentam de um lado para o outro, faltava um. Talvez tenha fugido. Um movimento, desferi um golpe, mas era apenas uma lebre que fugiu de meu ataque com facilidade.

Bandidos são covardes, não se pode confiar. Arrastei o arqueiro até o líder que ainda estava em negação segurando seu rosto, notando minha aproximação ele tentou pegar sua cimitarra e resistir, porém fui mais rápido pisando na cimitarra com força.

— Seu maldito!

Ele se levantou para me atacar, porém apenas me movi para o lado acertando sua cabeça com o cabo da espada. Precisava dele vivo.

Amarrando o líder e o arqueiro em uma árvore, desarmei-os e coletei os equipamentos dos demais. Isso me renderia um bom dinheiro já que com eles não consegui achar nada mais do que algumas peças de cobre.

Tirei a bainha de minha cintura, sentando de frente para os bandidos esperando que acordassem. Apoiei a espada embainhada em meu ombro, e semicerrei o olhar.

Caminhos de Atade: A odisseia do guerreiroOnde histórias criam vida. Descubra agora