Mais uma vez engulo um seco, preciso continuar falando. Levanto meu olhar e fixo atrás da câmera, dessa vez não em Phil, mas em Arizona, que com os lábios esboça um "continua".

– Acho que muito se instigou sobre eu ser uma pessoa agressiva e bem, segundo minha terapeuta, é normal termos excessos de raivas, mas não é normal acertar uma bola de tênis no rosto de outra pessoa – continuo minha fala, ainda com os olhos fixos na morena – o pilar central do esporte é concentração e foco, é ser exemplo para os outros, principalmente para as crianças que acompanham, seja qual for o esporte.

Penso em Hunter e como ele deve se influenciar nos jogadores de basquete do Atlanta Hawks. Sei que são poucas crianças que assistem tênis, mas sempre tem uma e não poderia passar isso para essa criança.

– E o que fiz com Cameron, vai totalmente contra o que isso prega e sinto que falhei como tenista – instintivamente levo minha mão para meu cabelo – gostaria de poder pedir desculpas pessoalmente para Cameron, porque ele merece isso após tudo que fez por mim e por minha família, ainda não tive essa oportunidade, pois não é algo fácil de tentar passar por cima. Mas fica aqui minhas sinceras desculpas para Cameron, sua família que sempre me acolheu bem e para todas as pessoas que amam e acompanham o tênis.

Termino de responder, indo totalmente contra o que havia combinado de responder com York. Quando levo meus olhos até meu novo agente, ele parece satisfeito com o que falei. Só que o que mais me chama a atenção é como a irmã dele está me olhando, gostei desse olhar. Passamos a semana inteira nesse negócio de curtiu as coisas um do outro, não tive coragem de mandar mensagem e acho que ela também não.

– Você citou que começou a fazer terapia, foi todo essa situação que te levou a começar? – Carlson indaga e sorrio.

– Em partes sim, mas o que me levou a essa decisão foi um amiguinho meu, que assim como a situação que protagonizei no aberto da Austrália, ele também tem alguns excessos de raiva – solto uma pequena gargalhada ao lembrar de Hunter – e ele me motivou a procurar uma terapeuta, algo que já devia ter feito há muito tempo. Terapia e sessões de psicóloga são coisas indispensáveis na vida de qualquer pessoa.

Carlson parece satisfeito com essa resposta, sinto meu corpo ficar mais tranquilo e não parece ser o fim do mundo essa entrevista.

– Você começou muito jovem no profissional, acha que não ter maturidade para aquele momento suficiente influenciou quem você é hoje? – nossa, essa é uma pergunta muito complexa.

– Eu vim da parte pobre da cidade, com 17 anos já sabia muito bem que precisava dar uma boa vida para minha família e só conseguiria isso tendo disciplina nos treinos para então ganhar campeonatos – lembro da forma como iniciei nesse mundo e como parece tão distante do momento que vivo – holofotes nunca me chamaram a atenção, ser famoso nunca foi meu foco, eu só queria fazer o que amava e ganhar dinheiro para dar uma boa vida para minha família. Acho que aos 17 anos eu era mais maduro do que sou hoje, eu tinha objetivos e já os alcancei.

– E sua família, como lidaram com o que houve no aberto da Austrália? – o entrevistador pergunta e mordo meu lábio inferior.

– Minha família é muito grata por tudo que Cameron fez por nós, não é algo fácil de se lidar, eles ficaram muito decepcionados comigo, bem, eu fiquei decepcionado comigo mesmo – acho que minha mãe jamais irá me perdoar, mas tudo bem, o que importa para ela é ter dinheiro na sua conta bancária todo mês.

Lucky loser - livro 1 da trilogia Lucky Potter's Where stories live. Discover now