45 - Henry???

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Estou sentada no tapete da sala de estar enquanto tento me concentrar na série de comédia romântica na tela do meu computador. Pego na taça de vinho e bebo um pouco, sentindo a quentura descer goela abaixo junto com minhas lágrimas que insistem em cair nessa noite solitária e cansativa.

Elisa aparece na sala de estar usando o seu vestido vermelho justo acima do joelho, seu cabelo curto levemente prendido e a maquiagem pesada. Ela me encara de cima abaixo como se estivesse me avaliando, suas mãos vão de encontro com a sua cintura e ela franze a sombrancelha antes de falar

– você não vai trabalhar amanhã!? — pergunta confusa

– eu falei que estava doente — bebo um gole do meu vinho — ...pelo resto da minha vida — ela faz a típica cara de pena

– já sei o que fazer — ela caminha até a geladeira e tira de dentro dela um pote de sorvete — é só comer mais sorvete — me entrega junto com a talher. Esboço um leve sorriso

– você salvou a minha vida — pego na talher e a levo diretamente até a boca sentindo uma mistura de sabor, de qualquer outra coisa menos sorvete — que horror, tem gosto de plástico

– sem transgénico, piodinamico e sem lactose meu amor

– porquê alguém comeria isso?

– é teoria, você mistura algo que você gosta com algo que precisa — ela pega no celular como se estivesse esperando por alguém

– você vai sair?

– eu vou. Serão apenas algumas horinhas, tenta não cometer suicídio tá? O Malcom não é o único bonitão, gostoso e milionário interessado por você — ela pisca o olho

– belas palavras de conforto Elisa

– de nada, tchauzinho — ela manda um beijo no ar e sai porta afora. Engulo em seco e decido subir as escadas para tentar dormir, já tem três dias que eu decidi sair da casa do Malcom, agradeço a minha mãe por ter tirado algum tempo de seu dia para poder vir buscar a Sierra, não quero que ela me veja tão deprimida e que more na casa de minha amiga de favor.

Não vou negar...eu estou imensamente triste e destruída, é como se tivessem arrancado um pedaço de mim, e eu só quero enfiar a minha cabeça dentro de um buraco e me esconder do mundo. Tive que mentir para o meu chefe que estou tendo alguns sintomas devido a minha Cesária só para não ter que cruzar com o braço direito do meu chefe vulgo pai da minha filha, vulgo meu ex namorado. Sinto que não estou totalmente pronta para vê lo e perceber o tanto que ele está bem sem mim, enquanto eu estou aqui, me sentindo a mulher mais burra do planeta terra por achar que alguém como ele poderia se interessar por alguém como eu.

Eu esperei que ele viesse a trás de mim, toda vez que escuto uma notificação no meu celular ficou torcendo para que seja uma mensagem dele pedindo pra conversar e resolver tudo, rezei para que ele batesse a porta da Elisa e me levasse de volta pra casa. Mas a cada dia que passa eu sinto que eu devo mesmo aceitar a proposta do Henry. Não só eu estaria realizando o meu sonho como também eu não seria obrigada a trabalhar com ele.

Por outra, existe a Sierra, eu não posso simplesmente afastar a filha do pai. Eu posso duvidar do amor dele por mim mas eu sei o tanto que Malcom ama Sierra, mais do que a si próprio. E eu não quero ser a mãe malvada que afasta o pai da filha pelo simples facto de ter colocado os seus sentimentos a frente.
Eu preciso ser a adulta desta história e conversar pacificamente com o Malcom sobre tudo isso, preciso deixar o meu orgulho de lado, caso contrário, tenho certeza que acabaremos diante de um tribunal brigando sobre a guarda dela.

Sem me aperceber acabo pegando no sono após ter pensando nas diversas formas de entrar em contato com ele sem eu parecer uma desesperada.

Acordo no meio da noite sentindo minha boca seca e com muita cede. Desço as escadas e caminho lentamente até a cozinhar, quando derrepente começo a escutar barulho de garrafas. Pego na frigideira por cima do balcão e quando estou pronta para acertar no homem que está apenas de cueca fuxicando a geleira, tomo um susto ao me deparar com Henry...meu chefe

– Henry?

– desculpe eu assustei você? Eu só vim pegar uma cerveja — ele sorri envergonhado — você quer uma cerveja?

– não — abano a cabeça negativamente sem deixar de me sentir completamente constrangida com o fato de ele estar semi nu na minha frente

– e como é que você está?

– bem...

– pode ficar o tempo que quiser em casa, você sabe né? Eu tenho uma grande pressão sobre a saúde mental dos meus funcionários. Fiquei sabendo do término entre você e o meu sobrinho e confesso que fiquei muito triste

– é...é — mordo meu lábio inferior — e a Charlote?

– bom...a Charlote e eu terminamos. Ela ganhou uma oferta para trabalhar na Espanha e terminou comigo porque não queria viver um relacionamento a distância— ele apruma os lábios — Bom... já pensou sobre a oferta?

– será que podemos falar sobre isso depois?

– está na hora de subir tigrão — Elisa para na porta da cozinha apenas de pijama transparente e curto

– estou indo tigres...aah — ele olha pra mim com receio e constrangimento — Elisa, já vou indo — sorri tímido e passa por ela indo em direção ao quarto. Cruzo os braços sem deixar de demonstrar decepção no meu olhar

– é sério isso Elisa — tento não parecer rude mas toda essa situação me deixou com náuseas — eu trabalho para aquele cara — não paro de pensar nos tantos homens que a Elisa já pegou e descartou como se não fossem nada.

– loucura não — fala com empolgação — eu lá tenho culpa de você ter um chefe tão gostoso?...e a gente foi na ópera mais cedo cê acredita?

– não consigo acreditar, você fala que opera parecem gatos dentro de um abrigo

– os nossos gostos podem mudar, e ele despertou isso em mim. Acho que estou apaixonada

– ele poderia ser teu pai

– olha...mas não é! É o teu chefe — ela cutuca o meu nariz e sai correndo para o quarto. Respiro em frustração e volto a subir perdendo toda a vontade que tinha de beber água.

Me jogo novamente na cama e no momento que pego no celular, vejo a mensagem da pessoa pela qual eu achei que nunca mais receberia. Meu coração bate freneticamente e eu abro

       – oi! Eu sei que é meio tarde, são duas horas da madrugada e é meio assustador ficar acordado a essa hora e é mais assustador ainda receber uma mensagem minha a essa hora. Bom.. acho que estou falando demais, eu costumo falar quando estou nervoso e não sei o que dizer. Eu sei que demorei um pouco pra te escrever, mas eu queria que nós os dois pensássemos direito sobre o que queremos para não tomar decisões com a cabeça quente. E bom...foi tempo suficiente para perceber que precisamos conversar, como adultos que somos. Eu não quero perder você Julie, vamos sentar e resolver tudo. Eu sei que você quer aceitar a proposta e viajar pra Boston, eu não posso te impedir, se for possível eu aceito viver longe da Sierra, poderia facilmente visita lá. Mas...antes de ir, por favor escuta o que tenho a falar e vem se encontrar comigo amanhã

Meu peito começa a bater rapidamente e sinto uma enorme vontade chorar. Decido responder a sua mensagem.

oi. Boa noite, claro que a gente pode...

– isso vai parecer meio desesperada. — apago a mensagem e volto a escrever outra — ok! Te vejo lá — essa também não, seco demais — obrigada por me escrever, eu também achei que deveríamos conversar pois existe um ser no meio de tudo isso. Te encontro amanhã então — clico em enviar e me jogo na cama e fecho os olhos ansiosa por amanhã.

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