Lara era encantadora, fascinante. Era incrível como sua energia o atraía como um ímã super poderoso que não deixava seus olhos desencontrarem os movimentos de sua cintura, de suas mãos erguidas, seus pés batendo no chão. Para Max a Lara era poesia, não era qualquer poesia, mas aquelas em que você se apaixona junto do autor.

Sentiu-a dar um selinho em sua boca, a única coisa que conseguia fazer era sorrir. Sorrir era o que ele andava fazendo toda vez que pensava nela.

- Ei, Larabelle. - Ele chegou mais perto - Vou pegar uma bebida, quer também?

- Acho que você não deveria beber, está dirigindo? - Disse um pouco alto por conta da música.

- Não dá nada! - Deu de ombros enquanto ria.

Lara lembrou que a Lei Seca(1) só foi aprovada mais de dez anos depois, no início dos anos 2000.

- Pode ser o que você for beber. - Sorriu continuando a dançar.

Após vê-lo sair do meio de uma pequena multidão, sentiu alguém segurar sua bunda, assim que virou era um homem que nunca tinha visto na vida.

- O que é isso? - Colocou as mãos na cintura irada.

- Calma boneca, vamos conversar. - Ele estava completamente bêbado.

Ao perceber o que estava acontecendo, Sérgio e Max foram rapidamente até Lara.

- O que aconteceu? - Max perguntou.

- Esse merda apertou minha bunda!

- Vai se foder!

Sérgio apareceu do nada dando um soco no assediador, logo em seguida levou alguns socos mas revidou todos. Max queria participar, socar quem havia tocado em Lara, mas percebeu que era ela quem precisava de um abraço.

O anfitrião segurou o braço do homem e o jogou em direção a porta.

- Nunca mais apareça aqui! - Gritou enquanto erguia as mangas e colocava um cigarro na boca - Está tudo bem Lara?

Sérgio sentia algo diferente por Lara, sentia a necessidade de protegê-la, um sentimento que nunca havia sentido antes. Óbvio que sabemos o motivos, ele se tornaria pai dela mas para ele não fazia sentido algum.

- Está sim pa... Sérgio. - Sorriu empática ainda abraçando Max.

- Cara o seu rosto está terrível. - O parceiro da moça comentou enquanto olhava-o preocupado.

- Pode deixar que eu faço uma bolsa de gelo pra você. - Lara soltou-se do abraço do rapaz e sorriu olhando-o - Já volto.

- Vai lá, enquanto isso vou procurar o pessoal. - Max deu-a um beijo na testa e saiu assim que os viu caminhando em direção a cozinha.

Enquanto Lara abria a geladeira Sérgio estava encostado olhando-a.

- Então você e Max estão juntos?

- Quase isso. - deixou a bolsa vazia encima da mesa - Estamos saindo.

- Você acha que as coisas vão ficar sérias? - Observou-a colocar o gelo dentro da bolsa.

- As coisas não podem ficar sérias, vou embora em algumas semanas. Não se mexe. - Colocou a bolsa gelada em contato com o machucado.

- Ai... - Fez uma feição de dor - Vai ir embora pra onde?

- Minha casa. Olha pai, se você não parar de se mexer eu não vou conseguir te ajudar! - Disse irritada.

Lara falou sem pensar, era tarde demais já havia falado demais. Sérgio olhava-a confuso, tinha várias perguntas em mente mas a principal era "por que ela me chamou de pai?".

- Pai? - Riu.

- É uma gíria da onde eu venho. - Tentou contornar a situação.

- Então eu te chamo de filha? - Fez novamente uma expressão de dor por conta do machucado - Vai com calma porra.

- Desculpa! - Deixou a bolsa na mão dele enquanto pegava o anti-inflamatório - Você me chama de filha só se quiser.

- Vou te chamar de filha então. - Os dois gargalharam.

Lara queria entender onde seu pai havia se perdido para se tornar aquele homem quase frio e distante que conhecia. Onde estava esse jovem cheio de vida, dono das melhores festas e da risada mais engraçada que já havia escutado? Onde estava esse homem que via a vida de forma leve?

- Prontinho, sei que ardeu um pouco mas vai passar.

- Você tem jeito para ser médica, já pensou nisso? - Olhou-a enquanto pressionava o gelo no rosto.

- Já, minha família é de médicos sempre tive a pequena pressão de me tornar uma mas não cedi! - Apoiou-se na pia enquanto o olhava.

- Eu sei como é, me tornei médico por conta do meu pai também. - Deu de ombros - Mas até que eu gostei.

- Fico feliz. - Sorriu desencostando-se - Vou atrás do Max e dos meus amigos para aproveitar a festa maravilhosa que você está dando.

- Vai lá! A gente se esbarra qualquer dia desses. - Acenou vendo-a sair da cozinha.

***

- Gente, que horas são? - Lara perguntou após perceber que já era dia.

- Puta que pariu são quase oito da manhã! - Vanessa respondeu ao ver o horário em seu relógio de pulso.

- Caralho, que larica da porra. - Felipe disse enquanto sentava-se no sofá - Ei, Max! Bora comer um cachorro quente?

- Já é! - Deixou a latinha de cerveja encima de uma mesa aleatória.

- Mas antes vamos fazer um brinde ao futuro autor Max Garcia, que vai ser best-seller(2) no mundo inteiro! - Ergueu um copo de shot de tequila.

- Só não pode vender meu autógrafo. - Ele disse rindo enquanto brindavam.

Os quatro foram juntos até a barraca de cachorro quente mais próxima que encontraram, pediram seus lanches e juntos, sentados na calçada, comeram enquanto davam risada dos acontecimentos daquela noite que ficaria marcada para sempre na mente de Lara Almeida.

(1)Lei Seca: A lei seca foi criada em 2008 veio a norma que passou a ser conhecida como lei seca, que adotou a tolerância zero ao álcool na direção e criminalizou a infração de dirigir embriagado – com pena de 3 a seis meses de prisão.
(2)Best-Seller: Livro bem mais vendido do mês ou do ano.

1985Where stories live. Discover now