- E aí Brunão, não deveria estar estudando? - Disse deixando sua bolsa ao lado a da amiga.

- Estamos estudando.

- Estudando maconha né seu idiota? - A irmã mais nova disse enquanto entrava na sala.

- Pega leve comigo estou tendo uma semana e tanto. - Encostou as costas no sofá - Deixaram um pacote pra você Lara.

- Valeu. - Pegou o pacote e caminhou até a porta de seu quarto - Vem Sofia!

Ao entrarem no quarto da moça ela fechou a porta enquanto via a amiga se jogar na cama. Sofia se sentia em casa, já tinha dormido naquela cama, usado aquelas roupas e havia uma conexão sincera entre as duas, Lara não podia pedir por uma amiga melhor.

- Eu simplesmente não tenho mais paciência para o Bruno. - Disse enquanto abria o pacote.

- Coitado, deve ser a maior barra a faculdade de medicina.

- Qual é? Vai defender meu irmão também? - Encostou na porta do guarda roupa.

- Não Lala, não vou defender seu irmão. - Deu de ombro enquanto tirava seus sapatos e decidiu mudar de assunto - O que tem dentro deste pacote?

- Não sei. - Abriu o papel kraft e examinou o presente confusa - É uma fita cassete.

- Uma fita cassete? Não é você que tem um tocador dessa coisa?

- Tenho... "Faça bom uso, não precisa agradecer". - Leu enquanto olhava para a fita com uma cara estranha - Não tem o nome de quem me deu.

- Que estranho. - A amiga disse enquanto pegava um chocolate que estava dentro de uma gaveta - Hm o meu favorito.

***

Como todas as noites a família de Lara se reunia para um jantar juntos, era uma maneira deles fingirem que eram uma família unida.

- Como passaram o dia hoje? - Carolina perguntou para os filhos sem tirar os olhos do prato fingindo se importar com a resposta que viria.

- Estudei o dia inteiro. - Bruno mentiu.

- Eu fiz um trabalho da faculdade com a Sofia hoje.

- Sabe pai, hoje eu recebi a nota da minha prova de Farmacologia, tirei oito.

- Parabéns garoto! - Olhou-o com um sorriso orgulhoso no rosto - E você Lara? Quanto tirou em sua última prova?

- Tirei nove. - Arrumou sua postura orgulhosa.

- Somente nove? Deveria ter tirado um dez. - A mãe comentou.

Lara deixou os talheres no prato irritada, já estava de saco cheio.

- Mas eu tirei mais que o Bruno e vocês só ficam orgulhosos dele! - Limpou sua boca e colocou o guardanapo encima da mesa.

- Farmacologia é a matéria mais difícil do curso de medicina querida. - O pai respondeu.

- E a senhorita faz um curso sobre cinema, tem a obrigação tirar notas máximas em todas as matérias. Tenho receio de que não encontre trabalho após esse curso. - Completou a mãe.

Bruno não precisava ser perfeito. Bruno não precisava apenas sorrir e acenar. Bruno podia fumar maconha na sala de casa sem problema algum. Bruno não precisava ser bom em nada. Bruno tinha toda a atenção de mamãe e papai. Bruno tem tudo.

Em irritação, Lara levantou-se rapidamente.

- Um dia eu ainda irei de ganhar um oscar, vocês verão. - Virou de costas e caminhou em direção ao quarto.

Bruno sentia-se mal com toda aquela situação, amava sua irmãzinha mas não podia fazer nada, uma reclamação e os seus pais paravam de pagar sua faculdade.

- Querida acho que você foi muito deselegante com a nossa filha. - Sérgio posicionou os talheres mostrando que estava satisfeito.

- Você sabe que cinema não irá levá-la a lugar algum, Sérgio. - Negou com a cabeça - Nosso filho nos trará muito orgulho.

- Mas a Lara também trará orgulho, tenho certeza. - Bruno falou baixo com medo dos pais.

Lara fechou a porta de seu quarto, jogou-se na cama e com a cara no travesseiro gritou aniquilando toda a raiva que tinha.

Levantou-se e pegou a nova fita que tinha ganho, colocou em seu walkman, colocou os fones e deu play após fechar os olhos. Gostava de escutar música quando estava brava.

Sentiu-se em um lugar totalmente diferente de seu quarto, sentiu a luz do Sol em seu rosto. "Mas é noite" pensou. Devagar abriu os olhos e viu-se em um lugar totalmente diferente do seu quarto.

- Que porra é essa? - Sussurrou enquanto olhava ao redor vendo alguns penteados super estranhos.

Lara tirou o fone depois de dar pause na música, caminhou até uma vitrine onde tinham várias televisões de tubo.

- Dezoito de Janeiro de... Não é possível. - Coçou a cabeça - 1985.

Ela colocou os fones novamente enquanto dava play e fechava os olhos novamente. Assim que abriu-os estava novamente em seu quarto.

1985Where stories live. Discover now