Invasão de domicílio

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Neil não sabia como ainda conseguia andar, ele já não sentia mais suas pernas e o sangue que encharcava sua calça agora pingava na calçada coberta de neve.

Ele apenas torcia para que o rastro escarlate não atraísse os capangas de seu pai.

As casas enfileiradas em ambos os lados eram tão diferentes umas das outras que era difícil imaginar quanto custava um aluguel naquele bairro. Provavelmente algo entre 200 e 9.000 dólares.

Talvez a hemorragia esteja se tornando um problema, já que era para ele estar mais preocupado com sua saúde do que com o preço de aluguéis na região.

Se ele estivesse mais atento a si mesmo teria percebido antes que a respiração falhando e a tremedeira persistente não era apenas por causa do frio extremo.

No fundo ele sabia que não tinha muito tempo. Se não tomasse uma decisão, logo suas pernas iriam ceder ao cansaço e ele cairia involuntariamente em um sono que talvez nunca acordasse. Se parasse de correr, não haveria chance de sobreviver, ainda mais agora que sua mãe não estava mais ali para arrastá-lo quando não suportasse mais andar.

O pensamento normalmente viria acompanhado de uma onda de pânico, mas por alguma razão não foi o que aconteceu. O medo estava guardado no fundo de sua mente enquanto decidia em que casa era menos provável de ser pego.

Ao seu redor havia quatro residências próximas, e embora fossem de tamanhos e formatos diferentes, elas tinham algumas semelhanças: todas eram feitas de madeira, possuíam grandes janelas e tinham chaminé de tijolos em seus telhados.

Não que isso fosse relevante para a escolha de seu futuro esconderijo, ele só precisava se atentar a detalhes relevantes, assim como sua mãe vinha lhe ensinando.

A casa número um não tinha tanta neve na entrada, visivelmente alguém havia limpado poucas horas atrás. A número dois embora acumulasse uma camada espessa branca, também estava sendo habitada; a fumaça saindo da chaminé comprovava isso. A três era mais óbvia, o carro que estava estacionado do lado de fora, sem neve no capô, só podia significar que o motor ainda estava quente.

E então havia a última casa, sem veículos ou fumaça, a neve estava tão grossa em sua frente que parecia não ser tirada a semanas. As janelas tinham camadas finas de gelo, o que significava que o termostato lá dentro estava desligado. Aquela era sua melhor opção.

Foram 20 passos até alcançar o gramado em sua frente e mais 7 até chegar na janela lateral. A cada movimento a bolsa que carregava parecia mais pesada e o alívio prévio de saber que logo poderia cuidar do seu ferimento para descansar era uma das únicas coisas que o mantinham em pé.

Forçando o vidro pra cima ficou bem claro que ele não ia se mover por bem, quebrá-lo chamaria muita atenção e como de praxe, não havia uma fechadura do lado de fora da janela. Resmungando baixinho, a criança se moveu enquanto arrastava os pés até a parte de trás, torcendo para ter uma porta ali.

Neil esperava não estar chamando muita atenção, ele não achava que dessa vez conseguiria fugir da polícia.

Mais 12 passos, somando 39 no total, finalmente alcançou a fechadura da porta traseira. No bolso de trás, o garoto tirou dois palitos longos de metal. A ponta era curvada de uma maneira específica para facilitar o seu trabalho e mesmo assim ele demorou bem mais do que gostaria. Se fosse para culpar algo, Neil diria que era o frio que fazia suas mãos tremerem e errar tanto algo simples. Se Mary estivesse ali, ele já teria levado no mínimo um tapa pela demora.

Não demorou até um estalo baixo e familiar vir da porta. De forma quase automática, os ombros tensos do garoto relaxaram. Apenas mais alguns minutos e ele poderia tirar um cochilo merecido.

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