Capítulo 8 - A Quimera, o Grifo e os passarinhos

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— Eu já volto. – disse ele, se levantando sem esperar pela resposta dos outros.

Por um instante, todos pensaram que ele ia de encontro a Yor, mas ele foi para o outro lado. Os amigos se entreolharam entre si, nenhum deles nunca entendera direito aquela conexão estranha que eles tinham. Frank estava preocupado, Loid não comera nada naquele dia, falara muito pouco e estava mais sério que de costume. Ele estava se levantando para segui-lo quando sentiu a manga de seu uniforme ser puxada, o impedindo, e seguindo o olhar dos outros, ele viu Yor ir na mesma direção que Loid. O sinal batera e todos os alunos pegaram suas coisas para voltar a assistir as aulas, inclusive eles, apesar de relutantes.

Loid estava sentado em um dos bancos de concreto sem encosto numa parte afastada do pátio, a sua frente havia uma árvore, as suas costas, um corredor com amplos arcos neogóticos. Não havia mais ninguém no pátio, e ele estava protegido de olhares curiosos pelos arbustos altos que precisavam ser aparados.

Ele não sentiu passos, nem o olhar de Yor sobre ele. Era sempre assim, aquilo sempre fora o que mais o surpreendera. Ele sentiu a presença de Yor quando ela já estava bem ao seu lado, sentando-se na posição contrária a ele, ficando de frente para o corredor. Ele se aproximou, deixando que seu ombro tocasse o ombro dela, e olhou fixamente naquelas peculiares írises castanho-avermelhadas.

Mas não conseguiu olhá-la nos olhos por muito tempo, pois viu aquele olhar bondoso se encher de preocupação e pena. Ele desviou o rosto, e sentiu todos os nervos à flor da pele quando ela pegou na mão dele.

— Loid. – ela chamou baixinho, com sua voz doce.

Ela já havia entendido. Yor roçou o polegar pelo pulso dele, e sentiu sua pulsação acelerada. Com a outra mão ela acariciou o braço dele, que derrotado, deitou a cabeça no ombro da garota. Ela colocou a bochecha sobre os cabelos dourados e macios de Loid.

— Me conte o que aconteceu. – sussurrou ela, continuando com o carinho.

Ele levantou a cabeça, e ela sabia que ele iria embora sem dizer nada, como acontecia às vezes. Mas Yor se ajeitou melhor no banco, ficando quase de frente para ele e o abraçou. Loid ficou estático, ele sempre ficava assim quando Yor resolvia demostrar afeto daquela forma – principalmente quando não havia ninguém olhando –, e ele havia perdido o costume de fazer o mesmo havia algum tempo.

Mas ele sempre abria uma exceção para Yor.

Ele a abraçou de volta, relutante a princípio, porque sabia que estava prestes a desmoronar, e depois com mais força, a apertando contra seu corpo e escondendo o rosto no pescoço e no ombro dela, derrotado. Yor sentiu algumas lágrimas quentes molharem seu colarinho, e segurou Loid com mais força contra si.

Loid havia perdido a mãe há um ano e desde então ele apenas fingia ser o mesmo.

A mãe era tudo para o garoto, sempre o defendia, sempre suportou tudo por ele, sempre lhe deu amor e o guiou para se tornar um homem digno e uma boa pessoa. Às vezes a saudade doía, mas o pior de tudo era viver com o que havia restado: seu pai.

O pai de Loid Forger era um militar que lutara na linha de frente na guerra por muito tempo como soldado raso até ser promovido a sargento. Ele até podia ter bons princípios a respeito da guerra, como uma coisa abominável que não deveria ser almejada nem reverenciada, mas se esquecera de ter bons princípios com as pessoas ao seu redor e principalmente com sua família.

Embora Loid não dissesse, era claro para a Yor que a mulher já havia apanhado do homem, assim como o próprio Loid, que não conseguia evitar deixar escapar vez ou outra sobre como amava a mãe, sobre se sentir seguro em seus braços, e sobre o medo – que ela imaginava ser ele encolhido no quarto, trancado para evitar apanhar, enquanto ouvia o homem discutir e desafiar a mulher, sempre temendo ver a mãe voltar para ele com uma marca vermelha que se tornaria roxa pela manhã.

Amendoins, trovões, ovelhas e outros contosOnde as histórias ganham vida. Descobre agora