— Aonde ela está? — pergunto. — A desembargadora?

O secretário pareceu olhar-me pela primeira vez, acompanhado de um olhar que dizia que eu tinha feito a pergunta mais boba do mundo. Secamente, respondeu:

— Na cobertura.

— Ôh. — Ergo instintivamente as sobrancelhas.

               Olho para a porta mais uma vez e penso em provar o drink do Oli, mas a presença dele se torna tão desconfortante quanto a ideia de perambular por aí desacompanhada.

— Quer que eu vá atrás dele? — Apoio nossos copos na banqueta à minha frente.

— Por favor. — responde o secretário.

                 Após sair do salão de festa, entro no corredor sentido ao elevador oficial que dá acesso à ala da Casa Chefe. Mesmo me conhecendo, os seguranças me barram e só me liberam quando apresento minha credencial. Nela, sou identificada como parceira do Oli e isso me dá algumas mordomias aqui dentro — o que deveria me animar para um noivado, mas só consigo enxergar o ângulo onde a coisa toda acaba ficando um pouco mais estreita quando eu deixar de ser sua parceira e me tornar sua esposa. Terei não só privilégio como restrições.

              Subo acompanhada apenas de mais um oficial dentro do elevador grande o bastante para acomodar mais de dez pessoas. Diferente dos militares que faziam a segurança do salão de festa, esse está padronizado de azul royal com boinas e máscaras cobrindo do busto até o dorso do nariz. Eles fazem parte da segurança pessoal da desembargadora e do governador.

               Quando paramos e a porta se abriu, o corredor inteiro estava em silêncio e se não fosse pelos seguranças que faziam a escolta naquele perímetro eu me sentiria intimidada a permanecer no elevador. Segurei a lateral do meu vestido e caminhei confiante até a única e última porta, apresentando mais uma vez a minha credencial ao sentinela. A casa de Oliver estava atrás dessa porta, o lugar onde ele cresceu.

               Quando entro, tento me lembrar do caminho até sua suíte. Oli preza muito por sua privacidade, na maioria das vezes é sempre ele quem frequenta o meu apartamento. Posso contar nos dedos de uma mão quantas vezes vim até sua casa e agora consigo compreendê-lo. Lá, é apenas eu, ele e a Rosa. Perdi as contas de quantos rostos tive que olhar até chegar aqui.

               Paro em frente a porta e no momento em que a abro percebo o ambiente vazio. Apenas um par de sapatos soltos próximo a porta do banheiro, para onde o segui chamando-o.

               Oliver estava caído, desfalecido no chão e sobre ele um indivíduo coberto dos pés a cabeça de roupas pretas. Antes de notar a minha presença, a pessoa segurava nas mãos um scanner que sobrevoava o rosto de Oliver. Meu corpo entrou em alerta assim que corri de volta a porta e acionei para que o meu relógio contactasse a segurança, mas não o fez.

— Rose, chame a segurança. — repito para o relógio que apenas treme como se tivesse entrado em curto.

— Bloqueadores, meu bem. Nem pense em gritar. — disse o homem. Suas mãos se fechavam fortemente em minha cintura, puxando-me para cima da cama. Meus olhos enchem-se de lágrimas.

— Quem te mandou aqui? Quer dinheiro? Joias? Leve o que quiser.

              O barulho de um riso escapou de sua touca.

— Obrigada pelas sugestões, mas hoje eu vim em busca, unicamente disso aqui. — Os dedos enluvados dele deslizaram pela lateral do meu pescoço, seguindo pela clavícula, a região oca na minha traqueia e parando no pingente do meu colar.

Código AbstrusoWhere stories live. Discover now