Anna : Eu não fui porque eu já passei, era matéria pra quem ficou de recuperação, e ai...

Jp : Não me enrola! -Falou estressado. -Eu já tô cansado desse teu impulso, essa sua mania de querer decidir os próprios passos, como se soubesse o que é melhor pra sua vida. 

Anna : Eu fui no ensaio da Mangueira, desculpa. -Murmurei baixo, abaixando a cabeça. -Mas eu não fui no inglês porque eu já passei, pai. Se fosse uma aula séria eu com certeza não deixaria de ir…

Jp : Você não valoriza absolutamente nada do que eu faço por você, Anna Laura. Todo o meu esforço, você faz questão de jogar fora. -Meus olhos se encheram de lágrimas, pelo tom grave da voz dele. -Essas suas atitudes me aborrecem. 

Anna : O senhor sabe que isso é mentira, pai. Pode falar qualquer coisa, menos que eu não valorizo o que faz por mim…pena que não percebe isso, né? Tá ocupado demais vangloriando o Benício. Se estivesse na minha apresentação do inglês na semana passada, ou na reunião do colégio para pegar as minhas notas, saberia disso. 

Jp : Tá de castigo pelo restante do mês, do colégio pra casa. -Confirmei com a cabeça e dei as costas, indo direto para o meu quarto. 

Fechei a porta, e ouvi murmurinho da minha mãe conversando com ele na sala. Joguei a minha mochila em qualquer canto e tirei a minha roupa indo direto para o banheiro tomar o meu banho e lavar o cabelo. 

Coloquei uma blusa que batia na coxa e um shorts de academia preto, confortável pra ficar em casa, liguei a minha TV e me joguei na cama, pegando o meu celular. 

Victória : Tá podendo falar? -Perguntou pela fresta da porta e eu segui o meu olhar pra ela, que terminou de entrar, sentando na ponta da cama. -Ouvi você e o seu pai…você também procura, né?

Anna Laura : Não avisei porque ele não deixaria eu ir, a senhora sabe. Entendo o castigo e estou tranquila, até porque eu menti e tinha noção do que poderia acontecer caso ele descobrisse. Mas falar que eu não valorizo os esforços dele? Nossa, a senhora sabe o quanto eu me esforço pra tudo, só pra receber uma validação dele, pra dar orgulho. E eu não me arrependo também, fui, aproveitei e faria outra vez. -Ela me repreendeu com o olhar. -Detesto me sentir presa, por isso eu fujo. -Falei por fim, respirando fundo. 

Victória : Mas você também precisa entender que só tem dezesseis anos, Anna Laura. Tudo no seu tempo. -Eu concordei pra encerrar logo o assunto e ela me beijou antes de sair do quarto. 

Meu celular começou a vibrar e eu vi cinco ligações perdidas do Rafael, abrir a mensagem e puxei mais a coberta pra cima de mim. 

Mensagens

Rafael : gata, tá podendo falar? 

Não

Rafael : Ih, qual foi? 
Tá chapando? 
Desce ai, quero te ver. 

Não posso, estou de castigo. 

KKKKKKKKKKKKKKK caô. 
trouxe um lanche pra vc, anda logo, tenho entrega pra fazer. 

Marca dez. 

Mensagens 

Calcei o meu chinelo e peguei a minha chave, os meus pais estavam sentados na sala assistindo televisão e eu dei a volta pra chegar até a porta principal. 

Anna : Só vou descer pra pegar o meu lanche. -Murmurei e fechei, passando a chave. Selecionei o térreo no elevador e o seu Jorge estava na portaria. -Pode abrir, é pra mim. 

Sorri agradecendo e atravessei a rua procurando pelo Rafa. Assustei com uma mão me puxando pelo braço e era ele, me levando para esquina onde a moto estava.

Rafael : De castigo por que, garota? -Eu cruzei os braços, fechando o rosto e ele soltou uma risada. -Deixa eu adivinhar? Lance com o teu pai?

Anna : É, ele descobriu que eu matei aula. -Garoto logo começou a me encarar, com cara de reprovação. -Falei que ia pro inglês, mas estava no ensaio da mangueira.

Rafa : An, ideia tilt né Anna Laura? Tá chapando? Seu pai tá certo, pô, se acontece qualquer parada com você, ninguém sabe onde você tá.

Anna : A questão não é essa, Rafael! Mas não vou entrar em pauta sobre isso com você também. -Cortei o assunto e ele soltou um sorrisinho, beijando a minha bochecha. -Ta fazendo entrega pra sua mãe hoje por que?

Rafa : Porque o carinha furou com ela e eu precisava de um extra, pô, aquele lance que eu já te falei. -Eu lembrei e pensei em abrir a minha boca, mas ele adivinhou o que eu ia falar e na mesma hora cortou a minha onda. -Não vou pedir aumento de salário teu pai, se manca.

Anna : Tá! -Respondi e ele abriu a mochila onde entrega os lanches, ameaçou me entregar, mas antes puxou a minha cintura e me deu um beijo. Deixei minha mão sob a nuca dele, que mordeu o meu lábio e cheirou o meu pescoço.

Rafa : Sobe pra casa, tá tarde. -Eu revirei os meus olhos, impaciente e ele me deu outro beijo rápido. Subiu na moto e apontou com a cabeça pra eu ir logo.

Anna : Obrigada! -Respondi sorrindo, e ele piscou, ligando a moto.

Rafa : Fé, preta! -Eu voltei pra portaria do prédio e subi para o apartamento, só peguei uma lata de coca na cozinha e fui direto pro meu quarto.

pretexto. Where stories live. Discover now