Ao ser revelado o conteúdo que tinha ali dentro eu fiquei mais perdido do que achei ser possível aquela altura.

— Flechas? — indaguei. — Flechas de ouro!?

— É relíquia de família. — explicou sem me olhar nos olhos. — São muito antigas, há uma lenda na minha família de que pertenciam a um anjo, mas eu não acredito nessas coisas.

— O que você ia fazer com isso? — cheguei perto e estiquei minha mão para tocar, mas Any deu um tapa forte em meus dedos.

— Não toque. São afiadas. — tornou a fechar e travar a maleta. — Faz pouco tempo que o meu inquilino se mudou e eu vim pegar o resto das coisas que havia deixado para trás.

— Quem deixa uma relíquia de família para trás? Aliás, quem deixa flechas de ouro puro para trás!?

— Olha, o valor disso não é muito importante para mim. E eu não tenho tanto apego emocional, mas também não posso vendê-las, então esse é o fardo que eu carrego. — suspirou.

— Isso tudo ainda é muito estranho.

— Eu sei e eu sinto muito por isso, mas não sei como fazer você acreditar em mim. — virou-se de frente para mim com os olhos marejados. — Eu estou sendo sincera.

Era difícil me manter racional quando ela olhava daquele jeito para mim. Parte de mim queria acreditar nela, mas outra parte falava mais alto, gritando que não dava para ignorar os fatos estranhos que Any jogou em meu colo.

— A sua família é um enigma, não é? Primeiro você disse que eles eram hippies, agora você me diz que te deram um apartamento no centro de Pasadena e que vocês guardam três flechas de ouro como relíquia. Hippies não têm bens materiais tão valiosos, Any.

Esperei uma resposta, qualquer coisa que pudesse tampar os buracos da história dela, mas Any ficou apenas em silêncio. Seus olhos se encheram ainda mais de lágrimas e seu lábio inferior tremeu de nervosismo. Ela estava escondendo alguma coisa de mim.

— Como você quer que eu confie em você desse jeito? — foi a minha vez de olhá-la com a dor pesando em minha face.

— Sinto muito. — a primeira lágrima rolou por seu rosto.

— Eu sinto mais ainda. — fiquei de pé. — Me liga quando resolver falar a verdade.

Saí daquele prédio um pouco atordoado. Eu estava magoado com ela, mas mais ainda comigo por ter confiado cegamente em cada parte de Any. Eu achei que ela era perfeita, que seria a minha salvação e que eu era importante na vida dela, mas agora eu já não tinha mais tanta certeza disso.

Fiquei dentro do meu carro, ainda parado no acostamento não muito longe do prédio. Vi Any sair de lá com o semblante derrotado, carregando a maleta com uma das mãos enquanto a outra estava enfiada em um dos bolsos do seu casaco. Quando ela se aproximou de seu carro e se preparou para destrava-lo, um outro carro parou atrás do dela e um homem saiu de lá, indo em sua direção.

O homem me parecia familiar, mas era difícil reconhecê-lo de longe, ainda mais com ele estando de costas para mim. Ele disse alguma coisa ao parar perto de Any e ela o encarou com raiva, respondendo algo claramente rude para ele. Vi o momento em que ele tentou agarrar a maleta na mão dela, recebendo um empurrão que o fez cambalear para trás. Fiquei totalmente em alerta com a possibilidade de aquele homem a estar colocando em perigo.

O homem caminhou até o lado do carro e virou-se sutilmente para a frente, me possibilitando de ver o seu rosto. Era o Dr. Jackson. Por que diabos ele e Any estavam discutindo daquele jeito? Que tipo de relação eles tinham? Quanto mais eu parava para analisar, mais perguntas surgiam.

Estúpido Cupido! ⁿᵒᵃⁿʸजहाँ कहानियाँ रहती हैं। अभी खोजें