— É difícil de acreditar. — riu.

— Pois é, eu não gostava. — sorri. — Eu estava passando por um momento difícil da minha vida, tudo me irritava e eu não conseguia focar em nada porque a minha cabeça estava presa em outro lugar.

Em alguém.

— E aí eu acordei numa manhã e vi que tinham vários buracos na grama do meu quintal. Eu fiquei furioso e achei que seriam marmotas, sei lá. Mas aí eu vi um filhote preso em um buraco debaixo da minha cerca. Ele fez um buraco pra entrar e depois não conseguiu sair.

— Por favor, me diga que você não o machucou. — olhou-me seriamente.

— Eu jamais faria isso. — garanti. — Eu levei ele até o abrigo, mas estava lotado e eles não podiam receber mais nenhum animal. Então eu o trouxe de volta pra casa porque não podia deixar ele sozinho na rua, era só um filhote, seria perigoso. Fiz cartazes, espalhei pelas ruas e coloquei na internet perguntando se alguém havia perdido um filhote de rottweiler. Eu fiz de tudo pra me livrar dele. Em três dias que esteve comigo, o Thor destruiu três chinelos, dois sapatos de grife, urinou no meu sofá, na minha cama e no meu escritório.

— Nossa, eu queria ter visto você puto com isso. — gargalhou.

— Sim, eu fiquei bem puto. — ri também. — Mas aí tinham os momentos em que ele me fazia sorrir. Thor era um filhote estabanado e eu conseguia rir mais do que ficava bravo. E aí eu percebi que depois que eu o encontrei, parei de pensar nos meus problemas. Eu não estava mais sofrendo. Até os momentos em que ele me deixava irritado eram melhores do que todos os pensamentos terríveis que eu tinha quando estava sozinho. Antes eu não gostava de animais, mas agora se alguma coisa acontecer com o Thor eu mato todo mundo e depois me mato.

Relatei tudo aquilo olhando para o meu cão, que dormia aos nossos pés alheio a tudo que estava sendo dito. Minha atenção se voltou para Any quando ouvi ela soluçar.

— Você é tão... — tomou ar, mas não finalizou a frase. — Eu nem consigo te descrever. — enxugou uma lágrima solitária que desceu por seu rosto. — Fico feliz em ver que você encontrou um ótimo jeito de lidar com a saudade que sentia da Vanessa.

Entreabri os lábios ao ouvir Any citar aquele nome. Como ela poderia saber? Ao notar a sua falha, ela levou a mão aos lábios e arregalou um pouco os olhos como se tivesse sido pega fazendo algo errado.

— Como você sabe sobre a Vanessa? — tomei impulso e sentei, me encostando contra a cabeceira.

Any fez o mesmo, dobrando seus joelhos e abraçando suas pernas numa posição protetora.

— A sua avó me contou.

— Por que a minha avó te contaria isso? Ela sabe que é uma coisa muito pessoal. — eu estava sério e bem tenso.

Eu não queria que a Any soubesse sobre a Vanessa. Toda aquela história do passado me fazia sentir fraco por ter me deixado abater daquela forma.

— Bem, ela gostou de mim. Nós nos encontramos algumas vezes e eu comentei que estava sendo difícil lidar com você. Eu não entendia o motivo de você ser tão carrancudo, então ela me explicou. Saber sobre a Vanessa foi um dos motivos que me fez tentar me colocar no seu lugar e entender porque você é como é.

Mesmo ela tentando explicar com calma, eu não podia evitar de ficar irritado. Era a minha vida pessoal, meus assuntos delicados, pontos que eu nunca deixei que ninguém tocasse antes. Se minha avó tivesse mesmo contado aquilo para a Any, ela teria traído a minha confiança de um jeito absurdo.

— Não faz sentido. A minha avó não contaria isso pra ninguém. Não é como se você fosse a melhor amiga dela ou alguém da família, você é só a minha assistente. — não era para sair naquele tom, não era mesmo a minha intenção deixar explícito naquela frase que Any poderia ser insignificante. Ela não era, mas eu estava bravo e não controlei a minha fala.

Estúpido Cupido! ⁿᵒᵃⁿʸحيث تعيش القصص. اكتشف الآن