Prólogo - parte 2

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— Ela está voltando, mas os batimentos estão fracos. — um homem disse.

— Any!! — essa voz era familiar. — Me deixem passar, ela é minha amiga!

Nathan.

Apesar da visão turva, eu consegui vê-lo quando se esquivou sobre mim, os olhos em puro pânico, o rosto coberto de lágrimas. Suas mãos foram até o meu rosto e quando ele as ergueu, eu vi muito sangue. Eu estava sangrando? Onde? Por toda parte!

— Por favor, Any, fique comigo... — chorou, encostando a cabeça em meu ombro.

Mesmo com a situação ruim, eu abri um sorriso de canto ao ouvir ele dizer aquilo.

— Eu... — tentei falar, mesmo que precisasse fazer um pouco de esforço. — Sempre quis... ouvir isso. — ergui minha mão com muita dificuldade até o seu rosto.

Era claro que ele estava dizendo para eu ficar viva, mas mesmo assim eu senti algum tipo de alívio, uma vontade incontrolável de não tentar mais nada.

Nathan segurou minha mão, a mantendo em seu rosto e fechou os seus olhos por alguns segundos, parecendo entender o que eu disse. Ele entendeu que eu o amava.

— Any... — suspirou.

E de novo eu voltei a perder todos os meus sentidos. Sem dor, sem dificuldade para respirar, sem ouvir nada ou ver alguma coisa. Não havia nada além de escuridão. Então assim que era morrer? Eu não gostei desse vazio, que deprimente! Não que eu fosse muito religiosa, mas eu não gostaria que os céticos estivessem mesmo certos sobre não haver nada após a morte.

E de repente eu comecei a ver um pontinho de luz que começou a aumentar como se estivesse se aproximando de mim, ou eu estivesse me aproximando dele. Eu pisquei e me vi em um lugar totalmente branco. Só então eu notei que havia voltado para um corpo, pois antes não podia senti-lo. Olhei para mim mesma e me vi vestindo um vestido branco um palmo acima do joelho e com alças finas. Abaixo de mim, nada. Eu não estava pisando em nada! Como isso era possível?

Olhei para as minhas próprias mãos, depois comecei a tocar o meu corpo do tronco à cabeça. Eu parecia intacta. Meus cabelos estavam mais macios do que nunca e não havia sangue em meu rosto.

Comecei a caminhar pelo lugar tentando encontrar alguma coisa que me desse uma resposta. Talvez eu apenas estivesse em coma. Pessoas que ficam em coma relatam algo assim, certo? E se eu estivesse delirando por causa da morfina? Também era possível. Eu não podia estar morta, eu só tinha vinte e cinco anos e uma vida inteira para continuar a reclamar de tudo.

E mesmo que eu caminhasse, era como se não saísse do lugar porque tudo era só branco.

— Any.

Sobressaltei ao ouvir o meu nome e olhei para trás de mim. Um homem estava em pé me olhando. Ele também usava branco como eu, tinha os cabelos longos até os ombros, usava barba e estava com uma expressão neutra. Por algum motivo, ele carregava uma prancheta e uma caneta dourada.

— Jesus? — chutei.

— Eu preciso mesmo cortar o meu cabelo. — revirou os olhos. — Não, eu não sou Jesus. Estou a alguns níveis abaixo dele. — caminhou até mim, parando a pouco menos de um metro de distância. — Vejamos... — começou a ler os papéis na prancheta como se estivesse apenas trabalhando. — Any Rolim. Você não foi tão ruim assim. — deu de ombros. — Nossa, você era muito desastrada. — riu. — Nada de trabalhar com a guarda. — fez um risco no papel.

— Guarda? — franzi o cenho.

— Anjos da guarda.

— O que?

Estúpido Cupido! ⁿᵒᵃⁿʸWhere stories live. Discover now