— É perigoso, será que não entende?! Eu fechei os olhos sobre as corridas clandestinas, te apresentei pessoas importantes que poderiam elevar sua carreira de piloto, mas como sempre acontece quando tento te ajudar, você desistiu. O que tem demais um pai tentar ajudar um filho? Desde quando isso se tornou um pecado?

— Pai...

— Eu sou protetor, tento controlar sua vida, mas isso é porque eu me preocupo e não quero te perder. Construí esse legado para você, tudo o que faço é por você, será que não entende?! — Ele diz com a voz embargada e eu quero me chutar por isso. — Qualquer coisa... aceito qualquer coisa, menos que se torne um policial e essa é minha última decisão.

— E se eu não cumprir?

— Não me desafie Jefferson Malet, você não gostará do resultado.

Sorrio da sua ameaça, sabendo que o mundo pode explodir, porém meu pai não fará nada contra seu único filho.

— Isso é coisa daquele menino, não é? O Moreau?

— Não meta o Saul nessa conversa, pai. — Falo rispidamente. — Não preciso de ninguém para fazer nada, eu faço o que eu quero, quando quero. Eu só não serei comandado pelo senhor, não sou o Pinóquio e nem você é o Gepeto, para brincar de mestre mandou! Eu sou um homem, e sei o que eu quero fazer da minha vida, dentre tudo isso, eu não quero ficar sentado em uma sala lidando com um bando de idiotas que me deixariam cagar na cabeça deles se assim for o que eu decidir.

Meu pai se revolta, jogando na parede seu vaso de milhões.

Eu fico parado, apenas assistindo seu rompante, sentindo pena de quem irá limpar a bagunça que o velho está fazendo.

— Reinaldo! — Meu pai grita pelo seu braço direito.

— Senhor? — Ele o responde prontamente.

— Chamem todos os seguranças, tranque toda a casa, fure todos os pneus dos carros e motos desse ingrato. Jefferson só sai dessa casa por cima do meu cadáver! — Meu pai ordena, me deixando de queixo caído.

— Serei um preso dentro da minha própria casa? — Pergunto indignado.

— Se é isso o que terei que fazer para mantê-lo vivo, então se considere um preso de luxo! — Ele responde prontamente. — Você não passa de um menino mimado com dinheiro no bolso, dinheiro esse que nunca sujou as mãos para obtê-lo. Melhores roupas, melhores escolas, melhores carros, melhores tudo, foi obtido com o dinheiro que você menospreza. Você, Jefferson, não saberá se virar sem o dinheiro do papai aqui.

— É isso o que pensa de mim? — Pergunto, me segurando para não falar merda.

Meu pai fica calado, me olhando desafiadoramente.

— Ok. Fique com tudo, carro, moto, dinheiro, esse mausoléu. Fique com tudo, mas não ficará como o comandante da minha vida. Sabe pai... agora eu entendo por que minha mãe foi embora; ninguém aguentaria viver em uma redoma de vidro. Ninguém faz filho para mate-los trancados ao seu dispor, fazem filhos para vida.

Me viro para ir embora, mas suas palavras me param.

— Se sair por essa porta, não precisa mais voltar. Eu não terei mais filho e se acha que sua mãe é certa, então vá atrás dela!

Sinto a dor em suas palavras, posso ser rebelde, faze coisas para irritar meu pai, mas nunca seria ingrato ao ponto de ir atrás de uma mulher que abandonou seu marido e filho.

— Pode não parecer pai, mas eu amo o senhor. Amo muito mesmo. Nunca teria a coragem de trai-lo desse jeito. Aquela mulher deixou de existir para mima partir do momento que ela saiu dessa casa e virou as costas ao único filho. — Me viro para olha-lo. — Eu estou seguindo um caminho que escolhi para mim, pai. Esse é o homem que eu sou, é uma pena que não respeite isso. Fique bem, cuide da sua saúde e nada de fazer estripulias nos doces da Romena.

Saio no mais absoluto silencio e noto que ele também ficou calado.

Subo para o meu quarto, termino minhas malas e ligo para Saulo vir me buscar.

— De zero a dez, quão difícil foi com o seu pai? — Saulo pergunta assim que atende.

— Mil. Tem como você vir me buscar?

— Por quê?

— Ele mandou o Rei furar todos os pneus dos carros e motos, fora que mandou a segurança me impedir de sair.

— Porra, o velhote pegou pesado. Mika...

— Pela última vez Saul, não estou fazendo isso por você ou não só por você. É o que eu quero, por que ninguém entende?!

Sinto essa necessidade de estar perto do Saulo, não sei explicar como nem o porquê, eu só sei que sinto isso e nunca fui de ignorar meu sexto sentido.

— Eu te entendo, mas também entendo seu pai. Vou te buscar...

Reinaldo entra no meu quarto e peço para o meu amigo esperar um segundo.

— O que ele quer agora? Mandou você me amarrar na cama? — Pergunto acidamente.

— Não, ele me pediu para entregar as chaves do carro. — E assim ele faz, me entrega as chaves, mas segura no último momento. — Não é só seu pai que é contra essa ideia estapafúrdia de você entrar para polícia, todos nós somos. Te vimos crescer, te ensinamos tudo o que sabe sobre sérum bom homem, então nos perdoe se sentimos medo de perde-lo menino.

— Eu vou me cuidar, só quero que vocês entendam que isso é o que eu quero fazer. Não nasci para ficar sentado atrás de uma mesa de terno e gravata, tendo aqueles idiotas lambendo meu saco.

— Eu sei, nunca houve um momento que pensamos que faria isso. Só se cuide e nos mantenha informados. Você é muito precioso para todos nós, principalmente para o mestre. — Ele diz e antes de ir faz um carinho em minha cabeça.

Espero ele sair do quarto e volto a falar com o meu amigo, que tem uma piadinha para soltar depois de escutar a conversa.

— O menino de ouro é tão amado! — Diz rindo e de fundo consigo escutar a voz da sua noiva, mandando ele me deixar em paz.

— Sabe que amo a sua mulher? — Pergunto só para provocar.

— Fique longe da minha mulher, porra!

— Irmão, sua mulher me ama, pode perguntar para ela. — retruco e ele começa a me xingar. — Daqui apouco estarei ai.

Assim que desligo, pego minhas coisas, jogo a mochila nos meus ombros, fone de ouvidos, meu celular e saio d quarto.

Claro que fui abraçado por todos, assim como também ouvi inúmeras recomendações. Essas pessoas são a família que conheci, que aprendi a amar, e que moldaram o homem integro que sou hoje. O dinheiro poderia ter me moldado de uma maneira completamente diferente, mas foram eles, essas pessoas que me ensinaram a ser uma boa pessoa.

Saio pela porta da frente, rodeio o amplo quintal até chegar na garagem, onde encontro todos os meus brinquedos de menino grande. Vou confessar que sentirei saudades de me aventurar nas pistas, de correr sentindo a adrenalina correndo em minhas veias.

Velocidade devera ser meu segundo nome, pois amo sentir o ronco do motor embaixo de mim, sentir a moto vibrar sobre meu comando foi o que sempre me deixou completo, satisfeito e feliz.

Não irei me arrepender de deixar tudo isso para trás, quem sabe eu não volte a fazer as mesmas coisas só que em um lugar diferente?

Hoje meu amigo precisa de mim e eu o seguirei até no inferno.

Só não sabia que o inferno não demoraria muito para aparecer.

Meu CampeãoOnde histórias criam vida. Descubra agora