O estrondo foi ouvido mais uma vez, fazendo-me olhar em direção a porta. Pareciam batidas fortes quase como socos.
- Eu vou bater até você acordar, Mackenzie! - A voz grossa e grave atravessou a madeira, fazendo meu corpo inteiro entrar em alerta.
Levantei rapidamente, esfregando meus olhos com o dorso da mão. Caminhei até a porta, abrindo-a.
Era ele.
- O que foi? - Perguntei firme, tentando não vacilar.
Meu pai permaneceu parado em frente a porta, suas roupas estavam amassadas e ele cheirava a álcool.
- É assim que fala com o seu pai? - Ele pôs a mão à frente da madeira, impedindo que eu a fechasse.
O seu tom de voz era firme e quase ameaçador, não parecia completamente bêbada, mas com certeza estava alterado. Provavelmente, madrugou com alguma prostituta e bebeu pela manhã.
- O que você quer? - Perguntei novamente impaciente - Você fede a bebida!
Meu pai não responde, porém empurrou a porta de repente e com uma certa força, a fazendo quase bater em meu corpo. Eu o olhava um pouco assustada, enquanto ele adentrava o lugar.
- Onde você guarda? - Perguntou irritado - Cadê o dinheiro? - Insistiu, olhando ao redor.
- Foi pra isso que você me acordou? - Questionei desacreditada, rindo sem vontade alguma - Você não dormiu em casa, está fedendo e ainda quer pedir por dinheiro?
Porém, aquilo o deixou ainda mais irritado.
- Não devo satisfações a você! - Esbravejou de repente, apontando o dedo em minha direção.
- Não vou dar merda alguma, já peguei as suas dívidas naquele bar imundo - Falei no mesmo tom.
Cada dia que se passava, eu ficava ainda mais cansada de tudo aquilo. Sempre economizava dinheiro para lidar com os gastos e de quebra ainda precisava pagar as dívidas que meu pai fazia o tempo todo em alguns bares espalhados pelo bairro.
Meu pai me ignorou completamente, como era de costume, e deu uma olhada novamente ao redor, aproximando-se de uma das minhas estantes.
- Com certeza guarda entre essas besteiras - Ele tocou a prateleira e em um movimento repentino empurrou toda a pilha de livros derrubando-os no chão.
Meus livros eram algo sagrado para mim, vê-los caídos no chão daquela forma, fez o sangue dentro de mim ferver.
Meu corpo inteiro travou por milésimos de segundos. Entretanto, a minha única reação foi partir para cima dele para impedi-lo de danificá-los ainda mais.
- Sai de perto das minhas coisas! - Gritei.
Como nunca fiz antes, gritei a plenos pulmões e passei os braços ao redor da cintura do homem que era bem maior do que eu. Usei toda a força que tinha para afastá-lo dali.
Ele deu alguns passos para trás, cambaleando um pouco pelo álcool e pelo peso que eu colocava. Achei que tinha conseguido afastá-lo, mas o homem virou o corpo em um único movimento, acertando em cheio a minha boca com uma cotovelada que, não só me fez cair no chão como também me causou uma dor terrível.
O gosto de sangue não demorou a surgir, me fazendo sentir o sabor enferrujado e um fio de sangue descer pelo canto dos meus lábios. Senti o chão gelado contra o tecido fino do meu uniforme, flexionando meus braços para sentar-me.
- Eu... - O ouvi tentar formular alguma frase, enquanto gesticulava com as mãos de forma perdida em minha direção.
- Não encosta em mim! - Pedi quase em um sussurro. Encostei o dorso da mão em meus lábios vendo meu próprio sangue contra minha pele.
Um silêncio se fez presente no cômodo, minhas coisas estavam jogadas pelo chão e meu pai permanecia parado a minha frente.
- Vai embora do meu quarto, agora! - Vociferei.
A dor do machucado e a mágoa em meu tom de voz nem se comparavam a vontade de chorar presa em minha garganta.
Para a minha surpresa, ele foi. Meu pai passou pela porta como se nunca tivesse pisado naquele ambiente, fazendo-me soltar o ar que nem sabia que estava segurando.
- Droga... - Praguejei ao sentir o meu novo machucado incomodar.
Levantei-me lentamente do chão e caminhei até os livros jogados, alguns com folhas amassadas e outros abertos. Comecei a guardá-los tentando esquecer o que havia acabado de acontecer.
Como eu sempre fazia.
Conviver com o meu pai era nunca saber o que eu enfrentaria. Era um misto de angústia e um pouco de... medo. Havia dias que eu chegava em casa e ele estava simplesmente jogado no sofá, assistindo algum jogo ou dormindo. Mas, em outros dias, estava transtornado.
Eu já não o reconhecia há muito tempo, porque aquele não era mais o meu pai. E o pior de tudo era saber exatamente o momento em que o perdi.
Quando terminei o que fazia, respirei fundo. Aquela manhã já havia começado da pior maneira possível. A coisa que eu menos queria era continuar ali.
Procurei pelo meu celular novamente, mandando mensagem para a primeira pessoa que me veio a mente.
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Hype Girl | Kajemac Fanfic [Paper Girls]
FanfictionMackenzie Coyle era conhecida por ser uma aluna problemática. Karina Brandman, a presidente do Grêmio Estudantil. Ambas se odiavam pelo mesmo motivo. Baseado na série Paper Girls. Enemies to Lovers. Colegial. Casal Lésbico. LGBT.
3. Daddy Issues
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