PILOTO

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- Filha, o que é isso nos seus olhos? - diz a mãe, em prantos, com muita dor na voz.
- É o demônio! Ela está com o demônio em suas veias, veja. - diz o seu irmão segurando o caçula, sem vida, em seus braços.

Sadie

Droga. De novo. De novo?! Quando isso vai acabar?... - diz Sadie com os olhos cheio de lágrimas. Ao acordar, Sadie se direciona até o espelho. Encarando seu reflexo, Noah, seu colega de trabalho, entra no quarto. Sadie pigarreia.
- Com licença, eu não queria assusta-lá.
- Seja breve.
- O chefe precisa de um serviço no castelo real, ruivinha.
- Quantas vezes terei que te dizer pra não me chamar de ruivinha? Eu tenho nome. Você sabe, assinou o contrato.
- Ei, Ei, Ei... Calma aí, gata. Vem cá, é de família estar sempre de mal humor? Como são seus pais e seus irmãos? - Caleb ri.
Sadie se direciona até Noah e coloca um canivete em sua garganta, afundando-o.
- Não fale da minha família. - afunda mais o canivete. - Entendeu?!
Noah a empurra.
- Eu sempre tento te animar, mas você é sempre uma vadia de merda! - Dá as costas e deixa o cômodo.

Sadie passou o dia pensando no "vadia de merda" e quantas vezes essas palavras devem sair se referindo à ela, por todos ao seu redor, todos os dias. A verdade é que Sadie não pode deixar que ninguém goste dela, ou seus destinos serão que nem o de sua família. Todos os dias Sadie têm o mesmo pesadelo, o flashback da noite em que ela mesma tirou a vida de seus pais.

21/05/1877 - O dia da maldição.

- Sadie, querida! - diz a mãe.
- Oi, mãe. Tão bom te ver. - Seu corpo é tomado por um impulso tão forte que chega a lhe dar cólicas. Seu irmão caçula havia a abraçado.
- Sadie!! Sadie!! Você acordou, finalmente. Achei que você dormiria a tarde toda... Que triste seria, assim nunca poderíamos brincar.
- Bom te ver também, Eddie. - ela se abaixou para que pudesse ficar da mesma altura que o menino. - Mas a maninha aqui, precisa sair, vou ser muito feroz e trazer alimentos para a janta.
- Eu quero ir com você, eu quero ir com você, eu quero ir com você. - Diz Eddie no meio de pulos.
- Não... Você não pode ir comigo, ainda não tem tamanho para isso. Mas, como recompensa, eu deixo você escolher o que será o jantar. O que acha, mamãe?
- Acho uma ótima ideia!! - diz mãe de Sadie com um largo sorriso no rosto.
- Tudo bem... Eu gostaria de jantar uma sopa de legumes, por favor.
- Nossa, achei que você pediria um elefante ou algo do tipo.

Sadie se despediu de todos e abriu a porta de casa, e acabou esbarrando em seu irmão do meio, Erick. Alto, ruivo, forte, como ela...
- Sai da minha frente, antes que seu cabelo de fogo comece a arder e incomodar minha vista.
- Cala a boca, Erick. Por que não tenta fazer algo útil que não seja ficar infernizando a minha vida, ou matar o papai?!?!
Erick a empurra, Sadie cai no chão.
- Eu não o matei, sua vadia de merda.
Sadie levanta rapidamente e coloca seu canivete na garganta de Erick. Sua ação foi lentamente se desfazendo após olhar pra trás e ver o semblante assustado de Eddie. Ela encara Erick, e deixa a casa.

Ao finalmente sair de casa, Sadie ficou se remoendo ao que disse à Erick. A verdade é que ele não matou o Papai, ele apenas não impediu que ele se matasse. Então ele se sentou e olhou, enquanto papai estava perdendo o ar com o corpo pendurado por uma corda. Bom, isso não podia voltar à tona e estragar a noite da caçada, ela precisava voltar e alimentar Erick. Erick não é filho do pai de Sadie, ele é de outro casamento, o casamento que fez meu pai tirar a própria vida. Sadie não odeia Phill, seu padrasto, ele faz sua mãe feliz e ajudou ela a cria-lá e educa-lá. Mas ela sente falta de seu pai todos os dias, sem exceção.
Sadie já havia coletado todos os legumes necessários para fazer uma grande sopa, até mesmo a porção de Erick. Ela começou a escutar barulhos de passos, e suspiros assustados pela floresta. A neve deixava mais evidente que os passos estavam perto dela. Novamente, Sadie foi baleada por outro empurrão.
- Ai, Ah!! - gemidos.
- Meu deus, o que você está fazendo aqui? - Sadie se assusta ao ver uma menina loira e muito pequena na floresta, aquelas horas da noite.
- Ahh. Não. Não. Ela está vindo, ela está aqui. Foge. Corre.
- Pelo amor de Deus, se acalme. Não tem ninguém vindo, ok? - Disse Sadie tirando da bolsa sua garrafa d'água e oferecendo para a menina. Ela não hesitou em tomar.
- A bruxa. A bruxa. Uma bruxa.
- O que você está fazendo aqui essas horas?
- Eu preciso levar comida para casa, se não meu Pai vai... Ele vai fazer aquilo comigo de novo. Eu não quero!!
- O que?? - diz Sadie espantada
- Me desculpa. - sem que ela pudesse mesmo responder "Pelo que", ela vê a menina apanhar seus legumes e desaparecer pela neve.
- Ai, droga!! Não...

Sadie vagou por mais algumas horas na floresta gelada. Até que de repente, encontrou um jardim escuro, com apenas uma luz fraca e piscando que o iluminava em algumas partes. Nesta vaga frecha de iluminação, Sadie conseguiu enxergar uma horta, tão linda e tão farta... Sadie pensou que apanhar alguns legumes, em pequena porção, não faria falta para a dona. Sadie estava apanhando os legumes quando a porta da casa de madeira velha que estava em frente à horta se abriu, e uma mulher com capuz escuro se iluminou embaixo da lâmpada.
- Você!!! Sua ladrazinha RUIVA.
- Me desculpe! Me desculpe! Eu fui...
- Você foi roubada e acha que pode roubar os outros?!
- Como você?
- Não importa. Aqui nessa região não é permitido roubo, e os que cometem esse ato pagam caro por isso.
- Estou disposta a fazer o que você quiser, eu só preciso levar esse legume para minha família. Meus irmãos, minha mãe.
- Olha... Não é que você se importa mesmo com o assassino do seu pai?
Sadie dá um passo à frente, encorajada, com atitude.
- Como sabe tanto sobre mim?!
- Hahahahahahahahahaha. Vai ser divertido. Você é corajosa, e não está com nem um pouco de medo de mim. Talvez porque não me conheça.
- Não conheço você mesmo. Nunca te vi na minha vida e você sabe tudo sobre mim.
- Sabe, Sadie. - ela abaixou o seu capuz lentamente e o deixou cair pelo chão, revelando um belo rosto pálido como a neve, mas a boca mais vermelha que o cabelo de Sadie, e os olhos mais escuros do que a noite. Um lindo contraste em seu rosto. Um erro não justifica outro.
Sadie começa a sentir uma forte dor na cabeça e acaba ficando de joelhos no chão, e leva suas mãos até a fonte da cabeça, expressando toda sua dor por meio de gritos altos. A moça se aproximava lentamente, sussurrando palavras desconhecidas, que pareciam ser de outra língua.
- Eu sou Eleonor Valentine. Lembre-se de meu nome. Eu sou uma bruxa e você me roubou. A sua condenação é matar todos e somente aqueles que sentirem qualquer sentimento de amor por você. Agora vá embora daqui, e suma. Não volte nunca mais.

Sadie estava quase chegando em casa e viu seu irmão Erick na porta, na cadeira de balanço.
- Caramba, tinha que ser uma vadiazinha de merda, demorou porque com certeza estava dando por aí né? - Ele não obteve respostas, apenas o olhar de Sadie. - Me responde sua puta! - Erick viu os olhos de Sadie mudarem de coloração. De azul genuíno para vermelho maligno. - Mas que porra é essa?!
Sadie, sem dizer nenhuma palavra ao seu irmão, entrou na casa e viu seu irmão Eddie.
- Sadieee! Sadieee! Você voltou. - Ele veio à procura do abraço de Sadie, mas tudo que ele sentiu foi o canivete dela. Enquanto ele se afogava em seu próprio sangue, Erick foi até o corpo dele o segurar.
- O que você tá fazendo sua maluca?! O que você ta fazendo?! - Erick gritou.
A mãe de Sadie desceu as escadas rapidamente, ao se deparar com a cena em que via na sala de jantar, começou a gritar. Sadie viu Phill dormindo no sofá, e o sufocou, até a morte. Erick e sua mãe gritavam vendo Phill tentando de todas as formas lutar pela sua própria vida.
- Filha, o que é isso nos seus olhos? - diz a mãe, em prantos, com muita dor na voz.
- É o demônio! Ela está com o demônio em suas veias, veja. - diz o seu irmão segurando o caçula, sem vida, em seus braços.
Sua mãe tentava enquanto Sadie caminhava lentamente do sofá até sua direção.
- Por favor, Sadie. Sou eu, sua mãe. Sua mãe!! Você nasceu dia 14 de agosto de 1861. Você amava esse menino. - diz ela apontando para o corpo de Eddie. Mas de nada adiantou. Sadie removeu a vida de sua mãe também, da mesma maneira de Eddie.
No instante em que sua mãe morreu, os olhos de Sadie largaram a tonalidade vermelha e voltaram para os azuis. Era como se seu corpo estivesse acabado de acordar. Ela não lembrava de nada, nada depois da dor que a bruxa a causou. Mas não se comparava a dor que ela sentiu quando viu o que ela tinha feito.
- Seu monstro!! Seu monstro. - disse Erick.
- Ai meu deus... - Sadie se ajoelhou novamente, mas dessa vez, o chão não estava gelada. Estava úmido, e quente, pelo sangue fresco dos corpos que ela tinha acabado de tirar a vida.
- Você estragou a minha vida. Por que? Por que você fez isso comigo? Por que não me matou também?! Você acha que o papai merecia tudo isso? Ein?? Ele bebia e batia em todos nós até cair no chão. Ele matava a mamãe um pouco mais todos os dias.
- Eu não fiz isso por papai... Eu não. Eu não... - disse Sadie, com as lágrimas tomando seu rosto, uma por uma. - Eu fui amaldiçoada.
- Eu também.

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⏰ Last updated: May 22, 2023 ⏰

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DARK GARDEN - SILLIEWhere stories live. Discover now