Two

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"I got a pocket, got a pocketful of sunshine
I got a love and I know that it's all mine, oh, oh-oh"

O celular gritava a musica animada pelo quarto iluminado apenas pelas frestas por trás das cortinas grossas indicando a hora de levantar. Enid tateou a mesinha ao lado da cama com os olhos ainda fechados cobertos pela mascara de cetim e silenciou o aparelho. Se revirou preguiçosamente nos lençóis confortáveis que havia trago consigo, se ficasse assim por alguns minutos poderia ter a sensação que nada havia mudado. Era a mesma musica, os mesmo lençóis de seda caro com cheiro do amaciante que usava desde sempre. Tão familiar.

Soltou um gemido manhoso enquanto removia a mascara e abria os olhos lentamente para se deparar com o teto de gesso mofado.

Grunhiu frustrada.

Sentiu o cheiro agradável de café fresco enquanto entrava no banheiro. Esther estava de pé as sete da manhã, seu humor não deveria estar dos melhores já que era acostumada a acordar depois das nove pronta para sua aula matinal de pilates e sessões de fofoca com suas amigas dondocas para logo depois irem ao brunch no The Palm, era como uma rotina sagrada. Enid sorriu travessa ao imaginar a mulher manuseando uma cafeteira para preparar o próprio café.

Ajustou o termostato do chuveiro para água quente e se enfiou debaixo.

— Puta que pariu — Quase gritou de dor ao sentir a água gelada entrar em contato com seu corpo nu — Puta que pariu. Puta que pariu.

Claro que aquela merda não funcionava, como todo o resto naquele muquifo.

Enquanto escova seus dentes em frente ao pequeno espelho Enid sentiu um incomodo subindo por suas pernas, arregalou os olhos quando viu uma barata fazendo seu caminho ali. Soltou um grito de pavor enquanto se debatia tentando se livrar do inseto. No desespero acabou escorregando no piso molhado e batendo com a cabeça no chão fazendo um barulho oco. Se sentiu tonta por alguns segundos mas o que não podia piorar se intensificou quando a garota olhou para cima ainda meio zonza e viu sua mãe invadir o banheiro desesperada.

— Querida, está tudo bem? — A mulher olhava em volta do banheiro desesperada — Ouvi você...

— Mãe! Sai! — Enid gritou se sentando rápido no chão e se encolhendo por trás dos joelhos — Pelo amor de deus.

Esther bateu a porta com força mas Enid ainda pode ouvir a risada da mulher por trás da madeira. Encostou a cabeça nos joelhos ainda sentido a parte de trás doer, desejou ter tido um traumatismo craniano ou uma perda de memória para esquecer aquela merda de realidade. Se lembrou da barata de alguns segundos atrás e se levantou rapidamente sentindo nojo por ter tido contato com aquele chão. Decidiu voltar para o chuveiro gélido.

— Eu fiz panquecas... meio que — A mulher fez uma careta enquanto servia a mesa com um prato cheio do alimento que parecia mais escuro que deveria ser — O que aconteceu no banheiro?

Enid já estava devidamente arrumada vestindo um suéter amarelo e jeans, tentou ao máximo escolher roupas menos extravagantes e caras, e optou por uma mochila simples ao invés das bolsas de grife que sempre levava consigo. Se sentou e encarou o prato a sua frente, aquilo não tinha a melhor das aparências. Sua mãe também colocou uma tijela de frutas picadas a sua frente. Enid sorriu com o gesto, estava se esforçando tanto para que ela se sentisse confortável.

— Eu fui atacada por um monstro — Disse dramática enquanto espetava um pedaço de morango com o garfo — Esse lugar precisa ser detetizado. Ou melhor, exorcizado. Você notou que o aquecedor geme como um gato no cio?

— Não é tão ruim assim — Esther amenizou bebericando de sua xícara de café e fazendo uma careta — Deus, que café horrível. Como eu sinto falta da Ana.

K.I.D.S - WenclairWhere stories live. Discover now