ㅡ Não vou demorar, o Victor sabe que precisa trazer o Heitor aqui antes de ir fazer as fotos.

Ela nem espera a minha resposta, apenas sai do quarto. Não a interessa mesmo, de qualquer forma.

ㅡ Você quer ajuda com alguma coisa antes de eu ir? ㅡ Ao tempo em que me pergunta, Ellen dá uma última mexida no cabelo undercut, jogando-o todo para o lado.

Deve ser bem mais fácil arrumar ele do que essa juba ruiva que eu carrego na cabeça.

ㅡ Não, mas obrigada. ㅡ Ofereço um sorriso a ela e me sinto impulsionada a fazer um elogio sincero, apontando para o paletó preto sobre a blusa de seda que ela usa. ㅡ Você ficou linda vestida assim.

ㅡ Ah… valeu. ㅡ De forma instantânea suas bochechas ganham um tom rubro e ela olha para o chão, sorrindo.

Ellen fica tímida com elogios? Essa Ellen com fama de flertadora, que vira noites na rua sem sequer dar satisfação à mãe que mora com ela?

Esse casamento é o segundo lugar em que nos encontramos. O primeiro foi num aniversário de alguém da família, em que não passamos dos cumprimentos. Também foi a primeira vez que ela conheceu o sobrinho.

Agora essa mesma Ellen, rebelde e desapegada da família, sorri tímida para mim, esposa do irmão por parte de pai que ela mal tem contato.

ㅡ Você também está linda, Amelie.

Tá maluca? Eu nem me arrumei ainda. Não que vá fazer muita diferença.

ㅡ Obrigada.

ㅡ Nos vemos lá fora, então. ㅡ Ela ergue a mão de dedos finos e acena antes de sair do quarto.

Sozinha, eu troco de roupa. Fazer isso na frente de outras pessoas, mesmo que sejam mulheres, está fora de questão. Não quero ninguém reparando nessa gordura ambulante que me tornei depois da maternidade.

Pelo menos com o delineador, meus olhos ficaram com um tom de caramelo mais vívido. O vestido ombro-a-ombro floral entrou e o sapato de salto baixo está confortável. Então eu sigo até a área externa da casa, onde será a cerimônia após as fotos dos padrinhos.

ㅡ Oi, amor, eu já estava atrás de você. ㅡ Victor se aproxima com o nosso filho no colo. ㅡ As fotos já vão começar, você vai ficar com ele, né?

ㅡ Por que o Heitor não está arrumado? ㅡ questiono estendendo os braços para pegar meu filho.

ㅡ Não tive tempo, me embaralhei com o suspensório. Mas rapidinho você põe a roupa nele.

É claro que "rapidinho" se arruma uma criança de dois anos. Demorado foi dar um banho, pentear o cabelo, dar o almoço e passar o ferro no conjunto que ele vai usar. A função de Victor era apenas vestir o menino enquanto eu me maquiava, mas nem isso fez.

ㅡ Ok, vá logo bater as fotos, daqui a pouco eu volto. ㅡ Meu filho sorri para mim, sem entender o quão cansada estou antes mesmo de esse casamento começar.

Quando o problema da troca de roupa do Heitor é resolvido, desço para a praia onde o casamento começa.

O problema seguinte é que antes do fim da cerimônia, ele começa a chorar porque está com sono, e eu preciso voltar novamente a um dos quartos para deitá-lo em uma cama.

Ótimo, agora a figurante do casamento também não pode ir comer um salgadinho, porque não tem quem olhe o Heitor. Não me leve a mal, não desejo privar Victor de aproveitar o casamento da própria irmã, mas é frustrante estar aqui apenas por utilidade.

Uso a minha função de vigia para me sentar na ponta da cama e ouvir a música ao vivo que ecoa do lado de fora quando já é de noite. Até que ouço batidas suaves na porta.

Entre Medos e Desejos (Sáfico)Where stories live. Discover now