28 | mães, amantes, afrodite e adônis

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— São mesmo minhas? — Ela pergunta de volta, olhando para as rosas ao seu lado. Parece querer pegá-las, mas hesita. — Eu nunca ganhei flores antes...

Ainda de pé, eu me inclino para cuidadosamente pegar o buquê, então relembro o cheiro das flores antes de sorrir miúdo e estendê-las a mulher-que-merece-todas-as-flores-do-mundo em minha frente.

— São suas, Simone. — E confirmo. — Você gosta delas?

Ela olha para o buquê que estendo em sua direção e, ainda um pouco hesitante, estica suas mãos até segurá-lo e repete meu gesto ao aproximá-lo do nariz para sentir o cheiro suave das rosas. Então, ela também sorri, meio tímida, e balança a cabeça para cima e para baixo.

— Que bom... — Pondero nervosamente, secando minha mão na roupa ao mesmo tempo em que aproveito para sentir a caixa da aliança no bolso.

— Por que eu ganhei flores e chocolates tão de repente, So? — Ela pergunta, ainda confusa sobre tudo. — Você fez besteira.

— Várias. A pior delas foi demorar tanto para perceber que você merece flores e chocolates todos os dias.

Ela continua perdida; eu, nervosa como nunca.

Respirando fundo, eu junto um pouco de coragem e sinto meu corpo um pouco rígido quando lentamente me ajoelho diante de seu corpo sentado, com uma mão continuamente pousada sobre a aliança dentro do bolso e a outra tocando o joelho de Simone num gesto ansioso.

— Eu espero que isso não seja repentino demais, Simone... — E volto a dizer. É horrível sentir minha voz tremer como treme agora, e manter meus olhos focados nos seus é uma tarefa tão difícil. — Mas eu acho que está na hora. E só espero que você sinta isso também.

Ela abraça seu buquê contra o próprio peito, num gesto quase defensivo, e sua expressão entrega tanto nervosismo quanto a minha.

— Hora de que, Soraya?

De te pedir em namoro. Essa é a resposta direta. No entanto, eu ainda não me sinto segura para dizê-la, então acaricio seu joelho sob minha mão, desvio o olhar por um instante antes de voltar a falar:

— De pedir que você comece a nadar comigo, Simone.

Ela continua calada. O silêncio me agoniza, mas não o suficiente para me fazer desistir.

— Eu sei que você não sabe nadar. Nem em nossa metáfora, nem na vida real... mas eu estou disposta a te ensinar, como nunca estive disposta em minha vida. — Digo. Pausas constantes são necessárias para não engasgar com as palavras. — E eu sei também que nós somos uma combinação improvável, como leite de banana e suco de melancia... mas nós somos boas juntas. Nós somos muito boas, Simone, e dentre todas as outras coisas, eu amo o que sou quando estou com você. Acho que é isso que me faz ser tão perdidamente apaixonada por você, mas também é você inteira. É seu jeito lindo, cada pedacinho do seu corpo e do seu rosto, o cheiro do shampoo de bebê e as coisas que você faz por mim... é tudo isso e é muito mais que me torna apaixonada por ser apaixonada por você.

Os lábios dela estão levemente entreabertos, apesar de nenhum som sair dentre eles; minha garganta está seca. Minhas mãos estão tremendo ainda mais, suando como loucas. Mas eu continuo lentamente empurrando a caixa das alianças para fora do bolso.

— Eu te desejo como uma louca, Simone... e eu não falo isso por você me fazer explodir de tesão, e você sabe que faz. Eu estou dizendo isso porque eu amo as coisas que fazemos quando estamos sozinhas, eu amo te tocar e ser tocada por você, mas eu amo na mesma intensidade deitar com você e conversar até cair no sono. Eu te desejo porque quero muito mais que seu corpo, bebê... muito, muito mais. E é por isso que eu quero te pedir, por favor... eu sei que dá medo. Eu sei que você fica assustada. Mas começa a se afastar da borda e nada comigo. Pode vir com calma, eu juro que não vou deixar você se afogar. Só arrisca um pouco mais... por nós.

AFRODITEWhere stories live. Discover now