Entrei no carro e arranquei sem olhar para trás. Aquele cabrão vai viajar com a galdéria...nem sei o que é pior. Ele mentiu-me. Não merece perdão. Anda com a gaja e ainda diz que me ama. És nojento Bruce.


(...)


Cheguei tarde a casa do trabalho, a El estava no sofá debaixo de uma manta a dormir e a televisão passava agora os créditos de um filme. Acordei-a e ajudei-a a ir para a cama, ela agradeceu-me e logo adormeceu. Fui ao meu quarto e despi-me. Vesti umas leggins e uma camisola, amarrei o cabelo e peguei no telemóvel com os fones. Escrevi um bilhete caso a Eleanor acordasse e liguei ao Jack. Pedi-lhe para se preparar para uma corrida, estaria em breve na sua casa. Sai a correr.

Necessitava de correr, de exercício, de pensar e de por a minha cabeça em ordem. Era uma noite não muito fria e pouco movimentada. Quem passava por mim, sobretudo homens, olhavam-me admirados e eu respondia-lhes com um olhar indiferente.

Corri por outras ruas mais iluminadas. As lembranças mantinham-se. Não só de momentos mais passados mas também dos momentos mais recentes. O agente James deu-me o número dele, o Bruce desperdiçou-me, o Jack entrou na minha vida. Troquei de emprego e entrei num ginásio. A Eleanor e o Thomas ainda namoram. Não me arrependo de nada, aprendi com os erros e sempre aprenderei. Agora continuo o meu caminho.

Hoje no trabalho estive com o Mason, ele falou-me em viajarmos e tirarmos umas férias com amigos. Disse-lhe que tinha de ver o que podia fazer, o trabalho é novo e estou no curso de tiro. No entanto vou fazer de tudo para conseguir, quero novas aventuras! No curso de tiro o agente James perguntou-me se tinha visto o papel, tivemos fardas para as próximas aulas práticas e em breve começamos a ter aulas fora do edifício, em cenários mais realistas.

Cheguei a casa do Jack e ele já estava à minha espera. Continuava a dizer que era tola, para além de ser demasiado tarde, era correr de noite. Dizia também que mas mais valia correr com ele do que sozinha, então por isso aceitou.

- Corremos pelo teu caminho habitual? –Jack já a correr

- Sim, bora lá!- também já a correr

Corremos em silêncio até à rua sombria rua com sem-abrigos e toxicodependentes.

- Nem penses Jen! –parou-me e colocou-se à minha frente

- Vá lá –fiz beicinho na esperança de não ter que falar mais.

Ele olhou os meus lábios e apenas sorriu, depois voltou a fazer a sua cara séria.

- Não adianta, não vamos por ali!

Contornei o seu corpo e continuei em direcção à rua. O Jack correu até mim e parou-me novamente ficando à minha frente.

- O perigo atrai-te, é? Sabes bem o que tem naquela rua e que não deves passar lá –apontou para a rua e falou

- Sim Jack e não quero saber disso! –falei secamente e olhei-o nos olhos azuis, agora mais escuros devido à iluminação – Nunca me aconteceu nada de especial e não me importo de passar lá, na verdade, até gosto! –coloquei as mãos nos ombros dele e sorri

- Isso quer dizer que já te fizeram algo...mas bora lá, não vais desistir da ideia –sorriu –voltamos a falar disto depois ouviste?

- Sim sim, mais sermões?

- Parece que não aprendes –comecei a correr e ele acompanhou-me – Porque é que o perigo tinha de te atrair? –sussurrou

Ri-me com o seu comentário. Sabia bem que ele não concordava com isto, apenas me acompanhava pois achava melhor ir comigo do que eu ir sozinha. Deu-me uma certa nostalgia, já há muito que não passava cá de noite. Eu sei, isto é estranho, eu sou estranha, mas é a verdade. Ver isto relembra-me o quão forte eu sou por nunca ter ido por estes caminhos e perdido o meu objetivo, relembra-me que nunca estive mal e que posso ser uma pessoa melhor ao ajuda-los. Olhei para o Jack, ele evitava olhar para a frente, mantinha o olhar no chão. Ele nunca corre assim. Deixei que ele me olhasse e sorri, como se estivesse a dar-lhe confiança e corremos até ao fim da rua.

Já indo para perto do sítio em que costumamos encontrar-nos o Jack sentou-se num banco de jardim e pediu que fizesse o mesmo.

- Jennifer, prometes-me uma coisa? –olhou-me nos olhos

- Depende do que é –olhei-o nos olhos

- Não voltes a passar naquela rua, muito menos de noite e sozinha

- Jack...-sussurrei e olhei para o chão. Não iria prometer algo que sabia que não cumpria, ainda mais algo que eu gostava de fazer, fazia parte de mim –eu vi como tu ficaste...e nem comentários houve...mas não te preocupes, não há nada de mal lá!

- Eu não quero que algo de mal te aconteça e cada vez fico mais preocupado –virou a minha cara para a dele

- Só não estás habituado a ver aquilo, é normal ficares assim –sorri-lhe – Podes confiar em mim, nada vai acontecer e eu sei o que fazer caso seja preciso – passei a mão pelo rosto e depois pelos lábios

- Nunca terás juízo –sorriu-me

O perigo sempre me atrairá –dei-lhe um beijo na bochecha e abracei-o. Ele correspondeu e logo me levantei

Ele fez o mesmo e voltamos a correr. O Jack é como um irmão mais velho, sempre a brincar, a provocar e com o seu estúpido humor. Contudo também tem a faceta de protector e de preocupado com o mal que possa acontecer. Ele sabe o quão teimosa sou e que ninguém me impede de fazer o que quer que seja mesmo quando sei que não o devo fazer.

Íamos outra vez em silêncio e eu relembrava-me do momento em que passei o dedo pelos seus lábios e os observei. A vontade de os sentir, de o beijar e de ver o seu sorriso mais uma vez invadiu-me novamente. Abanei a cabeça com a intenção de tirar estes pensamentos da minha mente e ele riu-se. Ainda bem que não consegues ler os meus pensamentos, Jack.

- Nunca pensei que existisse alguém assim

Olhei para ele.

- Não dá para descrever Jennifer, és louca e uma inocente a fazer figuras como essa. Mas és boa pessoa –sorriu

Tu também és boa pessoa, oh se não és...



***

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