Capítulo um - Um desconhecido

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— Mas... — meu pai tentou rebater, mas cedeu ao ver minhas sobrancelhas franzidas. Ele apenas balançou a cabeça.

— Venho te ver no fim de semana. — disse andando até a porta, continuávamos com os braços enganchados.

Ele me olhou por um segundo inteiro, antes de deixar um beijo carinhoso em minha testa. Nós não passávamos muito tempo juntos durante o ano, pois Boston ficava no outro lado do país, e meus avós moravam em Seattle, eu passei minha vida inteira naquela cidade, vendo meu pai uma vez por ano durante as férias de verão, quando vinha visitá-lo em Boston.

Não fazia ideia do porque ele raramente aparecia em Seattle, tudo que sabia era que meus avós e ele não se davam muito bem. Minha mãe faleceu quando eu tinha dois anos, e nunca tive coragem de perguntar o porque minha guarda ficou com eles, ao invés do meu pai. Depois de um tempo parei de tentar entender, havia uma razão, mas ninguém estava disposto a me contar.

Era uma pena dividir tão pouco tempo com meu pai, pois ele era um pai incrível, e apesar da distância nossa relação sempre foi ótima, ele costumava me ligar todo final de semana para saber como passei os dias. Mandava presentes no meu aniversário e fazia chamadas de vídeo. Muita gente convive com os pais todos os dias e não tem a sorte de ter uma ligação como ele e eu temos. Infelizmente os bons pais estão em extinção.

— Vou ficar bem, pai. Prometo. — assegurei. Ele assentiu um pouco receoso, conseguia ver pelo seu olhar preocupado.

— Sabe que pode me ligar, estou a duas horas de distância. — relembrou apontando o celular que estava em sua mão e não parava de tocar. Ele apertou no botão vermelho recusando a ligação pela segunda vez.

— Eu sei, pai.

Meu pai hesitou por um momento antes de segurar a maçaneta da porta e sair para o corredor do prédio. O celular dele tocou outra vez.

— Pode atender. Vou ficar bem. Nos vemos no final de semana. — falei o abraçando.

— Precisa contar aos seus avós, Blair! — óbvio que ele tocaria no assunto. Ele bateu na mesma tecla a semana inteira.

— Vou contar quando estiver formada. — murmurei em seu ombro ainda agarrada ao meu pai. Ele apenas riu.

— Você é mais rebelde do que eu lembrava.

Antes de ir embora ele disse que me ligaria mais tarde. Apenas concordei. Seu celular não parava de tocar, quando finalmente atendeu saiu correndo para resolver um problema na editora, ele havia saído no meio do expediente, apenas para me trazer para New Haven.

Ao fechar a porta, um silêncio assustador tomou conta do ambiente. Na verdade não era tão assustador assim, era até familiar. Minha avó sempre prezou pelo silêncio. Não éramos o tipo de família mais comum, onde os avós eram amorosos e acolhedores, no jantar ela não perguntava como foi meu dia, meu avô também ficava em silêncio. Ninguém ria ou faziam piadas, eu me perguntava se foi assim, com a minha mãe, se ela também passou a infância e adolescência sendo tratada com indiferença e frieza. Mas com o tempo fui me acostumando, era um pouco triste pensar que você era capaz de se acostumar com tudo, até com a indiferença.

Então estar sozinha não parecia tão assustador como para a maioria das pessoas, para mim era só mais um dia, como todos os outros.

Afastando tais pensamentos, vou até o sofá onde deixei minha bolsa, vasculhando a procura do meu celular, eu o tinha jogado no meio de alguns livros e canetas soltas. Era inevitável não ter uma caneta na minha bolsa, ou melhor, várias delas, de todas as cores e tamanhos, igualmente com post it.

Não havia prazer maior do que viajar entre as páginas dos meus livros favoritos, e grifar as melhores partes. Adorava a sensação de anotar nas bordas das folhas, porque parecia que de alguma forma, estava conversando com os personagens.

Inefável Tempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang