— Não consigo achar a travessa branca pequena — Ceylin olhou de relance por cima do ombro antes de voltar sua atenção para a prateleira que não conseguia alcançar — aquela que é quadrada mas possui bordas arredondadas?

— Está aí uma descrição conflitante — Ilgaz falou de forma irônica, porém bem humorada.

Ceylin estava prestes a responder a provocação dele, mas o promotor deu alguns passos a frente, colocando-se a centímetros das costas dela. A advogada mal teve tempo de registrar que estava praticamente encurralada entre o corpo de Ilgaz e a bancada da pia quando ele esticou a mão, facilmente alcançando a parte mais alta do armário para enfim pegar a travessa questionável que Ceylin estivera buscando.

— O que mais você quer? — Ilgaz perguntou após colocar o objeto ao alcance dela.

O promotor havia praticamente sussurrado as palavras contra o seu cabelo de Ceylin. A presença dele em suas costas, tão próximo de seu corpo, fez um arrepio percorrer toda a espinha da advogada, e ela precisou segurar-se na bancada para manter o equilíbrio. Aquela definitivamente não era uma pergunta apropriada para ser feita quando podia praticamente sentir o calor do corpo de Ilgaz irradiando para o seu.

O promotor sabia que deveria dar um passo para trás e afastar-se de Ceylin - e de toda tentação que vinha com o pacote. Mas o aroma familiar dos cabelos castanhos e aquele maravilhoso cheiro de roupa lavada que parecia emanar das roupas de dormir dela o impediram de fazê-lo.

Conseguia lembrar-se de muitas manhãs como aquela, nas quais havia surpreendido Ceylin preparando o desjejum para eles. Exceto que, há dois anos atrás, Ilgaz não teria hesitado em envolver a cintura dela com seus braços antes de enterrar o rosto na curva do ombro da advogada, acrescentando beijos e carinhos ao seus desejos de bom dia.

O rumo de seus pensamentos fez o bom senso retornar à cabeça do promotor e ele finalmente se afastou. Precisava lembrar-se de tudo que estava em jogo, especialmente os sentimentos de uma das mulheres mais honradas e respeitosas que já conhecera em sua vida.

— Você quer chá ou café? — Ceylin perguntou, aparentemente tão perturbada quanto ele.

— Café — Ilgaz respondeu de pronto, sentando-se à mesa.

— Eu imaginei — Ceylin respondeu sem pensar.

Ao dar-se conta do que o que seu comentário implicava, a advogada mordeu o lábio inferior. A familiaridade subentendida em toda aquela interação entre eles era desconcertante para ela, e tinha certeza de que Ilgaz sentia-se do mesmo jeito.

— O que está nos planos de sua investigação para hoje? Vai tentar conseguir algum mandado de busca contra a Lira ou o que? — A advogada mudou de assunto bruscamente, procurando um território neutro.

— Não vamos discutir isso aqui — Ilgaz respondeu calmamente.

Ceylin conteve um suspiro de frustração.

— Você quer dizer, não vamos discutir isso nunca — ela ralhou, mal humorada. Ainda não havia superado a decisão de Ilgaz de mantê-la fora da investigação.

— Algo assim — Ilgaz sorriu com o canto dos lábios, terminando de tomar o café. Apesar da noite mal dormida, sentia-se bem mais disposto após uma dose matinal de cafeína e uma refeição reforçada — estava tudo delicioso — Ilgaz elogiou os esforços dela ao apontar para seu prato vazio com a cabeça — não precisava ter se incomodado, Ceylin.

— Era o mínimo que eu podia fazer — ela respondeu com resignação.

— Quais são seus planos para hoje? — Ilgaz perguntou ao mesmo tempo que colocava a louça suja no lava louças. Saber que a vida de Ceylin corria perigo e que não podiam garantir a segurança dela na rua o estava tirando do sério — tem alguma audiência no Tribunal?

Talvez desta VezWhere stories live. Discover now