- Há algo mais que preciso lhe contar - ela começou depois que ele havia a servido com uma generosa porção de lasanha. Ceylin aceitou o prato com um sorriso discreto e o posicionou à sua frente, mas não começou a comer - é sobre a empresa que investiguei em Ancara e acredito ser quem esteja atrás de mim.

- Cruzeiro, não é? - Ilgaz buscou confirmação, genuinamente interessado no assunto.

- Sim - Ceylin concordou ao mesmo tempo em que usou o garfo para remexer na comida em seu prato - eu andei fazendo algumas investigações sobre as atividades deles por conta própria...

- Ceylin - Ilgaz suspirou pesadamente, censurando a decisão dela. Mas a expressão de seus olhos era paciente quando ele a fitou, silenciosamente pedindo que a advogada desse mais detalhes a respeito do que descobrira.

- Eu preciso saber quem são essas pessoas, está bem? - Ceylin largou o garfo no prato e levantou o rosto na direção dele, encarando Ilgaz - como posso me defender se não sei o que estou enfrentando? Ficou bem claro para mim que não posso contar com a lei para me proteger, essas pessoas são sujas, Ilgaz. Eles tem olhos e ouvidos em todos os lugares e estão infiltrados até mesmo dentro da força policial. Não quero passar o resto da minha vida olhando por cima do meu ombro, apavorada de passar de novo pelo que passei...

Ilgaz compreendia os motivos dela e os respeitava, mas ainda assim não se sentia confortável ao ver Ceylin agir por conta própria em uma situação de risco como aquela.

- Vou descobrir quem foram os responsáveis por fazê-la passar pelo que passou e garantirei que nunca mais possam agir de novo - Ilgaz a fitou com um olhar determinado, e Ceylin não duvidou dele. Já o conhecia bem o suficiente para saber que o promotor não descansaria até garantir que os sequestradoras dela estivessem na prisão. A reputação de implacável de Ilgaz não era à toa. Ele não apenas era determinado e dedicado, mas também extremamente competente no que fazia - e faremos tudo de acordo com a lei - Ilgaz afirmou com convicção, olhando intensamente para ela de forma sugestiva.

Ceylin desviou os olhos para seu prato. Não tinha a mesma fé que ele no sistema judicial, mas não lhe parecia uma boa ideia entrar nesse mérito justamente agora quando o promotor tentava lhe ajudar.

- Eu pesquisei algumas coisas e acho que você está mais próximo de chegar até a verdade do que sabe - Ceylin revelou, vendo o brilho de interesse nos olhos dele - há pouco tempo, o Ministério Público recebeu uma queixa a respeito de contaminação ambiental com resíduo biológico.

- Sim - Ilgaz estreitou os olhos, desconfiado. A promotoria recebera o caso há pouco tempo, e a denúncia não havia sido pública. Se Ceylin sabia de algo, provavelmente era porque conseguira informações sigilosas, e ele podia imaginar quais métodos ela utilizara para tal feito - como você sabe disso?

- Isso não vem ao caso - Ceylin respondeu de forma evasiva, dando de ombros - o que importa é que a empresa acusada de descartar material tóxico de forma inadequada tem uma ligação com a Cruzeiro - ela explicou, assistindo conforme Ilgaz assimilava a informação. Ela praticamente conseguia ver as engrenagens funcionando na cabeça dele - os detalhes são estes aqui...

Ceylin passou os quinze minutos seguintes resumindo para Ilgaz tudo que havia descoberto durante as madrugadas que passara acordada investigando a Cruzeiro e todas suas empresas-irmãs. Ela viu o brilho de admiração no olhar do promotor quando contou a ele como fizera a conexão entre as diferentes entidades, e quando revelou que suspeitava até mesmo que a Tigris, a empresa de advocacia para a qual trabalhava, pudesse estar envolvida nos esquemas de corrupção. Ceylin detalhou sua desconfiança, ressaltando que não pudera compartilhar a fundo tal detalhe com o Professor Sinan pois ele era um idealista e imediatamente rejeitara a hipótese de que a empresa a qual fosse tão devotado pudesse de fato estar envolvida em atividades ilícitas.

Talvez desta VezWhere stories live. Discover now