Albert Hartmann e sua dor

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- Sinto muito pela sua perda – disse ao me aproximar do Albert.

Passei meus braços ao redor do seu corpo, em um abraço de despedida.

Todos já haviam ido para casa, eu havia ficado por último, nunca sabia como ir embora de lugares assim, parecia tão cruel abandonar a pessoa a mercê do próprio sofrimento. Ainda me lembrava da dor nos olhos do meu irmão depois que seu filho morreu no acidente de carro que sofreu, em como ele se calou por semanas.

Não conhecia Albert muito bem, mas ele era amigo da minha família, praticamente crescera ao lado do Nathaniel. Meu irmão, por sua vez, não estava aqui porque sua mulher estava no hospital, dando luz ao primeiro filho dos dois. Toda minha família estava reunida no tão esperado momento, menos eu, que tinha sido mandada para Londres para prestar condolências ao novo órfão milionário que estava debruçado sobre a lápide dos pais em minha frente.

Olhei ao redor do cemitério, um vazio completo. Ao menos o local era bonito, acolhedor de uma forma sombria. Não havia nenhum sinal do sol, o frio estava intenso e o céu coberto por nuvens pesadas que logo se transformaria em uma grande tempestade. Era possível escutar os estrondos dos raios ao longe.

- Obrigado por ter vindo – agradeceu atônito, da forma que havia ficado durante todo o velório enquanto o observei. Suas expressões faciais pareciam ter desaparecido, seu rosto pálido parecia tão morto quanto dos seus pais.

Que visão mais triste!

Soltei meus braços dele e comecei a caminhar em direção ao carro onde Aaron me esperava, abandonando o menino de cabelos dourados a própria sorte no mundo que agora era desolador.

Aquilo era cruel, as coisas não deviam ser dessa maneira.

Parei.

Olhei para trás e Albert ainda estava lá, ajoelhado na grama olhando o mármore escrito o nome da sua família.

Voltei para ele.

- Não importa quanto tempo você passe aqui, nada irá mudar – coloquei a mão em seu ombro e me ajoelhei ao seu lado.

Ele me olhou com os olhos vermelhos de tanto chorar, mas se mantinha forte enquanto estava em público.

Ele concordou com a cabeça, mas não disse uma palavra.

- Posso levar você para casa? – pedi.

- Qual o seu nome? – ele não se lembrava de mim, eu não o culpava, nossa diferença de idade não era tão pequena assim.

- Elizabeth Beaumont – estendi minha mão para o cumprimentar.

- Albert Hartmann – se apresentou.

- Eu sei.

- Agradeço a oferta, mas preciso ficar sozinho – ele se levantou e estendeu a mão para mim.

- Tem certeza? – soltei sua mão assim que me coloquei sobre meus próprios pés.

- Sim, não sou a melhor das companhias neste momento.

- Não concordo – passei a mão em suas costas o empurrando para a frente, queria que ele saísse daquele cemitério, talvez aquilo o fizesse sentir melhor, mas não é como se os mortos não fossem continuar em sua cabeça durante toda sua vida – Insisto para que me deixei o acompanhar até sua casa, ao menos isso.

Ele colocou as mãos dentro do sobretudo preto e concordou com o pedido, mas não se atrevia a olhar em meus olhos.

- Venha no meu carro então – ele desviou o caminhar me afastando do carro onde Aaron me esperava.

O que restouWhere stories live. Discover now