A Condessa Viúva então voltou-se para a jovem, que a olhava estupefata, e disse como se nada anormal houvesse acontecido nos últimos minutos:

-- Não fique aí parada, menina. Me ajude a levar os seus vestidos para seu quarto. Você precisa experimentá-los.

-- Meus vestidos?! – Ayla disse um pouco apalermada. – Não... Isso é errado... não é necessário...

-- Eu tentei descobrir seu endereço na aldeia para mandar buscar suas coisas, mas não tive sucesso. -- Erick disse com um sorriso. -- Se quer recusar nossos presentes, ficarei feliz em buscar suas próprias roupas assim que me disser onde mora.

-- Não há necessidade... eu posso usar esse... – Ayla repetiu.

-- Não, não pode. – o conde a interrompeu. – Cuidar da minha filha usando o mesmo vestido por dias é inaceitável. Não faço ideia de como o manteve tão limpo nos primeiros dias, mas tenho certeza que não duraria por mais tempo.

Ayla o encarou ligeiramente horrorizada. Certamente sua mãe não aprovaria aquilo.

Aparentemente, contudo, o conde havia decidido encerrar a questão. Apesar de ocasionais questionamentos sobre sua origem, ele não tocara mais no assunto sobre suas conversas com a mãe, nem com Ayla e nem com a Condessa Viúva. A única coisa que fazia questão era de estar ao lado de Alice e, consequentemente Ayla, sempre que podia. Isso dificultava as tentativas de Ayla de sair do castelo.

Na tarde do quinto dia, porém, o conde estava ocupado com o administrador e Alice estava dormindo. Ayla aproveitou para ir até a floresta.

Assim que seus pés pisaram na folhagem seca sobre o solo e a sombra das árvores a cobriu, sua pele adquiriu um novo brilho. Ela respirou profundamente, se abastecendo da saudade do seu lar. Quase uma semana longe da floresta tinha sugado suas forças.

O farfalhar das folhagens lhe contrariou.

-- Sim, eu sei... Também acho que não foi a distância que tirou minha energia. – Ayla disse, sentando-se sob uma das árvores e enterrando os pés descalços na terra macia. – Por isso não gosto de deixar Alice sozinha naquele quarto... Ainda está lá.

Um novo farfalhar.

-- Não sei porque não se manifesta. – Ayla respondeu emburrada – Talvez percebeu quem eu era, talvez esteja esperando a hora certa.

"Pense!". O farfalhar das folhagens pareceu resmungar.

Ayla fechou os olhos e jogou a cabeça para trás, descansando o corpo no tronco centenário.

-- Não gosto desse meu raciocínio, mas acho que ele está esperando pelo conde. Sempre que ele fica conosco no quarto, fica mais forte.

Um ranger de madeira assomou-se ao barulho das folhagens e Ayla abriu os olhos em um salto.

-- Não digam bobagens! – ela disse indignada. – A sensação está relacionada apenas à Alice.

O ranger ficou mais forte e Ayla se ergueu em um salto.

-- Ora! Parem com isso! O que esperavam que eu fizesse? Não conversasse com ele e nem fizesse nenhuma refeição? E eu não poderia andar pelada pela casa, poderia?

O barulho da folhagem ficou mais forte, assemelhando-se à gargalhadas, e Ayla fechou a cara, irritada. Começou a voltar para o castelo, ignorando os protestos da floresta.

Estava no meio do gramado quando viu o conde vindo em sua direção. Seu coração deu um salto. Os cachos loiros de Erick estavam completamente desalinhados pelo vento e o botão superior da camisa branca estava aberto, expondo o pescoço bronzeado. Ele segurava displicentemente o casaco preto na mão e sorria.

A curaWhere stories live. Discover now