— Mason voltou.
Estou na sala de jogos da casa de Mary, sentada no chão e encostada no sofá com um controle de Xbox nas mãos.
Na TV gigante à minha frente, um dragão agarra meu avatar, lady Lucinda, pela cabeça, sacudindo-a tão agressivamente que o corpo sai voando para fora da tela.
Ótimo. Descanso o controle na barriga com um suspiro enquanto a tela fica branca.— Aquela era minha última vida. — Resmungo, pegando a lata de Sprite Zero ao meu lado.
Mary cutuca meu pé com o dela, suas unhas pintadas num roxo vívido.
— Beatrice, você me ouviu?
Do meu outro lado, Michael se apruma, pegando o controle de mim e recomeçando o jogo.
— Ela te ouviu, Mary. Ela não se importa.
— Eu me importo — confirmei —, porque gosto do Mason e é legal que ele tenha voltado. Só acho que isso não tem nada a ver comigo.
Cruzando as pernas, Mary endireita a coluna e olha para mim sobre os óculos. São novos, a armação verde-ácido brilhando em volta de seus olhos escuros.
— Bea — ela diz, e eu movo os ombros, desconfortável.
— Eles terminaram — eu a lembro enquanto me endireito também. — Acabaram. E eu e Jude somos…
— Um caso de verão que vai partir seu coração — Mary completa, e fecho a cara para ela.
Mary tem batido nessa tecla desde que contei a ela sobre nós: que Jude é inconstante, que ela muda de ideia mais vezes do que muda a cor do cabelo, que eu sei como Jude é.
Sei que ela diz isso porque se importa comigo, mas, ainda assim, não é o que mais gosto de ouvir e, além disso, ela está errada. E talvez tenha um pouco de ciúmes. Jude e Mary eram muito próximas alguns anos atrás, mas, conforme Jude e eu nos aproximamos, Mary acabou ficando um pouco de fora. Nosso Quarteto de Amigos está em constante transformação.
O fato de Jude e eu estarmos juntas agora mudou mais ainda as coisas.
— Jude é meio excêntrica — Michael reconhece enquanto seus dedos voam sobre os botões do controle. Ele olha para mim, os cabelos loiros sobre um dos olhos.
— Desculpa, Bea, mas você sabe que é verdade. É uma das coisas que amamos nela, mas dá pra ver que isso pode fazer dela uma namorada ruim.
— Você não é exatamente um especialista em namoradas, Mica — digo, e ele abre a boca fingindo ofensa, o olhar ainda grudado no jogo.
— Como ousa, Beatrice Quint? — Então seu rosto abre um sorriso. — E, sim, justo. Mas sou um especialista em você e não quero ver seu coração esmagado. A Mary está sendo meio chata, mas ela não está necessariamente errada, o que em geral acontece com Mary, sejamos sinceros.
— Por que eu ainda te chamo pra vir aqui? — minha amiga resmunga, pegando a lata de refrigerante e bebendo um longo gole.
— Porque você me ama e quer apoiar meu vício em jogar — Mica diz, e então solta um grito triunfante quando o dragão cai morto na tela.
Jogando o controle sobre o tapete grosso, ele se inclina sobre mim para alcançar o pacote de salgadinhos de queijo que foi parar debaixo do sofá.
— É um desperdício você ter esse videogame, Mary — ele diz. — Você nem joga.
Minha amiga dá de ombros e eu pego um salgadinho do Michael, com cuidado para não derrubar farelo no tapete. Não que Mary ou seus pais se importem. Mas a casa deles é tão bonita que sinto que eu devo me importar.
O pai de Mary trabalha para alguma empresa de petróleo em Houston, o que significa que sua família tem muito mais dinheiro do que a minha ou a do Michael. Isso nunca foi um problema, mas ainda fico impressionada com o piso lindo, as TVs enormes e como Mary tem seu próprio banheiro no quarto.
Agora ela me observa com os olhos semicerrados.
— Jude disse que você passou para aquele colégio sofisticado na Escócia.
— Quê? — Farelos cor de laranja voam da boca do meu amigo enquanto ele leva uma mão à boca, e eu olho de um para o outro com o estômago embrulhando.
— Ela te contou isso? — pergunto, e Mary pega o pacote de salgadinhos de queijo de Mica.
— Sim — Mary me diz. — Você não vai por causa dela?
Pego meu refrigerante de novo, mais para ter algo para fazer com as mãos do que por sede.
— Não — digo finalmente. — Não vou porque é cara.
Michael solta uma risada debochada.
— Sei, porque uma bolsa de estudos não está à sua altura, ó lady Espertona.
— Exatamente. — Mary concorda e eu apenas dou de ombros.
Fico incomodada que Jude tenha comentado sobre isso com a Mary, especialmente porque eu ainda não tinha contado para mais ninguém.
Mas apenas falo:
— Provavelmente já é tarde demais pra conseguir ajuda financeira. E, de qualquer maneira, foi uma ideia estúpida me inscrever. Eu só… queria ver se conseguiria passar. Eu não queria ir de verdade.
— Pois eu acho que isso é tudo mentira, Bea — Mica diz, apontando os dedos do pé para mim. — Você ficou falando da Escócia o ano passado inteiro.
— A gente viu Valente pelo menos três vezes durante as férias de inverno — Mary complementa, e direciono aos dois o que espero que seja uma expressão severa.
— As pessoas têm direito a mudar de ideia — digo, e observo enquanto eles se olham.
— Eu só estou dizendo — Mary finalmente diz antes de pegar o controle do chão e desligar o Xbox — que você não deveria abandonar uma grande oportunidade por causa da Jude.
— Não estou fazendo isso por causa dela — respondo, mas lá está aquele olhar entre Michael e Mary de novo e, fechando a cara para os dois, eu pego o controle de volta e ligo o videogame.
Ainda tenho duas horas antes de precisar ir para casa e, quer saber? vou matar um dragão.
— Isso não é sobre a Jude, e, mesmo que fosse, quem se importa? A volta do Mason não muda nada.
Atualizado pessoal. Espero que gostem. O terceiro capítulo virá em breve.
Revisei bem o capítulo, mas me perdoem se encontrarem algum erro ortográfico.
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