Capítulo 1 (Revisado)

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Breno

Na agência dos Correios, Breno dos Santos, morador da comunidade da Rocinha, localizada no Rio de Janeiro, estava sentado atrás do balcão de senhas para atendimento. Pela milésima vez no dia, tirou o pompom do gorro de Natal da frente do rosto, pois não adiantava o que fizesse, aquela coisa insistia em ficar indo para frente. Soltou uma lufada de ar pela boca, querendo jogar o gorro no chão, e passou o antebraço na testa para remover o suor, que deixava sua pele negra com um leve brilho ao receber a iluminação do salão.

Um senhor de cabelos pintados de preto, riu ao passar por ele e ver sua irritação. Era o senhor Paulo, um dos funcionários mais antigos daquela agência. Ele deu um tapinha no balcão em que Breno estava e disse:

   – Eu também odiava essas coisas. – Paulo apontou para seu próprio gorro, depois, tirou-o da cabeça. Algo parecia fazer peso dentro da ponta do adereço. – Com o tempo, você vai aprender seus truques, Breno.

Breno, curioso, puxou o gorro de Paulo e, rindo, disse:

   – Ah, seu coroa esperto da porra. – Tinha algumas balas de maçã verde dentro do gorro. – Por isso que o teu gorro é o único que fica com essa merda pra trás.

O velhinho deu um riso, orgulhoso por sua própria astúcia, tirou uma bala e a colocou sobre o balcão de Breno. Repôs o gorro em sua cabeça e disse:

   – Um ótimo esconderijo pra um lanchinho – disse Paulo, então, saiu, caminhando como um pinguim: os ombros inclinando-se de um lado para o outro a cada passo que dava.

Ele sempre reclamava do joelho, que nunca mais foi o mesmo depois da cirurgia que tivera que fazer. Agora, seu caminhar era peculiar, pois sua perna esquerda era ligeiramente menor do que a direita.

Breno balançou a cabeça, pegou a bala e colocou-a na boca. Jogou a embalagem na lixeirinha debaixo do balcão e ajeitou a postura assim que viu duas pessoas entrarem na agência.

   – Eu espero que dê tempo de chegar até o dia do aniversário dele – dizia uma mulher, conversando com um rapaz, provavelmente, seu marido.

Breno, discretamente, olhou para as mãos deles e encontrou as alianças. A mulher deu um risinho ao parar no balcão, encarando o adereço em sua cabeça.

   – Eu amo essas épocas festivas – disse ela, com um sorriso na voz. – Você acha que se eu enviar esse presente hoje, chega até o dia três de janeiro em Uberlândia?

Breno jogou o pompom, mais uma vez, para trás,, e a sua ficha caiu, enquanto mastigava a bala. Seu Paulinho, sacudindo a cabeça e rindo enquanto atendia uma cliente, divertia-se ao ver a cara que Breno estava fazendo. O garoto voltou a olhar para o casal.

   – Sim, senhora. Dependendo do tipo de envio que a senhora escolher, chega até antes. – Ele sorriu, revelando um dente trepado em cima do canino direito, e tirou um papel com a senha dela. – Só aguardar um pouco ali, e um deles te explica sobre cada envio. – Ele entregou a senha, ela agradeceu com o marido e já começaram a se dirigir para as cadeiras. – De nada e boas festas para vocês.

Breno olhou a hora no relógio na parede atrás dos guichês de atendimento. Faltavam só alguns minutos para acabar o seu horário. Como ele trabalhava como jovem aprendiz, sua carga horária era menor do que a carga horária dos outros funcionários. Pegou um folheto dos correios sobre o balcão e começou a se abanar.

   – Será que vai demorar muito para consertarem aquela porcaria? – disse Eliane, a faxineira que trabalhava no período da manhã, passando um pano com desinfetante no salão. – Era bom de trocar aquilo por um novo porque esse já tá pela fé da misericórdia. O bicho deve ser mais velho que o Seu Paulinho.

Aceita o desafio? (Gay) (Degustação)Wo Geschichten leben. Entdecke jetzt