-- Erick? – ouviram a voz da Condessa Viúva. – O que está havendo?
A condessa saiu de dentro do salão e parou no meio do caminho ao ver Ayla. Seus olhos deslizaram do vestido da garota até o braço apoiado sobre o braço do filho. Os dois pareciam uma pintura e algo pareceu acender um alerta dentro dela. A mão do filho sobre a mão da garota também não lhe passou despercebido.
Erick seguiu os olhares da mãe e notou pela primeira vez, que Ayla usava o mesmo vestido da noite anterior. Ele se recriminou mentalmente por não ter pensado melhor no conforto de sua hóspede, mas, naquele momento, não haveria nada a se fazer.
-- Parece que meu nome está muito solicitado hoje... – Erick disse, quebrando o silêncio. – Srta. Windsor, essa é Ayla. Ela está nos ajudando a cuidar de Alice. Mãe, acredito que já a conheça. Ela ficará hospedada conosco até Alice se recuperar.
-- O quê?! – Clara e a condessa disseram ao mesmo tempo.
-- Vamos tomar café-da-manhã? – Erick fingiu não ver a reação das duas damas e levou Ayla para dentro do salão.
Depois de um momento letárgico, a condessa e Clara os seguiram. Erick sentou-se na cabeceira, com sua mãe à esquerda e Clara à direita, ignorando Ayla o máximo que pode. Ayla sentou-se ao lado da condessa, em silêncio.
A tensão no salão era evidente, mas Erick estava mais intrigado do que preocupado com a situação. Mesmo que as damas não gostassem da sua decisão, suas ordens seriam seguidas. Por isso, ele não se importava com o desconforto da mãe ou de sua convidada indesejada, apenas ficava intrigado com a reação exagerada da mãe.
Infelizmente, sua atenção era constantemente requisitada por Clara e ele não pode participar da conversa que sua mãe começou a desenvolver com Ayla.
-- Não tive oportunidade de agradecer pelo que fez por minha neta. Erick disse que foi você quem a fez melhorar há duas noites. – a condessa disse educadamente.
-- Fico feliz de ser útil, vossa graça. – Ayla respondeu olhando para o próprio prato, sem coragem de encará-la.
A condessa percebeu que as mãos da garota tremiam e disse abertamente:
-- Como está sua mãe?
-- Bem, vossa graça. – Ayla disse hesitante.
-- Ela sabe que você está aqui?
Ayla assentiu com a cabeça e a condessa mordeu o lábio inferior.
-- Está acontecendo de novo? – a condessa perguntou temerosa.
-- Acredito que sim, vossa graça. Mas preciso de mais tempo para ter certeza. – Ayla respondeu tensa.
A condessa fechou os olhos por um momento, temendo a realidade, e depois suspirou resignada.
-- Ele corre perigo?
Ayla ergueu o rosto e mirou o conde. O rosto bonito estava com uma expressão entediada enquanto se esquivava dos toques ocasionais e nada discretos da Srta. Clara. Uma nova fisgada surgiu no seu peito ao se dar conta do possível perigo que ele corria. Isso a entristeceu profundamente, espantando-a.
Erick percebeu que era observado e a encarou, ignorando por completo a presença de Clara. Ayla desviou o olhar e pegou uma torrada. Depois olhou para a condessa e disse firmemente:
-- Se ele seguir minhas instruções, não.
A condessa revirou os olhos e respondeu sentindo uma tonelada de preocupações se assomar sobre ela.
-- Então, temos um problema.
Durante todo o dia, Ayla passou seu tempo com Alice. A criança contou sobre o que viu no pesadelo da noite em que tudo aconteceu e como ficou presa no sonho. Disse como ficou feliz ao ver o rosto da mãe e que sentiu o calor do toque dela, mas não conseguia sentir o cheiro do perfume dela, que era o que mais se lembrava.
Ayla ficou preocupada com aquela informação. Talvez a menina estivesse em um perigo maior do que avaliara.
-- O que você lembra da sua mãe, Alice?
-- Lembro que ela era bonita e cheirava a rosas. Papai disse que ela não queria nos deixar, mas Deus precisou de alguém para cuidar das flores do jardim dele e a chamou.
Ayla sorriu.
-- Ela foi embora quando eu tinha três anos, por isso só lembro do perfume. – Alice disse sem graça. – Papai contou que ela me abraçava toda noite até eu dormir no colo dela e depois me colocava na cama.
-- Ela parece ter sido uma ótima mãe. – Ayla disse com carinho.
-- Foi sim. Por isso que eu fiquei triste no sonho. Ela estava me segurando, mas eu não sentia o perfume dela. Eu dizia que sentia dor, mas ela não escutava. Aí, você apareceu no sonho e minha mãe desapareceu. Mas depois apareceu de novo, diferente.
-- Diferente como? – Ayla perguntou com atenção.
-- Não sei. – Alice deu de ombros. – Diferente. Não parecia igual à quando me abraçava.
-- Você me disse que a mamãe só tinha aparecido depois da Srta. Ayla, querida. – o conde entrou no quarto com um bloco de folhas na mão.
-- Eu só lembrei do sonho agora, papai. – Alice respondeu com medo de levar uma bronca. – Quando a Srta. Ayla começou a me perguntar dele.
-- Hum... – o conde encarou Ayla enquanto sentava na ponta da cama de Alice. – Você parece muito interessada nesse sonho.
-- Só estamos conversando... – Ayla respondeu tranquilamente.
O conde a observou por um tempo e depois voltou-se para a filha.
-- Talvez você queira desenhar, querida. Pode desenhar o seu sonho, se quiser.
Alice ficou muito feliz com a sugestão e correu para a escrivaninha com os papéis e o lápis. Discretamente Ayla levantou para sair do quarto, mas o conde a impediu, agarrando seu pulso.
O toque inesperado a fez reagir automaticamente e Ayla puxou o braço em um impulso. Mas o conde fechou os dedos ainda mais firmemente ao redor da pele da garota e a conduziu para perto da janela, longe de Alice.
-- O que você não está me contando? – ele perguntou sério.
-- Não sei do que está falando... – Ayla deu um sorriso inocente e tentou puxar a mão novamente, o que só fez o conde a puxar para mais perto.
-- Minha mãe parece ter conversas particulares com você, aparentemente minha filha pode não estar com uma doença que a medicina moderna pode curar e você está muito interessada em um sonho de criança. – a voz de Erick soou baixa e ameaçadora. – E tudo isso se conecta à mim de alguma forma, uma vez que minha mãe parece convenientemente esquecer suas lembranças da minha infância e você parece saber muito sobre mim.
-- Ora, Vossa Graça é... conhecido na aldeia e eu devo... respeito à Condessa Viúva. – Ayla gaguejou, perturbada demais com a proximidade dele.
-- Não ofenda a minha inteligência, Ayla. Minha mãe já tenta fazer isso regularmente. – Erick retrucou irritado.
Ayla não esperava por aquela reação e nem pela intimidade do tratamento. Seu corpo estava começando a tremer e ficar quente. Ela precisava escapar antes que recebesse um aviso. Talvez a verdade fosse a solução. Ou uma pequena parte dela.
-- Eu não posso falar em nome da Condessa Viúva, senhor. Mas posso te dizer que o que eu sei sobre o senhor, aprendi com a minha mãe. – Ayla o encarou.
Erick ficou paralisado por um minuto. Ele havia se aproximado de propósito para evitar que Alice os ouvisse, mas agora essa proximidade o traía. Estava muito próximo daqueles olhos verdes e novamente eles faiscaram. Um brilho dourado que fez com que ele perdesse a linha de raciocínio.
Erick deu um passo para trás, sem soltar a mão de Ayla e piscou algumas vezes.
-- Por quê?... – ele tentou lembrar do que falava. – Por quê sua mãe saberia algo ao meu respeito?
-- Minha mãe conhecia sua mãe. – Ayla respondeu simplesmente. – E conhecia o senhor...
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A cura
FantasyUm conto de fantasia e mistério, no qual a vida de uma criança dependerá das visitas misteriosas de uma estranha. Quem é essa mulher, assombrosamente bela e aparentemente inofensiva que se aproxima do castelo quando todos temem pela vida de Alice...
Capítulo 6
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