-- Tenho certeza que tem cavalos magníficos, Sr. Cicekler, mas meu interesse é apenas em sua filha. – disse Ayla desviando do olhar do conde e dando mais um passo para trás.

-- Você seria a primeira... – o conde respondeu com uma risada sem humor.

Ayla não esperava pelo sorriso espontâneo do conde. Até aquele momento ele havia sido polido e educado, sem qualquer sinal de intimidade. Isso a deixou em alerta.

-- Vou aceitar isso como um elogio... – ela pigarreou.

O conde a observou em silêncio por um tempo, curioso com aquela estranha que parecia tão confiável. Analisou cada traço do rosto e do cabelo, a delicadeza do nariz pequeno e arrebitado, a transparência dos olhos verdes. Até o rubor de suas bochechas lhe chamaram a atenção. Não fazia ideia de porque estava confiando a vida de sua filha a ela, mas o estava fazendo sem pestanejar. Contudo, Ayla não precisava saber disso.

-- Ao meu ver, tenho uma dívida com você depois de ontem à noite... – Erick começou a falar e levantou a mão para impedir o protesto que começava a sair dos lábios de Ayla. – Mas também me reservo no direito de ser cauteloso. Por mais que você tenha ajudado minha família, eu não sei nada a seu respeito...

Ayla pareceu ligeiramente desconfortável, mas assentiu. Não era muito experiente, mas já imaginava que seria interrogada em algum momento...

-- Onde mora? – ele perguntou sem rodeios.

-- Além da floresta.

-- Na aldeia?

-- Lá perto.

-- E como uma garota de vinte e um anos mora sozinha em um lugar perto da aldeia?

-- Não sou nenhuma garotinha, senhor. Posso garantir que posso cuidar de mim mesma...

-- Não duvido... Você escala árvores... – Erick riu, mas continuou com seriedade. – Ainda assim, é muito jovem para viver sozinha e ter o conhecimento que parece ter para ajudar minha filha.

-- Não me considero tão jovem. O senhor já é um dos membros mais conhecidos da Academia de Estudos Astrofísicos com apenas 30 anos. – Ayla cruzou os braços em um movimento ligeiramente rabugento.

Erick achou graça da atitude um pouco infantil, mas continuou, sério:

-- E como sabe essas informações...

-- Todo mundo sabe...

-- Quem é todo mundo?

-- Pergunte ao carteiro ou ao leiteiro e ele saberá. Porque eu não saberia? – ela deu de ombros.

Erick começou a se irritar. Estavam se afastando do cerne da questão.

-- Eu não sou idiota e sei que você está desviando o assunto. Responda-me: Quem é você?

-- Certo! – ela sacudiu as mãos exasperada. – Eu fui criada desde nos limites da aldeia e a floresta e aprendi com minha mãe tudo o que existe sobre ervas medicinais e doenças. Ela me ensinou tudo o que sei, inclusive como curar as dores da mente e do coração.

-- O que quer dizer com isso?

-- Nem todas os males estão no corpo. Muitos podem ter causas que a medicina ainda não descobriu.

-- Está me dizendo que acredita em superstições? – Erick arregalou os olhos. – Está fazendo bruxaria com a minha filha?

-- Não! – Ayla respondeu horrorizada. E continuou, ofendida – Como ousa cogitar tal coisa. Minha mãe jamais mexeria com magia maligna...

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