Capítulo 3

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    A casa está silenciosa quando me levanto pela manhã

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    A casa está silenciosa quando me levanto pela manhã. Não consegui dormir bem, pensando em como abordar Ravi para que pelo menos possamos ter uma conversa decente e civilizada. Todas as minhas tentativas na noite passada foram frustradas. Se eu chegava perto, ele fugia.
    Não foi nada fácil ser ignorada por ele, ainda mais vendo como ele está mais bonito desde a última vez que o vi. Senti tanto sua falta, mas o que mais dói é estar perto dele e ele fingir que nada aconteceu, ou pior: me tratar como se eu não existisse.
— Bom dia, Samu — cumprimento-o bocejando, quando entro na cozinha.
    Ele está à beira do fogão passando um café fresquinho. O cheiro é maravilhoso.
    Aparentemente é o único acordado.
— Bom dia — diz, me olhando com um sorriso por cima do ombro.
    Sento-me em uma das banquetas e me espreguiço, enquanto ele serve uma xícara de café para mim e outra para ele.
— Por que está acordada? São sete da manhã e você está de férias.
— Não consegui dormir muito bem e não queria ficar na cama olhando para o teto.
    Ele concorda com um sorriso.
— Tapioca de queijo ou misto quente?
    Meu estômago ronca alto ao ouvir a menção de comida.
— Misto quente.
    Samuel prepara dois e quando termina, se junta a mim, se sentando à minha frente na bancada.
    Dou uma mordida no pão mesmo que ele esteja pelando de quente. Tem muito queijo e eu amo. Tudo que Samuel faz fica extremamente saboroso, até um simples misto quente fica diferente quando é preparado por ele.
— Hum... juro, se você prestasse eu casaria contigo — brinco, de boca cheia.
— E quem disse que eu não presto? — Ele finge estar ofendido, mas sorri.
— Sua cara. — Dou de ombros.
    Assim que terminamos de comer, Samuel avisa que vai para a praia e me convida para ir junto. Apesar de estar um pouco frio por ser cedo, eu aceito, indo para o quarto e colocando um biquíni azul de cortininha. Pego meu caderno de desenhos, protetor solar, óculos e jogo tudo na bolsa. Depois que me visto, passo no quarto de Maju para ver se ela está acordada, mas a mesma está roncando e tenho quase certeza que vai dormir até tarde e ainda acordar com ressaca. Maju exagerou um pouco na bebida ontem e beijou uns cinco caras até onde contei. Fecho a porta de seu quarto e desço as escadas correndo.
    Samuel está esperando na porta de casa mexendo no celular. Quando me vê, ele guarda o aparelho e sorri para mim, abrindo passagem.
    Em menos de dois minutos já sinto a brisa do mar e a areia debaixo de meus pés.
    Fico na areia tomando sol e Samuel tira a camisa, correndo para entrar na água que deve estar um gelo.
    Inspiro o cheiro do mar me sentindo em paz, mas só por um momento, pois logo meus pensamentos se voltam para Ravi.
    Acho que ele ficou com alguém ontem na festa.
    Não era sua namorada, porque ele não tem uma. Fiz meu dever de casa, porém só de saber que ele tenha beijado alguém que não seja eu, parte meu coração. Hipocrisia, eu sei.
    Ele nunca vai me perdoar e o pior é que a culpa nem foi minha. Tudo bem, foi um pouco, mas a reação dele foi totalmente desnecessária e infantil e arrastar isso por tantos anos é mais infantil ainda. Odeio ter que ficar implorando pelo perdão das pessoas, mas odeio ainda mais saber que alguém me odeia.
— Não vai dar um mergulho? — Samuel pergunta, chacoalhando seu cabelo em cima de mim. Dou um gritinho e ele se joga ao meu lado na areia.
— Claro que não, a água está um gelo! — exclamo, enquanto limpo as gotas de água do meu braço.
    Ainda estou me enxugando quando ele pergunta:
— Qual é a história com o tal de Ravi? Você ficou a noite inteira correndo atrás do cara.
    Engulo em seco, prendendo o cabelo atrás da orelha e desviando o olhar para o mar.
    Pelo visto todo mundo reparou em minha humilhação.
    É o primeiro verão de Samuel aqui com a gente, ele não conhecia Ravi e parece não ter gostado dele inicialmente. Mas Ravi também não é muito amigável. Ele não dá espaço para as pessoas se aproximarem.
— É complicado. Ele me odeia.
— Você gosta dele.
    Não é uma pergunta, mas mesmo assim eu paro para pensar nela. A resposta parece ficar óbvia quando sinto meu coração acelerar.
    Não parei minha vida por Ravi. Sim, fiquei com vários outros garotos depois dele e até namorei uma vez durante o ano passado, mas nunca consegui esquecê-lo. O que senti por ele nunca chegou nem perto de ser comparado com o que já senti por alguém. Tínhamos uma conexão, uma amizade e ele me conhecia como ninguém.
    Acho que aquela coisa de: "o primeiro amor a gente não esquece" deve ser verdade, porque nunca deixei de pensar nele.
— Ele foi o primeiro garoto que gostei... — confesso, com a voz fraca. — E foi meu primeiro beijo também.
    Olho novamente para Samuel em busca de uma reação. Seus olhos estão presos no mar, mas dá para notar sua mandíbula sendo apertada por seus dentes.
— Tinha quase três anos que eu não o via e nem tinha nenhum tipo de contato com ele e, quando você está longe, é fácil achar que esqueceu e que não gosta mais da pessoa. — Engulo em seco. — Mas agora que estou aqui de novo convivendo com ele, não posso mentir, ainda sinto algo muito forte...
    Um sorriso quase imperceptível se forma no canto de seus lábios, algo que me deixa confusa.
    Ele se ajeita e tira a areia das mãos.
— Eu gosto disso em você, sabia? — Ele se vira para mim, semicerrando os olhos por conta da claridade. — Você sempre é muito sincera, mesmo que toda essa sinceridade possa machucar a outra pessoa.
    Franzo as sobrancelhas.
— Obrigada?
— Não, é uma coisa boa, pelo menos para mim. — Ele dá de ombros se levantando e acompanho seus movimentos. — Eu prefiro ouvir verdades duras do que mentiras bonitas. — Samuel estica uma mão para mim e eu demoro um pouco para aceitá-la, ainda digerindo suas palavras. — Você vem?
    Encaixo minha mão na sua, mas em um movimento rápido, ele passa seus braços pelas dobras das minhas pernas e no outro segundo está correndo em direção ao mar comigo no colo.
     Às vezes queria que Samuel não fosse o melhor amigo do meu irmão, seria muito fácil me apaixonar por ele.
    Ficamos no mar por um tempo até que o sol esquenta o suficiente para o nosso frio acabar. Depois atravessamos o quintal e ficamos nas espreguiçadeiras na beira da piscina. Passo protetor solar por todo meu corpo e no de Samuel. Ele abaixa os óculos e diz que vai tirar um cochilo.
    Puxo meu caderno de dentro da bolsa verde de crochê e abro na página onde parei o desenho de um vestido pela metade. Encaro-o por um momento, vendo que a única coisa pronta é o busto com decote de coração com mangas curtas e bufantes. Analiso os traços e tento me decidir se este deve ser mais um modelo longo ou se devo apostar no curto.
    Pressiono a ponta do lápis em cima do papel e deixo que meus dedos me guiem.
    Amo desenhar roupas e amo costura-las também. Sempre que eu vinha para cá no verão, vovó estava costurando algo, eu apenas puxava uma cadeira para o lado dela e a assistia costurar. Ela fazia vários vestidos para mim, me explicava as técnicas e cada agulha que eu deveria usar para cada roupa, me mostrava como fazia, depois me colocava em seu colo e me deixava costurar um pouco, mesmo que a costura saísse toda torta. Hoje não consigo chamar mais só de "hobby", era algo que eu queria para minha vida profissional e não me vejo fazendo mais nada que me deixe tão feliz quanto a costura. A metade do meu guarda-roupas são peças que criei. Amo costurar minhas próprias roupas e não me preocupar se vou sair na rua e encontrar duas ou três pessoas vestindo o mesmo que eu. Maju também adora, já que ela é minha modelo exclusiva e não precisa mais pagar por roupas caras. Porém, depois que o ensino médio acabou e o assunto da faculdade começou a surgir lá em casa, entrei num bloqueio criativo terrível e já estou nesse desenho há semanas, sem conseguir concluir.
— É isso que quer fazer? — Eu me assusto com a voz de Samuel ao meu lado. Ele se estica para ver melhor meu desenho, colocando os óculos de sol no topo da cabeça.
— Pensei que estava dormindo. — Limpo a garganta e fecho o caderno. Não gosto que ninguém veja meus desenhos além de Maju.
— É o que quer fazer? — ele pergunta novamente. — De faculdade, eu digo.
— Quem me dera! — Solto uma risada entre os dentes. — Isso é impossível.
— Por quê? — Ele franze a testa. — Se é o que gosta, deveria tentar.
— Meu pai é arquiteto, Matteo é um futuro arquiteto e minha mãe designer de interiores, acha que tenho chance de escolher outra coisa que não seja na mesma área?
    Já tive essa conversa com minha mãe várias vezes e em todas e ela deixou bem claro que moda estava fora de cogitação, dizendo que eu não teria futuro nenhum com isso. Mesmo que fosse eu que passaria quatro anos estudando, que seria eu a trabalhar na área. Minha mãe já tem o meu futuro todo planejado: eu, dividindo uma sala com ela, no escritório de arquitetura da família.
— Malu, não são seus pais que têm que decidir seu futuro. — Solto o ar com uma risada. Samuel não faz ideia do que está falando. — Isso tem que ser uma escolha sua.
— Você conhece da minha mãe o que ela quer mostrar para as pessoas, Samu. — Me ajeito na espreguiçadeira, ficando de frente para ele. — Assim, não estou dizendo que ela é uma pessoa ruim, não mesmo! Minha mãe é maravilhosa e eu a amo muito, mas quando ela toma uma decisão, não tem o quê ou quem que a faça mudar de ideia. E já está decidido, esse ano eu começo design de interiores. E tá tudo bem, já me conformei. Não é uma área ruim. Acho que dou conta.
    Ele me encara e engulo em seco, pois sei que Samuel pode de decifrar a insatisfação em meus olhos com esta decisão.
— Posso ver? — Ele aponta com o queixo para o caderno.
— É que é meio pessoal...
— Ah, Malu! Por favor...
    Ele me olha com aquele sorrisinho fofo e eu não resisto. Hesitante, passo o caderno para suas mãos e ele abre na primeira página.
— Não ri.
— Eu jamais faria isso — diz sério, enquanto folheia página por página.
    Ele passa os dedos pelos traços dos desenhos, me olhando admirado a cada folha que vira, como se não acreditasse que fui eu mesmo que desenhei.
— Uau! — ele exclama. — Nossa! Acho que você deveria repensar, você é muito boa nisso, Malu — fala, empolgado. — Quer dizer, eu não entendo nada de roupas, mas isso aqui tá sensacional!
    Eu adoro o seu entusiasmo.
    Samuca faz um elogio atrás do outro, o que deixa meu coração quentinho, mesmo que seja como ele disse: ele não entende nada de moda. Ele me incentiva a mostrar meus desenhos para minha mãe, dizendo que isso pode a convencer a mudar de ideia. Não digo a ele que já tentei e que isso foi motivo de discussão em minha casa.

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