3 | Dá pra baixar a porra do volume?

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Thaís

— mano? — pergunto descendo as escadas, depois de ouvir um barulho. Já eram oito da noite.

— já tava dormindo? — perguntou enquanto se jogava no sofá, tirando sua camisa, eu disse que tá um calor insuportável aqui.

— não ia ficar morrendo de calor aqui — sentei do lado dele e vi que meu irmão até que esta gostozinho, ele é mestiço como eu mas com a pele um pouco mais clara, vi que tem um tanquinho vindo aí, e o cabelo diferente do meu, pra minha infelicidade, é da parte do meu pai, ou seja é liso, olhos iguais aos meus, castanho claro, lábios carnudos que nem eu, mas os da gata aqui são rosa, diferente dele.

— e o que eu pedi? — perguntei pra ele, que fez uma cara de esquecido — não quero saber, Lewis, você prometeu.

— eu te dou o dobro amanhã — disse tentando me convencer, olha que tá conseguindo.

— tá, duas pizzas e dez caixas de chocolate — falei mostrando meu melhor sorriso.

— maluca. — disse rindo e deu um tapa na minha cabeça depois de se levantar.

— e minha cunhadinha alemã? — pergunto.

— a gente terminou — respondeu e eu fiquei em estado de choque. — na verdade ela terminou comigo — disse indo pra cozinha e eu o segui.

— porque? — perguntei — na verdade porque eu pergunto, ninguém deve aguentar viver contigo — tento brincar mas ele me olha com cara feia — desculpa, tava tentando te animar.

Ele riu forçado — tô muito animado agora. — disse colocando sua comida no microondas.

— porque ela terminou com você? — perguntei enquanto nos sentavamos.

— reclamava que eu trabalho de mais — disse, é verdade, eu cheguei hoje e já passei mais que a metade do tempo sozinha.

— tenho que concordar com ela. — disse o vendo levar seu prato e se sentar outra vez.

— eu tenho que trabalhar, Thaís — falou —  você sabe, somos estrangeiros num país racista, não podemos nos dar ao luxo de ficar namorando só.

— você tem razão — parei pra pensar.

Ficamos ali só jogando conversa fora e contando as novidades, mesmo nós conversando sempre, contar assim, olho no olho tem mais piada.

— tô quebrado — falou se levantando — amanha tem mais, portanto eu vou dormir.

— tudo bem, bom descanso — falei e me levantei também para lhe dar um beijo no rosto. — também vou pra o meu quarto.

— vou levando meus fones — pegou os fones que estavam na mesinha de centro — e aproveitar pra te desejar uma ótima estreia nesta casa, prepare se.

— como assim, porque diz isso? — perguntei enquanto subíamos as escadas.

— você vai perceber maninha — falou e deu uma risadinha — descansa bem — um beijo na minha testa.

— tudo bem — falei confusa com o "prepare se".

Fui pra o meu quarto que estava bem geladinho. Não tava com muito sono, então liguei meu celular e fiquei no wattpad por um tempinho lendo. Ah mas vinte e um anos e ainda lê wattpad? Claro, quem sabe eu ainda vivo um romance como os da Joyce Maynard, sei lá, posso ser uma Milena ou uma Lana, se bem que a Cecilia, meu Deus que personagem, simplesmente amo ela, quem dera fosse de verdade.

Eram quase onze da noite e eu tava ouvindo uma música que parecia vir do andar de cima. Não dei muita importância, finge que nem ouvi e me deitei, só que a porra do som só ficava mais alto. Deitei de lado e coloquei minha almofada por cima do meu ouvido na tentativa de abafar o barulho mas era impossível.

Não quis atrapalhar a pessoa que estava tocando, mas é que ela tava me atrapalhado. Virei para o outro lado e pus novamente uma almofada pra abafar o som, mas é que era muito alto.

Levantei e fui pra sala, dei voltas pela sala, fui pra cozinha, bebi uma água, mas o barulho não cessava.

Ahh, assim não, tá demais, esse fulano ou fulana vai me ouvir.

Sai e como não sabia que andar era, fui subindo as escadas mesmo.

Descobri que afinal era no andar de cima, por isso, era tão audível.

Parei em frente à porta e sem pensar muito eu bati, de maneira educada, como a boa menina educada que a mamã criou.

O filho da mãe não atendeu e eu bati mais uma vez, três batidas educadas, isso Thaís tá se saindo bem.

Ninguém atendeu e então mandei toda a paciência que eu tinha tomar no cú.

Dei muitos socos na porta, e quando eu digo muitos, to a falar de socos sem parar até um jovem alto, um pouco musculoso e negro, abrir a porta.

— dá pra baixar a porra do volume? — perguntei como uma boa menina educada.

Ele me olhou e não me respondeu nada, também o olhei e vi que seu rosto me era familiar.

— bonita? — falou e eu franzi o cenho, até me lembrar de mais cedo.

Ahh não, o herói de novo não!!

Contínua...

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