Olhos cor de mel...

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Como o conheci? Isso não é realmente importante. O importante é saber que, em um dia normal, em uma ocasião normal - ele surgiu. Ele não era o meu melhor amigo, mas estava chegando perto disso. O conhecia há pouquíssimo tempo, não sabia muito sobre seu passado, ou sobre seus gostos, ou seu número da sorte... Mas eu tinha a absoluta certeza que a sorte era minha de tê-lo por perto. Eu era admirada por seu jeito de ver a vida, filtrava tudo com uma leveza fora do comum e isso era o mais lindo dele, pois se tratava de uma leveza firme, decidida por si só.
Naquele dia, ele estava especialmente bem vestido! Acabara de sair do trabalho, então estava vestido de advogado, com um terno acinzentado, uma camisa clara e gravata roxa - estava bem bonito!
Tínhamos combinado de jantar juntos antes de nos encontrar com alguns amigos em comum, na praça central da cidade.
Jantamos em um restaurante próximo à praça, uma fofura de restaurante. Tudo estava muito bom, a comida italiana, nosso papo sobre a vida e o universo, os seus olhos - ah, seus olhos cor de mel estavam esplêndidos! Brilhavam e me encaravam o tempo inteiro, transbordantes daquela tranquilidade peculiar.
Ao terminarmos o jantar, ele sugeriu que fôssemos a pé até a praça para que pudéssemos nos juntar aos nossos amigos.
Andando ao lado dele, o silêncio dos primeiros passos me fez pensar no quanto eu estava feliz, radiante, flutuante, por poder desfrutar dessa incrível amizade. E ao pensar no quanto eu o admirava como profissional, como filho, como amigo e como pessoa, caí numa profunda preocupação de não ser o mesmo tipo de orgulho pra ele. Olhando para mim, eu era uma mulher, quem sabe até, comum demais, então será que a nossa amizade podia ser tão valiosa pra ele quanto era pra mim? Afastei esse pensamento, pra variar estava complicando demais, pensando demais, exagerando.
Ele me olhou, deu um sorriso torto. Como eu poderia não sorrir feito uma boba depois daquilo?
Andando, lado a lado, ele se vira:
"Sabe, estava pensando em uma coisa... Você quer ser minha namorada?"
Eu... ah... É que... Não est... O QUE FOI QUE ELE DISSE????
O que?? Namorada? Tem noção de quantas coisas passaram na minha cabeça aquela hora?
Eu, definitivamente, não esperava. Ele parecia demais pra mim. Não poderia imaginar que ele me enxergava daquele jeito. Namorar? Eu não conheço muita coisa dele. Será que isso não é perigoso?
Eu nunca tinha recebido um pedido daqueles. Eu entrei em parafusos e todas as possíveis respostas passaram na minha cabeça.
Eu não sei por quanto tempo fiquei em transe sem falar nada, acredito que muito tempo. E nesse tempo todo ele não falou nada, não pressionou, não me exigiu uma resposta rápida... Só ficou caminhando ao meu lado, sendo paciente, sendo sereno, sendo ele!
Quando me liguei, olhei pra ele. Bem mais alto que eu, loiro, olhos cor de mel, aquela roupa toda bonitinha, e aquele sorriso, ah, o sorriso torto brilhante que me desmancha...
Parei. Ele parou também. Olhei bem nos olhos dele, respirei fundo, e falei:
"Eu quero ser sua namorada!"
Esse sorriu. Sorriu de uma forma que eu nunca tinha visto, de forma a me fazer querer só ter esse sorriso na vida e mais nenhum outro. E o melhor de tudo era que esse sorriso era pra mim!
Ficamos ali, parados na rua,olhando um para o outro num tempo que parecia eras, ou segundos, não importa porque na realidade o tempo parou, e tudo o que eu vi foram aqueles olhos cor de mel nos quais eu me deletei. O que eu vi foi exatamente o que eu não tinha visto antes: eu sempre gostei dele. Céus! Como eu pude não enxergar isso? Minha mãe sempre dizia que toda admiração é uma paixão em potencial, ela sempre esteve certa !
Rindo, falei:
"então, agora, eu sou sua namorada? Como fazemos isso"
"Pra começar, você segura a minha mão." Disse ele com o sorriso lindo carimbado. "Então, andamos de mão dadas na rua rindo como bobos um do outro. Quando eu encontrar alguém conhecido, estufo o peito e te apresento como a minha linda namorada. E é isso !"
Eu sorri. E meu sorriso já não cabia mais na minha boca.
Ele se aproximou, acariciou meu rosto e gentilmente pegou na minha mão. Eu me senti uma garotinha de 12 anos, namorando o carinha mais legal do colégio.
Começamos a caminhar, em direção a praça para encontrar nossos amigos que certamente se surpreenderiam,as e daí? Estávamos rindo como bobos. Sem pressão, sem vergonhas, sem exigências. Estávamos juntos. E só! E era o suficiente, ele era suficiente.

Eles por elas: Crônicas de mulheres sem faceWhere stories live. Discover now