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Sina nunca estivera tão confusa em toda a sua vida, ou nessa caso, após ela.

Sabia que tinha cortado seus pulsos e que estava quase morta. Mas de alguma forma, tinha ido parar em uma praia, que ao que parecia, realizava desejos.

Mas de uma forma um tanto incomum.

Ela pediu que sua mãe a amasse, mas não aconteceu como ela imaginava. Talvez a única forma possível de que sua mãe gostasse dela fosse em uma vida onde Sina tinha feito tudo o que ela queria.

Onde tinha dado tudo de si para ser uma dançarina de sucesso. Na qual ela tinha passado horas treinando incansavelmente, onde sua mãe comandou cada passo que ela tinha dado.

Mas isso tivera um preço. Ela tinha feito escolhas diferentes e isso afetara a vida de seu pai completamente. O relacionamento deles poderia ter sido completamente diferente. Uma vida onde ela estava ocupada demais se exercitando e dando tudo de si para concursos e apresentações, uma vida onde ela não tinha tempo para ficar junto com seu pai. Uma vida onde ele era um viciado e havia morrido antes do previsto.

Desde a infância Sina adorava dançar, ficar na frente do espelho e fingir ser uma popstar. Sua mãe achou que aquilo seria um trunfo, então matriculou a filha em aulas de balé. Transformou a infância de Sina em um pesadelo.

O que antes era diversão virou tortura. Ela se sentia muitíssimo mal, mas não queria decepcionar a mãe.

Porém, depois que seu pai revelou que tinha câncer e que estava no estágio 3, ela soube. Soube que precisaria escolher. Se inspirou na força de seu pai e fez o que queria há muito tempo. Chamou sua mãe e disse que estava cansada de tudo aquilo, que seu corpo estava exausto e odiava ter que dedicar tanto tempo para algo que deixava apenas sua mãe feliz e acabava com sua saúde mental.

A decepção e o ódio transbordaram dos olhos de Alex. Sina sentia que estava dando-lhe uma apunhalada pelas costas, mas fora necessário. Desde então ela dedicou seu tempo para outras coisas. Coisas que nem sabia que poderia gostar, pois estava ocupada demais com a dança.

Passou a ficar mais com seu pai, e eles reforçaram muito o laço de amor antes que ele se fosse.

Sina respirou fundo e sorriu. Após aquela experiência que ela nem sabia se podia ser real, ela pôde concluir que não tinha errado na decisão de desistir da dança.

Sua mãe podeira não amá-la na vida real, mas após aquilo ela conseguiu descobrir novas coisas, das quais não se arrependia. E também pudera fazer com que seu pai tivesse uma vida um pouco melhor.

O peso que havia carregado durante anos, por achar que tinha decepcionado sua mãe, tinha sido retirado de suas costas. Pior do que conviver com uma mãe amargurada, seria conviver com a culpa dentro de si por deixar seu pai e melhor amigo sozinho.

Uma mãe deveria amar sua filha pelo o que ela é, e não pelo o que ela mesma queria transformar.

Sina poderia ter sido uma dançarina de sucesso, mas preferia muito mais ter sido uma boa filha para seu pai. E se sua mãe não era capaz de amá-la, isso não tinha haver com ela, e sim com a própria mãe.

Após pensar muito, ela decidiu que iria tentar de novo, pegou a caneta e escreveu mais um desejo. Se aquilo tudo fosse real, ela tinha uma infinitude de "e se's" para testar.

Lançou a garrafa na água e esperou que ela voltasse. Assim abriu o papel em branco e esperou que tudo sumisse. E foi o que aconteceu.

Seus pés afundaram na areia e em um instante Sina não estava mais ali.

A claridade daquele quarto se dava as janelas de vidro, que deixaram toda a luz de New York preencher o ambiente.

Sina demorou um segundo para perceber que estava nua, em um sobressalto ela pulou da cama e começou a vasculhar o quarto em busca de algo para vestir.

Assim que entrou no closet se deparou com sapatos caríssimos e roupas que ela jamais imaginou ser capaz de pagar. Se limitou a vestir uma camiseta azul e um jeans claro.

Após estar devidamente vestida, ela começou a analisar com cuidado o lugar onde estava.

Olhou os móveis sofisticados e a prataria da cozinha. Percorreu os dedos pelos retratos na sala e se sentiu um parasita, infiltrado em uma vida que não lhe pertencia, por mais que de certa forma ainda fosse sua.

Uma Sina sorridente e que parecia ser muito mais jovem lhe encarava, uma vida de sucesso. Onde ela tinha vindo para NYU e cursado escrita criativa na sua faculdade dos sonhos. Esse era o grande sonho da vida de Sina, mas após não ser aceita ela desistiu de tudo e não se sentiu capaz de tentar novamente.

Talvez nesta vida ela tenha tentando no ano seguinte e passado, um arrependimento lhe percorreu o coração e uma lágrima solitária rolou. Ela teria conseguido escrever e publicar suas histórias.

Encarou a paisagem que estava diante de seus olhos e perdeu o fôlego. Tudo era tão lindo, ela podia ver o Coney Island de seu janela. Ela apenas se sentou no chão e apoiou a cabeça nos joelhos enquanto chorava como uma criança. Nunca vira algo tão lindo em toda a sua vida e se sentia idiota por não ter persistido mais em seus sonhos.

A brisa fria fazia seus pelos se arrepiarem e sua franja quase entrar nos seus olhos, até então ela não tinha notado o novo corte de cabelo.

- O que aconteceu querida?

Sina se assustou com a voz rouca e masculina, ergueu a cabeça e encarou o par de olhos mais azuis que já tinha visto na vida. Aquele homem parecia preocupado e confuso, ela sentia a necessidade de abraça-lo mesmo sem conhecê-lo.

Foi quando então ela olhou pra baixo e percebeu a ausência de roupa dele. Isso defensivamente explicava o porquê de ela estar pelada e com o cabelo tão bagunçado. Sina tentou esconder o escarlate que percorreu seu rosto, suas bochechas arderam como nunca.

- Por que você está chorando? Desculpa se não gostou do pedido, sei que não foi tão romântico, mas pensei que faria mais o nosso estilo, sabe?

Sina tentou compreender o que ele estava tentando dizer, qual pedido? Ele passou as mãos no rosto para limpar as lágrimas, e então notou o anel pendendo em seu anelar direito. Oh meu Deus.

- Sina? Por que não me responde? Vamos sair daqui, está tão frio.

- Só estava pensando em algumas coisas, nada importante. E claro que gostei do pedido, foi muito... hum a gente, sabe? - Ela fez gestos com as mãos sem saber o que dizer.

- Ah, claro. Eu sabia que nós iríamos ficar juntos. Mesmo que você já tenha desistido de casar com o Luke. Jamais faria isso comigo, né? Você não é fudida da cabeça como todos dizem, não é mesmo meu bem?

Sem nem ao menos perceber ela já estava contraída em um canto da sacada. Aquela falsa necessidade de abraçar aquele homem estranho sumiu. Ela tinha medo dele e um amargor se instalou em sua boca.

Talvez ser bem sucedida e morar na cidade dos sonhos não fosse tão incrível assim. Pelas fotos que Sina analisou ela pôde concluir que não tinha muitos amigos. E ao que parecia, estava em um relacionamento que não parecia ir bem.

Bem aos poucos uma corrente elétrica percorreu seu corpo, a consumindo de pouco em pouco. Ela foi voltando à praia enquanto apenas olhava o mais alto gritar agressivamente coisas que ela não compreendia.

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⏰ Última atualização: Sep 02, 2023 ⏰

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