#𝟎𝟎𝟒 𝐖𝐇𝐄𝐍 𝐇𝐄 𝐏𝐑𝐀𝐈𝐒𝐄𝐃

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  Essa é a minha humilde tentativa de criar um clima confortável e tirar os olhos pesados e gritantes de Louis de mim.

   Tenho medo que eles gritem ' você está sorrindo como uma adolescente cheia de hormônios, Harold '

─ Justo. ─ ele diz, murmura por assim dizer.

  Neste momento, acho que cheguei no ápice de plenitude em toda a minha semana. O frio já não me afeta mais, pois o espirito da familiaridade nesse carro me mantém quentinho por dentro. O vento batendo nas folhas é uma trilha sonora aconchegante que me da vontade de me afundar no banco e cair em um sono profundo.

  Todo o carro tem o seu cheiro, o moletom dele tem sua colônia. Tudo grita Louis Louis Louis. Não vou importar se chegar atrasado no trabalho hoje.

─ Você comprou o que eu pedi? ─ a voz feminina me tira dos meus devaneios em um susto. Continuo olhando a paisagem verde que passa rapidamente pela janela como se fosse a coisa mais interessante do mundo, focado na minha tarefa de não deixar transparecer que presto atenção na conversa.

─ Quase me esqueci da pílula. ─ quando ligo os pontos olho Louis com os olhos arregalados e iluminados porque é evidente que uma luz se ascendeu em minha cabeça. ─ Viu agora que não era para mim?

  Ele me olha convencido como se dissesse eu te avisei. Escondo o rosto nas mãos em constrangimento.

─ A pílula era para sua irmã, é claro! Meu Deus, eu sou tão...tão-

─ Bobo? Sim, eu tentei te avisar mas você não me escutou.

─ Louis? Camisinhas? Caramba, você é tão idiota. Só aconteceu dessa vez, eu sei me cuidar. ─ a voz de Lottie pareceu bem mais estridente e seu rosto estava vermelho de raiva.

─ Você é  inconsequente, o dia de hoje foi uma prova disso. ─ ela bufa no banco de trás ─ Eu só estou garantindo como um bom irmão mais velho, ok? Eu sou muito novo para ser tio, o Harry concorda.

  É engraçado e fofo como ele tente me incluir.

─ Não tenho tanta certeza disso. ─ dou de ombros.

  Me esforço bastante para permanecer sério, mas todo o meu esforço se torna impossível quando ele me olha com a boca aberta em incredulidade. Ah caralho, ele sabe que é conservado pra porra, não vai me ter confessando isso em voz alta.

─ Eu estou muito ofendido. Aurora também se sente assim. Como ousa ofender o papai dela, enquanto ela te da uma carona?

─ Aurora, o carro? ─ falo bem devagar não acreditando no que escuto e arqueio a sobrancelha. Ele acena como se fosse óbvio e nós não estivéssemos falando sobre algo inanimado.─ Eu tenho certeza de que ela não está magoada comigo, Louis. Vou garantir de ser delicado com os sentimentos do seu carro.

─ Você tem sorte em ser bonito, deve ter ganhado ela na beleza. ─ o elogio roda em sua língua como se ele estivesse falando sobre o clima, como se não tivesse feito uma bagunça em meu interior.

  Fico em silêncio digerindo suas palavras. Não tenho tempo nem reação suficiente para responder seu elogio discreto quando percebo que já estamos na frente da escola. Eu estava tão distraído que não o disse qual escola eu trabalhava, mas ainda assim estamos aqui.

─ É aqui mesmo? ─ ele pergunta.

─ É sim, obrigado pela carona. ─ olho para trás ─ Foi um prazer te conhecer Lottie.

─ O prazer é meu, Harry. Espero não te encontrar nessas circunstâncias de novo. ─ ela da uma risadinha e ergue o comprimido no ar.

─ Se cuide e eu não terei que dar aula para um filho seu logo logo.

  Coloco a mão na maçaneta, pronto para sair, mas Louis me pede colocando a mão na minha perna.

─ Um dia você vai me contar o que aconteceu hoje? ─ sobre como você desapareceu dessa realidade e estava prestes a ter um colapso dentro de uma lojinha de conveniência. Imagino que era isso que ele queria dizer.

─ Só ocorreu um acidente e a moça derrubou café em mim, só isso.

  Isso o cala. Ele sabe que eu não sou ingênuo e entendi a sua pergunta, se eu preferi o dar outra resposta está claro que vai ficar por isso mesmo. Se ele ao menos soubesse...

  Ele sorri sem mostrar os dentes e acena relutantemente com a cabeça. Saio do carro sem esperar por uma resposta verbal, mas antes de dar as costas pro carro e seguir o caminho para escola viro e apoio os braços na porta, olhando Louis pela janela.

─ Olha, ─ começo ─ se serve de consolo, para você e para Aurora, principalmente para Aurora, claro, eu não sei quantos anos você tem. Eu disse apenas para te irritar. Você está bem conservado, Louis. ─ e isso sim provoca um dos seus melhores sorrisos.

 Satisfeito com a reação que ele teve, me afasto do carro.

 Não sei descrever tudo que aconteceu no meu dia. O episódio de hoje me gerou medo genuíno, algo que poderia tirar o meu sono e transformar essa semana na pior em um longo tempo. Mas...honestamente? Algumas coisas ruins tem de acontecer, e eu não costumo ter essa positividade. Não acredito em acaso, ou destino, mas hoje, parecia que tinha que acontecer. 

 Eu não tive que lutar contra os meus próprios demônios sozinho. Não me senti invisível ou deslocado como costumo me sentir. Isso me provou algo. Se eu não fosse tão mal resolvido comigo mesmo, eu poderia ter conversado com Louis, porque ele estava bem ali. Olhando para mim, testando as minhas reações, me fazendo rir. Naquele momento o vi como um amigo, não como o professor que me orienta. Eu estava grato com isso.

𝐀𝐅𝐄𝐓𝐑𝐎𝐏𝐈𝐀 ── larry stylinson.Where stories live. Discover now