Capítulo Único.

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     Hoje papai foi levar a Mel para passear sem mim como sempre faz... Parece que o papai mima mais ela do que eu, mesmo eu sendo filha única... Me sinto triste.
     Ouço papai abrir o portão e vejo ele tirar a corrente dela e fazer carinho nela, brincar com ela, dizer que ela é uma boa menina, estou de saco cheio de ser trocada por essa cadela pulguenta!
     Minha mãe sempre viajou muito por causa do trabalho e o papai sempre cuidou de mim com muito amor: brincava comigo, me fazia rir, me contava história, comprava brinquedos para mim... Depois que essa vira-lata chegou tudo mudou, papai mudou.
     Eu só queria que ela sumisse da nossa vida.
     Eu deveria gostar de animais como todos meus amigos da escola de onze anos, mas... Cada dia odeio mais.
     Hoje a Tia Cleydir do transporte da escola deu bala pra todo mundo, acho que é meu dia de sorte. Eu entro em casa e vejo a janela em frente, a da sala, aberta. Papai está conversando com alguém e assistindo TV? Quem será?
     Chego perto para espiar e percebo que papai está bebendo.
     - Sabe Mel, você realmente é fiel.
     O papai tá falando com a cachorra!?
     - Eu realmente amo muito você,  companheira. Amo mais você do que qualquer pessoa que conheço - ele diz rouco.
     Eu sinto doer por dentro, dói muito muito muito! Papai não me ama! Eu queria chorar alto mas nem pra chamar a atenção dele eu sirvo, só dá atenção pra essa maldita da Mel... Mel... Se você não existisse... Papai me amaria!

      ~¿~

     Depois de eu parar de chorar, entro em casa e abraço o papai. Ele apenas vai para o seu quarto, deixando Mel na sala. Vou na cozinha e abro a gaveta de talheres... Por quê?
     Olho uma das facas e balanço a cabeça, não. Subo as escadas e vou para o quarto do papai, ele está dormindo feito pedra e roncando muuuito alto, ok.
     Eu volto para cozinha e finalmente pego a faca... Afiada.
     - Melzinha - eu a chamo no quintal e ela vem correndo.
     Começo a acariciar ela e corto seu pescoço. Ela tenta chorar, mas já está ficando inconsciente. Eu rio.
     - Sangue de animais têm um ótimo cheiro, não é verdade, companheira Mel?!
     Esfaqueio ela até ficar satisfeita. O que eu fiz? Eu ponho a mão na cabeça e começo a chorar ajoelhada no chão, deixando a faca cair.
     - Mel...
     Eu olho as tripas dela e me dá vontade de esfaquear mais e bato em minha cabeça, respiro fundo.
     - Está tudo bem, certo? E-Era só uma cadela pulguenta! E além disso eu fiz pelo amor do papai, agora o amor dele vai poder ser voltado a mim! Há Haha Hahahahahahaha...
     No outro dia, papai acorda confuso e eu apenas o observo, ele chama Mel e não tem resposta, ele vai ver. Eba!
     Vejo papai sair pro quintal pela janela chamando por Mel, até ele ver os restos dela, a cara dele foi a melhor. Estou tão leve, agora eu tenho o papai só pra mim! Tudo vai voltar a ser como era antes.
     Papai chora desesperado.
     - MEL, QUEM FEZ ISSO COM MINHA QUERIDA MEL? QUE SEJA AMALDIÇOADO!
     Não foi a reação que eu esperava...
     Papai enterrou a Mel logo depois, perto da mangueira e me fez um mini-velório.
     - Vá em paz, grande companheira - papai diz com a voz rouca de tanto chorar.
     - Vá em paz - dou um sorriso atrás do papai.

      ~¿~

     Papai ficou depressivo durante um mês, mas pelo menos agora ele me dá atenção, estou tão feliz! Ele me contou sobre uma história de sua infância, ele era incrível! Papai é o melhor!
     Ontem ele trouxe outro animal para casa, uma gata chamada Kitty.
     Papai estava dando mais atenção pra ela do que pra mim, ela precisa sumir. De madrugada eu botei ela numa caixa e a levei pro lado de fora com a faca na mão, tiro-a da caixa.
      - Hello, Kitty - eu digo enfiando a faca no estômago dela e dando várias facadas. - Isso é tão relaxante! Esse cheiro de tripas frescas! Hihihi.
      No outro dia papai acorda e faz o café pra mim, com torrada. Ele põe a vasilha de ração na mesa e estranha que a gatinha não apareceu, haha.
      Ele procura por ela desesperado, balançando a cabeça e dizendo não, eu só o observo de longe. Quando papai vê ela morta, começa a chorar de novo, papai é tão sensível a mortes, mas eu não ligo, pois o papai é incrível!
       Ele enterra ela ao lado da Mel, fazendo outro mini-velório.
       - Vá em paz, que sua morte seja vingada - papai fecha os olhos e começa a rezar.
      - Vá em paz!

       ~¿~

     Papai traz toda semana um animal novo, eu já falei para ele parar, mas ele não me escuta. É uma pena ele gastar tanto amor para depois o animal morrer, papai tem que entender que seu amor tem que ser pra mim! Só pra mim e pra nenhum animal sujo e nojento! Papai vai entender, porque o papai é o melhor!
     Hoje ele trouxe um cachorrinho que achou nas ruas, é fofo mas já odeio ele por roubar o papai.
     - Era melhor ter deixado ele na rua papai, vão matar ele - digo triste, por ser trocada, claro, não ligo pra esse pulguento em miniatura, estou doida pra sentir o cheiro do seu sangue.
     - Eu sei... - papai diz triste.
     Ao me ver o vermezinho chora, esperto.
     Já são duas da manhã, vou para o quarto do papai e abro a porta o mais devagar possível para não fazer barulho.
     Pego o Tobby tampando sua boca e fucinho com um pano, filhotes são barulhentos demais, credo.
     O levo pro quintal e estico a mão para dar uma facada forte e ele consegue se livrar do pano e dá um latido, corto sua garganta rapidamente para não chamar mais atenção e olho em volta, olho as janelas, tudo limpo. Começo minha sessão semanal.
     - Cheiro de sangue novo é o melhor de todos, hihi!
     - Sophie!? - olho pra frente e vejo papai me olhar abismado, e-eu falhei...
     - P-Papai... Não...
     - Então era você o tempo todo, PUTA MERDA, VOCÊ MATO TODOS ESSES ANIMAIS?! - papai aponta para onde os nove animais que matei estão enterrados e eu concordo com a cabeça. - VOCÊ... VOCÊ É UMA CRIANÇA LOUCA, EU VOU TE INTERNAR! TE LEVAR A UM PSIQUIATRA, QUALQUER OUTRA MERDA, PUTA QUE PARIU.
     - Fiz... Fiz isso pelo amor do papai que estava sendo roubado de mim! O amor do papai só pode ser meu! - choro.
     - Você não entende... Eu amo animais mais que tudo nessa vida, eu não conseguiria te amar mais que eles, eu não consigo! - ele suspira.
     - Então não arranje mais animais - eu sorrio. - Se arranjar mais eu os matarei, pois a atenção de meu pai tem que ser minha!
     - PORRA,  NÃO DÁ - ele me abraça. - Não dá, isso é coisa do meu ser, até sua mãe sabe disso e um tipo de... Que...
     Papai olha para baixo e vê que eu esfaquiei sua barriga.
     - Filha...
     - Se o amor do papai não pode ser meu, não será de mais ninguém.
     - Espe...
     Eu o esfaqueio mais ainda e ele cai no chão e fico em cima dele, ele grita. Garganta, braços, pernas, órgãos... Quero esfaquear mais, MAIS!
     - Não sabia que o sangue humano tinha  cheiro tão gostoso! - rio. - Eu matei... Quem eu mais amava... - começo a chorar. - Mas tudo bem, certo? Aliás fiz isso por amor! - sorrio.

       ~¿~

     Hoje tá um dia ótimo pra brincar, pena que não tem ninguém na rua... Ei, uma garota sentada sozinha no banco da praçinha!
     - Você quer brincar comigo? - eu sento do lado dela e percebo que seu rosto e roupas estão manchados de sangue e ela está chorando. - Você tá bem?
     - Não...
     - O que houve, tá machucada? Se quiser eu...
     - Não. É que o papai morreu e eu o amava muito...
     - M-Morreu? Sinto muito...
     Ela não fala nada e ficamos em silêncio um bom tempo.
     - Como ele morreu?
     - Eu o matei sem querer, mas o cheiro de sangue era bom.
     - O quê?! - me espanto. - Já sei! Você tá zoando comigo, né???
     Ela se levanta e tira algo do short, u-uma faca?
     - Desculpa, mas eu quero mais desse cheiro.
     - O quê?

O amor do papai.Where stories live. Discover now