MAGNATA ━ richarlison (EM PAUSA)

𝟎𝟕 | 𝐌𝐀𝐈𝐒 𝐔𝐌 𝐓𝐑𝐄𝐈𝐍𝐎

— Ainda 'tá muito recente — faz apenas dois malditos dias.

As memórias são frescas demais e eu as revivo com muita frequência, principalmente em momentos de silêncio.

Como Gabrielle não é a pessoa mais comunicativa do mundo, é fácil me encontrar pensando nas mãos de Leonardo me apertando e naquele olhar terrível que só de lembrar me dá vontade de vomitar. 

— Eu sei — ela diz com um sorriso fraco de pena. — Mas tem que tentar. Olha, não sou a melhor pessoa para te distrair. Mas viemos aqui pro treino pra isso, né?

Ah é.

Arrastei Gabrielle comigo para o último treino da seleção brasileira na Itália, amanhã já embarcamos para o Qatar. Ela negou e negou e só concordou porque eu disse que precisava de ajuda com o machucado. Ela se solidarizou e veio comigo.

Agora estamos aqui, sentadas na arquibancada, esperando o treino iniciar.

— É — respiro fundo e balanço a cabeça brevemente para afastar os pensamentos ruins. — Vamos falar de coisa boa, então?

— No que? — ela coloca as mãos sobre o próprio colo, interessada no que digo.

— No seu interesse romântico, que tal?

— Ah, não — ela nega de imediato. — Nada de falar dele, muito menos aqui.

— Por que não? — dou um sorriso diante da reação tímida da minha irmã. — Você não quer ele?

— Shiiii — minha irmã coloca o indicador sobre os lábios. — Ai meu Deus, Julia. Vamos esquecer esse assunto.

— Ele ainda nem chegou.

— Mas pode chegar e tem gente demais no campo.

Olho para o gramado e vejo que há alguns jogadores reunidos, mas não muitos, eles estão conversando com Matheus que está com a clássica prancheta em mãos.

— Para de ser cagona — digo a minha irmã, na tentativa de deixá-la mais a vontade e falhando drasticamente pois ela olha para o gramado com um olhar mega assustado. — Relaxa, mano. Não tem como ele saber que você acha ele bonito, mesmo todo mundo achando ele bonito.

— O Vini é realmente lindo. Mas eu prefiro ficar admirando ele no secreto. É mais confortável pra mim. Faço tudo para não passar vergonha.

— Não tem como você passar vergonha.

— Olha para mim — ela se indica. — Eu não sou atraente, sou meio gaga quando 'tô nervosa e ainda tenho um grande problema com audição. Já pensou a vergonha em não entender o que o gostoso do Vini Jr. me falou e ficar toda hora "quê?" "oi?" "não entendi o que você disse, pode repetir?".

— Você pensa demais no que pode acontecer — digo a ela com um sorrisinho em imaginar o que me disse. — Só deixa acontecer naturalmente. Essas coisas não precisam de treino.

— É fácil falar, você é você.

— O que tem?

— Você é extrovertida, Julia. Todos amam estar com você. É rodeada de amigos. 'Tá acostumada com a atenção.

— Não é bem assim.

— Vou dar um exemplo. Você conheceu o Richarlison em poucos dias e já fez amizade com ele ao ponto de dormir no mesmo quarto.

— Ele só quis me ajudar.

— Eu nunca ajudaria uma completa estranha.

— 'Tá, pode até ser — concordo com ela pois não tem como discordar. — Isso não quer dizer que eu não preciso conversar com as pessoas para ser amiga delas. E conversa não tem treino. Você precisa mostrar qualquer tipo de interesse para o que Vini te note.