Carmem: Só piora. Você sequer sabe quem era a mulher que você deixou com o nosso filho? - Perguntou rindo. - Porque parece que não. Que porra passou na sua cabeça em deixar ele lá? Em?

Pedaço: Conheço, pô, é a uma mina que tá direto nas resenhas e nos bailes. Moradora de lá. - Ela me olhou com o deboche dançando no olhar. - Eu precisava resolver uma parada, referente a Penha. Pedi pra ela segurar ele um pouquinho, o Gateu tava ali também.. Nem vi nada dessa parada de foto, Carmem, se não eu mermo tinha acabado com a graça dessa louca.

Carmem: Não me interessa o que tu tinha que resolver, se você pega ele pra passar o dia contigo então é o que tu tem que fazer. - Concordei passando o olhar pro Jorge, olhando curioso pra ela. - Não é Gateu, não é fulano e nem ciclano. É você. E porra, você tem suas merdas pra resolver? Então resolve antes, ou depois, de ficar com ele.

Pedaço: Tá bom, Carmem, beleza. Agora eu quero falar contigo de outra parada. - Avisei e voltei a olhar pra ela. - Tu sai com ele, vem morar em outro lugar e não me fala? Qual foi?

Carmem: E isso muda em que? Porque ficou claro que você não se importa com a presença do seu filho. - Bufei puto pra caralho.

Pedaço: Para de falar merda, tá maluca? - Ela negou. - Eu não vou entrar nesse assunto contigo mais não, pô, não tô afim de brigar. Mas a parada agora é que eu não curti tu vindo pra cá, morar na área do Lemos pra que?

Carmem: Que se foda o Lemos. Eu vim pra ficar perto do meu pai, porque eu preciso dele e ele de mim. Simplesmente por isso. - Concordei e me aproximando do Jorge parei do lado dela.

Pedaço: Volta pra lá, por favor. Porra Carmem, é longe demais e assim eu não consigo cuidar de vocês. - Estiquei a mão e o Jorge agarrou no meu dedo indicador, brincando. - Tu mais que ninguém sabe que eu tenho que estar por perto, pra vigiar e manter tudo no controle.. E eu não tô falando do nosso pivete.

Virei um pouco a cabeça encarando ela, a porra de um verdadeiro ponto de interrogação estampado na cara dela. Ela ainda não se ligou que eu sei o que tá rolando.. sei lá, achei que ela ia me contar essa parada mas me enganei. Ela escondeu e ainda quer tentar esconder mas eu descobri.

Pedaço: Eu vi teu exame, a porra do diagnóstico. Tudo. - Ela piscou e ficou tensa. - Tu ia me contar essa porra?

Carmem: Não te devo satisfação da minha vida.. - Respondeu depois de segundos me olhando. - Que merda você tava fazendo mexendo nas minhas coisas?!

Soltei meu dedo da mão do Jorge e me virei de vez pra ela.

Pedaço: Não mexi.. Eu tinha comprado uma parada pra tu e sei que tu ia recusar se eu desse, então eu fui colocar na gaveta e os papéis tavam lá. Fui sem intenção alguma. - Ela só balançou a cabeça, um pouco nervosa. - Tava esperando tu me falar, mas tô no direito de vir cobrar isso. Tu entrou na porra de um carro e saiu dirigindo feito maluca com o Jorge dentro. Tu não pensou nele não? Caralho Carmem. E se tu perde o controle?

Observei ela recuando um passo e depois se virando, ficou de costas pra mim evitando me olhar. Ela sabe que agora eu tenho a porra da razão.

Carmem: Ele me acalma.. nunca faria nada que machucasse ele.. - Falou com a voz embargada, ela quer chorar.

Pedaço: Mas faria algo que machucasse só a você.. Porque tu tá agindo na emoção e na vontade de se livrar dessa parada ruim que tu sente. - Ela negou ainda de costas. - Coloca na sua cabeça uma parada, se tu se machucar, automaticamente machuca ele. O Jorge, precisa de tu e da mãe que tu é pra ele.

Carmem: Você não sabe de nada. Nada! Você nem sabe o que viu.. - Virou com raiva, os olhos transbordando as lágrimas olhando pra mim. - Você só acha que sabe.

Pedaço: Desde quando tu tá tomando os antidepressivos? Quero tua sinceridade, pô. - Ela riu nervosa fechando as mãos do lado do corpo. - Estrelinha para com isso.

Ela teve a porra de um diagnóstico de depressão avançada. Eu li o diagnóstico, tudo o que tinha lá, e uma das  paradas citadas foram "ideias suicidas". Tinha um monte de coisa escrita lá, delírios, vontades, pensamentos, mutilação.. A porra toda! E eu não sei quando isso começou, eu não sei de porra nenhuma e eu só quero ajudar ela caralho.

Carmem: Desde quando ele nasceu. - Respondeu olhando pro chão e abrindo as mãos, de longe observei as marcas de unhas. - Mas eu juro pra você que eu nunca pensei em fazer pra ele. Nunca! Eu amo ele como eu nunca amei ninguém e é o único que ainda me mantém em pé.. - Me olhou preocupada. - Por favor, não tira ele de mim. Eu te imploro.

Pedaço: Puta que pariu, Carmem.. - Ela andou rápido até mim e agarrou meu rosto com as mãos. - Carmem, calma, pô.

Carmem: Eu cuido bem dele, eu faço tudo.. Eu não deixo faltar nada e eu não vou conseguir viver sem ele. Pedaço, pelo amor de Deus, não tira ele de mim! - Falou desesperada e eu segurei os braço dela. - Eu não posso viver sem o Jorge!

Pedaço: Caralho! Tá ficando maluca? - Balancei ela de leve, tentando trazer de volta pra realidade. - Da onde tu tirou que eu quero tirar o moleque de perto de tu? Hum? Ele é tão teu filho quanto meu, nunca que eu faria isso, Carmem. Porra.

Carmem: O que? - Perguntou confusa afastando as mãos.

Pedaço: Eu só quero te ajudar, pô, eu quero o seu bem. Nunca vou tirar ele de perto de tu, eu não sou maluco.. Se acalma e fica tranquila.

Carmem: Jura? Por Deus? - Confirmei e ela me olhou por segundos, antes de me abraçar pelo pescoço. - Obrigada.. Obrigada. Obrigada! Ele é a minha vida.

Abracei ela de volta. Isso tá pior do que eu imaginava, ela tá perdida dentro da própria mente, criando paranóias impossíveis.. Caralho, pela primeira vez eu não sei o que fazer pra ajudar ela.

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