— Tipo o quê?

— Ir no parquinho.

Ela entorta a cabeça para mim.

— Ele tá trancado a essa hora, e nós somos velhos demais. A polícia faz ronda nessa área, tu viu a viatura passando algumas vezes quando a gente tava no deck.

Seguro a vontade de rir por estar a convencendo do perigo de ir no balanço de madrugada.

— Eu fui preso ano passado, não te contei?

— Tu o quê? — ela diz ainda sem me soltar, mas dando um passo na minha direção. Encostando a ponta do All Star branco no meu preto clássico e surrado.

O calor de seu corpo emana em minha direção e me compele a forçar minhas costas ainda mais contra o encosto, buscando colocar mais distância entre nós. Seu perfume doce faz minha boca salivar e se eu estiver perto demais é possível que lhe dê uma mordida. Ela sabe que já fiz isso antes.

— Por desacato — dou de ombros, tragando mecanicamente o cigarro apagado em minha boca.

— Como assim? Conta direito.

— Nada demais, tirei onda com um oficial.

— Nada demais? Benhur! — Nina ralha comigo.

— Lembra do Luiz Felipe? — ela acena e espera. Mas não digo nada.

Leva alguns segundos até ela juntar as peças e entender que Luiz Felipe conseguiu o sonho de se tornar policial militar.

— Foi quase uma boa ação, ele ficou bem feliz de mostrar serviço, na verdade.

— Tu não presta — ela diz soltando minha mão, deixando-a cair pesada sobre minha coxa.

Me sinto oco. Vazio. Desconectado.

Me levanto rápido, assustando Nina, que tropeça para trás e só não cai porque meu braço envolve sua cintura e seu peito pressiona contra o meu.

Ofegante e quente.

Ela não para de encarar minha boca e eu quero me enfiar dentro dela assim, sem mais nem menos.

Levo o cigarro ainda apagado de volta a boca, só para me ocupar e não acabar fazendo algo precipitado.

— Vamos pro parquinho — ela diz endireitando a postura e tirando o cigarro de minha boca.

Aceito a proposta porque por uma fração de segundos me apego à ideia de que se eu tiver a possibilidade de provar Nina, quero sentir seu gosto e vale a pena não contaminar minhas papilas gustativas ainda.

Voltamos pelo caminho até voltar para o núcleo agitado, que já não está mais tão agitado assim. Ela me pede para contar o que aconteceu com nossos colegas de classe e outras banalidades.

Não ignoro como nossas mãos roçam com frequência durante nossos passos. Ou como sua cabeça sempre cai para o lado, encontrando meu ombro durante suas risadas.

Meu coração bate na garganta quando avisto o parquinho cercado e mal iluminado.

Nina encara a cerca alta com insegurança.

— Quer arregar?

— Algum dia já arreguei pra ti? — ela diz firme com o queixo erguido e olhos afiados.

— Então vai, eu te dou pezinho.

— Não viaja, tô de saia, vai me dar pezinho coisa nenhuma.

Solto uma gargalhada sonora, subitamente preocupado com a igreja logo ao lado.

— Ok, vou assistir o show daqui — digo me afastando e me encostando em uma placa, com os braços cruzados.

Do outro lado da rua só tem o que costumava ser uma oficina e hoje em dia é só uma construção abandonada, tomada pelo mato. Temos alguns metros de cada lado antes de chegar nas casas habitadas. Eu só preciso lembrar de fazer silêncio e não atrairemos atenção.

— Preciso te lembrar que fui eu que te mostrou como pular o muro da casa do Anderson aquela vez? — ela diz com confiança, estudando a estrutura de madeira que ostenta o portão cadeado.

Com leveza e agilidade, ela escala a cerca e pula do outro lado, me impressionando.

— Faz tempo que não pulo cerca, mas pulei da sacada do segundo andar, lembra? — ela diz com certo divertimento. — Não vai vir? — me provoca.

Não penso duas vezes, corro e pulo, minhas mãos agarradas já no topo da cerca. Outro impulso e minhas pernas passam por cima da estrutura que balança violentamente com meu estímulo. Num baque caio ao seu lado e ela sorri.

— Marginal.

Me dá as costas e vai para o balanço.

Sento ao seu lado, espremido na estrutura estreita.

— Tá diferente do que me lembrava.

— Eles revitalizaram tudo uns anos atrás.

— Ficou bonito — ela diz me encarando.

Sei que fala do parque, mas minhas bochechas não parecem se dar conta desse detalhe e esquentam rapidamente.

— Parece que a gente é adolescente outra vez — ela sussurra baixinho, desviando o olhar com um sorriso tímido.

— Vamos agir de acordo, então — digo. Me levanto e vou para trás de Nina. — Se segura.

Ela me pede para esperar e se endireita prendendo a saia do vestido por baixo das coxas e entre as pernas. É tão ingênuo, mas faz meu pau vibrar. Respiro fundo, porque já passei dessa fase.

Seguro a corrente pela base do assento e a puxo para trás o máximo que posso, antes de soltá-la. A empurro cada vez mais alto e Nina gargalha abertamente.

A estrutura de metal começa a ranger e ela começa a se preocupar, interrompendo a brincadeira bem mais cedo do que eu gostaria.

— Daqui a pouco o Luiz Felipe passa por aqui com a viatura e eu nunca fui presa, gostaria de manter assim, se possível — ela diz orgulhosa.

Ameaço um passo brusco em sua direção e ela pula para trás rindo. Ergo uma sobrancelha para ela e ela corre em direção à cerca por onde viemos. Indiscutivelmente sou mais rápido e a ultrapasso, pulo para o outro lado enquanto ela ainda está pendurada no topo.

Mas cai de pé logo atrás de mim antes que eu possa verificar se ela precisa de ajuda.

— Ganhei. Como sempre — me gabo.

Ela projeta os lábios em um biquinho que, como todo o resto, faz meu peito pesar.

Não é difícil me sentir adolescente outra vez se até mesmo meu corpo reage com uma familiaridade irritante.

— O que quer fazer agora? — pergunto a ela, implorando mentalmente para que ela não encerre nossa noite ainda.

— O que quer fazer agora? — pergunto a ela, implorando mentalmente para que ela não encerre nossa noite ainda

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Quem mais não quer que eles encerrem a noite ainda?

Agora foram quatroWhere stories live. Discover now