É estranho falar das nossa mães com ele.. nós dois sofremos um trauma gigante e que afetou demais nossas vidas, nossa amizade. Por anos nós se afastamos depois do que vimos naquele dia, quando tudo o que precisávamos era de nós mesmo, da nossa parceria.. Nenhum de nós nunca vai superar aquilo mas juntos nós conseguimos esquecer um pouco daquela maldita dor e trauma, nos ajudamos a ficar bem. Mesmo que tenha sido por pouco tempo.

Carmem: Você tem razão, pela primeira vez.. - Brinquei quebrando o clima pesado e fui me aproximando, até sentar na parte vazia da cama ao lado dele. - Dona Grazi, te mataria por ter me engravidado. Na verdade ela teria te matado por ter descobrido que algum dia tentou me beijar.. Mas ela estaria muito feliz e apaixonada no neto, disso eu não tenho dúvidas! Elas teriam cuidado de tudo, planejado tudo por nós dois, até mais do que deveriam. E elas brigariam pela atenção do Jorge..

Pedaço: Tu lembra bem delas, pô, não sabia que tu tinha guardado tanto delas. - Sorri pra ele e concordei, me recordando dos pequenos momentos em minha mente.

Carmem: Os mínimos detalhes possíveis. Não lembro tanto mas o pouco que tenho, nunca vou esquecer. - Suspirei olhando pra ele, aparência cansada e calma, escondida em baixo dessa cara de psicopata que ele tem. - Como você tá? Tipo, de verdade mesmo.

Ele se mexeu e estralou o osso do pescoço, girando a cabeça devagar. Fiz cara de nojo e ele logo parou, se ajeitando novamente e passando as mãos pelo rosto. Então me olhou e balançou os ombros.. desviando o olhar pra longe.

Pedaço: Papo reto? Não sei mermo, tô me sentindo estranho, pô, perdido.. Meu pai morreu brigado comigo, olhei no rosto dele sem vida e nem mermo pedindo desculpas eu me senti melhor.. - Fungou respirando fundo e me olhou, os olhos brilhando e levemente avermelhados. - Tô sozinho, Estrelinha, e perdido pra caralho.

Meu coração apertou em ouvir ele dizer que está sozinho, em ver os olhos lacrimejando e a voz falhando enquanto fala do meu tio. Ele perdeu a mãe, o pai, o tio não literalmente mas perdeu, e me perdeu.. Mas ele não tá sozinho, eu estou aqui de um jeito ou de outro.

Carmem: Sozinho? E quanto a mim e ao Jorge? Nós não somos nada? - Perguntei virando mais meu corpo para o lado, descansando as mãos em cima da minha coxa. - A gente tá aqui, porra, eu tô aqui! Olha e fala pra mim, apesar de anos nem olhando na sua cara e fingindo que tu não existia, tu me deixou? Não. De longe e no seu cantinho, tu tava cuidando de mim porque a gente é independente de tudo família! Mais do que nunca, agora nós realmente somos uma família de verdade, e eu não vou te deixar sozinho.. eu tô aqui caralho. Não como sua mulher mas sim como sua prima, sua amiga, a mãe do seu filho e alguém que também tá sofrendo com essa perda.

Pedaço: Ele queria conhecer o Jorginho.. tava animado pra caralho. - Lembrou colocando a mão em cima da minha, acariciando de leve, mantendo o olhar nos meus olhos. - Acredito pra caralho em Deus e que essa porra não foi em vão, que teve algum motivo, tá ligada? Mas dói pra caralho, pô, minha mãe e meu pai, eu perdi os dois.. Independente de quem estiver a minha volta, eu tô sozinho, Estrelinha. Mas saber que tu tá aqui e tá me dando uma força, me deixa mais feliz e me tira da cabeça uma porrada de coisa ruim.. mermo que seja como minha "prima".

Ele me lançou um riso debochado e eu revirei os olhos rindo, idiota. Empurrei ele de leve e ele segurou meu braço, me agarrando e abraçando com força, rindo também. Abracei ele de volta, escondendo a cabeça na lateral do pescoço e sentindo o cheiro gostoso de perfume. Senti ele me apertar e puxar mais, me trazendo pro colo dele, afastei meu rosto do pescoço dele e olhei pro rosto cansado que me encarava também.

Pedaço: Nunca mais vou te ver como minha prima, pô. Coé.. - Riu e eu concordei com as mãos atrás do pescoço dele, entrelaçadas. Minhas pernas ao lado de cada um das dele, os joelhos dobrados em em cima da cama.

Ele soltou um pouco meu corpo e tirou a mão esquerda das minhas costas, trouxe para perto e colocou na lateral do meu pescoço, eu imediatamente neguei e ele sorriu ameaçando puxar para frente. Jesus..

Carmem: Para, sério. - Mandei e ele jogou a cabeça pra trás rindo. - Vai, me solta, anda.

Pedaço: Tu é amiga da minha mulher? - Provocou e sorriu de lado. - Qual a tua desculpa agora, Carminha?

Carmem: Nós ainda somos primos.. - Rebati com uma leve risada, suspirando pesado em seguida, sentindo ele acariciar minhas costas com a outra mão. - Pedaço.. Eu não quero mais.

Pedaço: Continua sendo uma mentirosa descarada, porra! - Aproximou o rosto apenas roçando os lábios nos meus, ameaçando me beijar.. - Caralho, eu adoro quando tu se faz de difícil!

Ok. Ele venceu. Eu não consigo me manter firme quando ele faz essas coisas, e o meu corpo simplesmente responde a ele, automaticamente.

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