Futon | RENGA

On the radio: In my mind - Lyn Lapid

23 de março, 18:34

Era uma tarde fria do outono, as folhas caíam sobre o asfalto lentamente e o vento batia no rosto daqueles que passavam por aquela rua. Algumas crianças brincavam com seus pais no parque, outros passeavam com seus animais e alguns voltavam do trabalho. Porém na pista de skate, encontrava-se dois melhores amigos se divertindo enquanto faziam (ou pelo menos tentavam fazer) manobras radicais com seus respectivos skates. Ambos os garotos adoravam todos esses finais de tarde, não acontecia com muita frequência, uma ou duas vezes na semana, mas sempre faziam o máximo para se encontrarem, adoravam a companhia um do outro.

— Ei cara, cuidado! Não quero que sua mãe brigue com você por causa de arranhões no seu rosto. - Reki disse enquanto se segurava para não rir do tombo que o mais alto havia levado segundos atrás.

— Deixa de ser cínico, Reki. Eu sei que você quer rir, fique a vontade, eu também daria risada se estivesse no seu lugar. - Langa respondeu enquanto se levantava e checava as mãos e as pernas, procurando algum ferimento grave ou algo do gênero.

Reki então caiu na gargalhada, tão alta a ponto de fazer com que outras pessoas que passavam por ali escutassem também. O ruivo riu com vontade, fazendo com que o azulado caísse na risada junto a ele. Era sempre assim, a risada de Reki era contagiante demais para Langa, ele amava aquele som, ficaria horas escutando. As risadas finalmente cessaram e o ruivo finalmente pôde ajudar seu amigo a se levantar.

— Você perdeu a aposta, sabe o que isso significa? - Perguntou o mais novo. O tombo era resultado de uma aposta feita pelos dois garotos mais cedo, onde quem chegasse mais rápido até o outro lado da pista, ganhava.

— Que você vai me falir fazendo eu comprar todo o cardápio da sorveteria? - Langa perguntou, já sabendo a resposta. Digamos que na maioria das vezes isso acontecia.

— Que bom que você já está ciente! - Reki disse sorrindo largo, fazendo o coração do mais velho delirar, aquele maldito sorriso estava fazendo Langa se apaixonar cada vez mais.

Langa gostava de Reki fazia um tempo. Desde do dia em que se conheceram, ele ficou encantado com o jeitinho do garoto. Porém esse sentimento sempre foi oprimido, pois Langa tinha medo, medo que toda a amizade dos dois fosse por água abaixo e que Reki não aceitasse a sexualidade de Langa, assim como aconteceu com seu antigo melhor amigo. Era traumático para ele.

O mais velho afastou os pensamentos ruins assim que puseram os pés na sorveteria. Langa não olhava para Reki, mas tinha certeza que o mais novo estava com um sorriso estampado no rosto. Ele sempre estava e o azulado achava isso encantador, o jeitinho que ele sempre contagiava as pessoas ao redor com seu astral e humor (deveras ruim diga-se de passagem) fazia com que Langa se sentisse igual ao Cirilo de carrossel olhando para Maria Joaquina, droga ele estava mesmo apaixonado.

— Qual sabor você vai querer? - Perguntou Reki animado, enquanto seus olhos brilhavam observando toda aquela vitrine repleta dos mais variados sabores, era uma sorveteria famosa no bairro e os garotos entendiam o porquê.

— Não sei, acho que... você pode escolher por mim! Só não escolha o de flocos, é o pior. - Langa disse apontando para o sabor com cara de nojo.

— Você é mesmo estranho Langa, quem não gosta de flocos?! - Perguntou o ruivo admirado, mas achava interessante todos os gostos peculiares do mais velho. Ele sempre achou Langa interessante e admirava todos os seus talentos, poderia se considerar o maior fã do mesmo.

Ambos os garotos decidiram que tomariam seus sorvetes enquanto andavam, a sorveteria estava cheia e eles queriam conversar com mais privacidade.

— Nossa, esse sorvete de chocomenta é extremamente gostoso! Boa escolha, Reki. - Comentou Langa enquanto lambia sua casquinha de chocomenta, o ruivo achou que o mais velho pudesse gostar do sabor exótico do sorvete.

— O meu também é bem gostoso! Quer experimentar? - Perguntou Reki, oferecendo sua casquinha para o mais alto, este que pareceu curioso sobre o sorvete de coloração roxa.

— Queria experimentar direto da sua boca, mas tudo bem. - Langa disse sem pensar. Ele sempre tinha pensamentos assim quando estava com Reki, mas dessa vez acabou pensando alto demais. Assim que se deu conta do que tinha acontecido, colocou as mãos sobre a boca, como se tivesse falado o pior palavrão do mundo. Reki estava vermelho e queria rir da cara envergonhada de Langa, era uma situação hilária.

— Meu Deus desculpe, Reki. Saiu sem querer, não foi bem isso que eu quis dizer. - Langa disse desesperadamente, coçando a nuca sem jeito e esperando uma reação positiva do ruivo, cujo este que só conseguia rir da situação.

— Então foi só brincadeira? Poxa, eu iria aceitar... - respondeu Reki num tom brincalhão, devolvendo o flerte. Langa ficou estático. Reki havia respondido? Porque? Eles nunca estiveram numa situação assim antes, mas Langa não achou que isso pudesse acontecer. Rapidamente pegou seu skate que estava no chão e foi até uma das lixeiras perto dali, jogando a embalagem do seu sorvete fora. Ele precisa sair de perto do ruivo. Ele não sabia como reagir, muito menos responder.

— Cara, eu preciso ir. Está ficando tarde e minha mãe vai ficar preocupada... Até mais. - As palavras saíram da boca de Langa na velocidade da luz, não esperou nem a resposta do ruivo, apenas jogou o stake no chão novamente, saindo em direção a sua casa. Reki ficou confuso. Seu amigo não gostou da brincadeira? Reki disse algo seu pensar? Droga, agora ele estava se culpando pela ação repentina do azulado. Conseguiu apenas acenar para a silhueta do mais velho sumindo no horizonte, enquanto tentava raciocinar tudo o que havia acontecido.

Naquele fim de tarde e começo de noite Reki voltou para casa cabisbaixo, não conseguiu nem mesmo terminar seu sorvete. Langa saiu repentinamente e nem havia se despedido com o cumprimento padrão que eles mesmos haviam inventado, como todos os dias. "Ele ficou desconfortável", pensou Reki enquanto se preparava para tomar banho e ensaiava seu pedido de desculpas.

𓂃 💭𓋲

"People say I’m quiet most of the time
If only you knew what goes on in my mind"