🐚 Prólogo

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Eram quase dez horas da noite quando meus pais foram convidados para um evento que aconteceria na beira da praia. Não me lembro muito bem daquele dia, mas lembro de como meus pais eram bastante importantes na sociedade.

Eu era a mais nova de cinco irmãos, tinham somente quinze anos quando tudo aconteceu.

— Não quero que durmam depois da meia noite — mamãe se maquiava em frente ao espelho de sua penteadeira. — Eu fui clara? — ela volta a perguntar.

— Sim, mãe. — Valentina, minha irmã mais velha respondeu.

— Que horas vocês voltam? — Antônio meu segundo irmão mais velho perguntou.

— Sinceramente eu não sei. Os repórteres e o prefeito quer a presença de seu pai nesse evento, e não sabemos de que horas ela irá acabar.

Lembro do doce do perfume da minha mãe e do quanto eu adorava que aquele cheiro percorria por toda a casa. Hoje em dia eu detestava aquele cheiro e só pelo fato de perfumes doces me fazer lembrar da minha mãe eu odiara mais ainda.

— Vocês ouviram sua mãe e Ashel? — papai chama minha atenção — por favor não fuja para a praia outra vez.

Concordei sem muito esforços.

Nossos pais saíram de casa, mas antes se despediram como se soubessem que aquela seria a última vez em que nos veríamos novamente.

E aquele dia foi o último em que toda a família esteve reunida e vivos.

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Por ser a mais velha Valentina que ficava no comando.

Antônio odiava, mas o resto de nós já havíamos nos acostumado em ter a nossa irmã cuidando de nós na ausência de nossos pais.

— Ashel? — Beatrize, minha irmã de dezesseis chama minha atenção. — Você acha que o nosso pai poderia nos levar a livraria amanhã?

— Seria mais conveniente se a Maria perguntasse, ele sempre faz tudo que ela deseja. — fecho meu diário e caminho até minha cama.

Nós todos dividiamos o mesmo quarto, dormíamos em beliche.

Eu a mais nova dormia em baixo, Valentina na cama de cima. Maria ao lado também em baixo, Beatrize no beliche de cima e Antônio numa cama separada do outro lado.

— Acho melhor nós todos irmos dormir, já está bem tarde para ficarmos de conversa. — Antônio diz deitado em sua cama, ele vira-se de costas para nós.

— Irei beber um copo de água antes. — digo e me levanto prestes a sair do quarto.

Valentina apagou todas as velas que iluminava o lugar antes de subir para sua cama, vi pela pouca iluminação do lugar que minha irmã sorriu para mim e eu sorrir de volta sem saber se ela poderia me ver.

Nunca entendi como nossa família era bastante rica, papai tinha um cargo bom, era melhor amigo do prefeito e aos olhos da sociedade éramos a família perfeita. Tínhamos mordomos sempre ao nosso dispor, e nem eu e meus irmãos entendíamos porque dividiamos o quarto mesmo a casa sendo tão grande.

Saio do quarto e caminho até a cozinha, todos os empregados estavam dormindo e o ponteiro do relógio marcava onze e cinquenta. Pego um copo e vou até o filtro de barro, bebo um pouco de água e ouço um estrondo muito grande vindo do andar de cima.

Foi então, que o desastre em nossas vidas começou. Corro para o quarto e vejo que a porta se encontrava trancada, meus irmãos gritavam e eu gritava do lado de fora.

— Fogo!! — Maria gritou desesperada.

— Nos ajude Ashel. — o que eu poderia fazer? Gritei pelos funcionários e até corrir para seus dormitórios para não havia ninguém lá.

Volto a bater a porta do quarto e vejo pela pouca fresta da porta a enorme iluminação vinda do nosso quarto.

— Eu não sei o que fazer. — respondo nervosa. — Valentina??? — ela não me respondeu — Maria?? — Nada. — Antônio? Não obtive respostas e por fim gritei pela minha outra irmã — BEATRIZE?????

Engulo em seco.

O barulho das chamas tomavam conta do lugar e aos poucos o fogo ia se espalhando pelo resto de nossa casa.

Eu gritava por ajuda, mas parecia que mais ninguém podia nos ouvir... nem mesmo os vizinhos.

Corro até a saída em prantos, eu precisava achar meus pais, contar e dizer que meus irmãos não respondem.

A praia não ficava muito longe de nossa casa, e ao chegar lá me deparo com várias pessoas em volta de algo. Todas elas pareciam espantadas, algumas mulheres colocavam as mãos sobre a boca chocadas.

Olho ao redor e não vejo meus pais em lugar ao algum, resolvo me aproximar da rodinha com muita dificuldade e levo um enorme choque ao ver o corpo de meus pais completamente ensanguentados sobre o chão.

Não!

Meus pais estão mortos. Meus irmãos estão mortos. Todos estão mortos.

Eu ia morrer também?

Corro na direção contrária das pessoas o mais longe que eu pudesse chegar e me sento sobre a beira do mar, abaixo minha cabeça sobre o meu colo e começo a chorar sem saber o que fazer.

Eu não tinha mais ninguém. Ninguém.

E bem no meio daquela agonia e dor que eu ouço um canto. Era a coisa mais linda que eu já ouvirá na minha vida, levanto meu olhar em direção ao mar e vejo duas belas mulheres ao meio dele.

A canção era uma beleza de outro mundo que eu jamais havia escutado antes, me levantei e me vi caminhando em direção a água. Me senti tão atraída por aquela música que precisa chegar mais perto para ouvi-la melhor.

Aos poucos a água ia aumentando sobre o meu corpo a medida em que eu caminhava, elas passaram rapidamente da minha cintura até o meu pescoço. E a melodia cada vez mais viva em meus ouvidos.

Eu estava hipnotizada por aquela canção, as duas lindas mulheres me chamavam com as mãos sorrindo. E eu apenas tentava chegar até elas.

Derrepente começo a engolir água e a me debater sem parar por entre as águas, eu não sei nadar.

Não! Me debati sobre a água. Eu não quero e nem posso morrer agora.

Meu Deus! Eu tenho somente quinze anos. Não vivi nada, estou apenas começando.

Às duas e belas mulheres se aproximaram de mim e me ergueram sobre a água fazendo-me parar de me afogar.

— Quer tanto viver mesmo assim? — uma delas me pergunta. Ela tinha pele negra e lindos olhos verdes brilhante, sua pele parecia o oceano a noite.

Balanço minha cabeça concordando.

— Até mesmo viver sem os seus pais e irmãos? — a outra garota perguntou — está disposta a pagar um preço para viver?

— Si.. sim. — respondo. — qualquer coisa.

— Até mesmo matar pessoas para sobreviver? — a garota negra volta a perguntar — se aceitar não terá mais volta, tenha isso em mente.

Eu não iria suportar viver sozinha em um mundo onde minha família não existiria.

— Sim!

Às duas garotas sorriem e se apresentam.

— Me chamo Tuane e essa é Anemoni.

— Seja bem vinda ao mundo das sereias. 

E antes que eu pudesse responder sou jogada para o fundo do mar, e minhas pernas deixaram de existir e no lugar delas uma enorme cauda fora substituída.

E mesmo tudo aquilo me causando um enorme medo, era melhor do que estar morta igual todo o resto de minha família. 

No oceanoWhere stories live. Discover now