♛. 𝟬𝟬𝟭 ━ BORN OF BRONZE.

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Ela não poderia simplesmente perder a chance. 

O arco pesava contra os seus ombros, mas ela sabia como usá-lo; o primo Roderick lhe permitia aulas em cortesia ao esforço primoroso que dispunha em suas preleções. Os números sempre lhe pareceram fáceis demais e o bordado servia com um escape, tal como o estudo das estrelas, então as justificativas escusas de que ela poderia se desinteressar por suas outras tarefas eram infundadas. Os treinos para falcoar, no final, eram como um prêmio.

Entretanto, foi quando começou a escalar a árvore, atirando-se no tronco mais próximo, tateando com seus dedos macios demais a casca áspera, a seiva pegajosa infiltrando-se em suas unhas, que seus olhos encontraram uma serpente rastejando sobre a madeira. Antes que pudesse descer com cautela, as pernas escorregaram pelo pânico que deslizou sobre sua consciência e ela caiu em cima do braço. Rhea tentou se agarrar, mas apenas serviu para que arranhões se formassem em sua pele, alguns com cortes tão extensos pela aspereza da árvore que se transformaram em feridas purulentas.

Deveria ter permanecido no castelo ao invés de partir em algo que não possuía experiência e com condições climáticas terríveis.

Rhea pensou que nunca fosse sentir uma dor maior que aquela novamente. Seu braço inchou tanto que pensou que poderia explodir, adquirindo um profundo tom amarelado feio com o passar dos dias. Ela dormia a maior parte do tempo pelos excessos roubados do leite de papoula, como se aquilo servisse para amenizar a sensação penetrante.

Até agora.

Suas pernas pesavam como chumbo, o corpo inteiro latejava como fraturas de muitos ossos quebrados. Uma dor profunda se arrastava em seu abdômen e nem as almofadas que sustentavam sua lombar eram suficientes para apaziguar a dor que se proliferava como as fortes correntes da Baía dos Caranguejos. Naquela altura, as contrações ocorriam sucessivamente, sem descanso.

— Empurre, senhora. — A parteira estimulou, seu rosto enrugado focado no meio de suas pernas enquanto as separava com as mãos magras.

Rhea respirou profundamente, seus dedos se enredando ao redor do lençol até as unhas arranharem o tecido macio. Seu peito tremeu com a subida lenta da respiração que estimulou, buscando controlar as pesadas lufadas de ar que abandonavam seus lábios.

— Vamos lá, querida Rhea. — Sua irmã, Josselyn, estava sentada ao lado da cama enquanto refrescava sua pele com um pano úmido. Seus olhos quentes como duas amêndoas se estreitavam a cada maldição infame proferida por seus lábios. — Está quase vindo.

— Josselyn, não posso—

— Sim, você pode. — Ela interrompeu, as palavras suaves e suas sobrancelhas arqueadas em encorajamento. — Faça o máximo de força que conseguir. Não se acanhe.

— Parece fácil falar!

Deuses, ela se sentia tão fodidamente exposta. As pernas escancaradas, seus lábios comprimidos e gemidos rasgando suas cordas vocais. Rhea não queria gritar. Mas quando sentiu mais uma pontada em sua intimidade, um brado angustiante rolou de sua boca.

A mulher tombou a cabeça para o lado, sua visão tornou-se turva a medida que a pressão desfavorecia seu corpo. Ela rangeu os dentes, sua mandíbula pressionada duramente, lágrimas grossas escorrendo por suas bochechas coradas.

Ela não ia conseguir. Merda, se soubesse que dar a luz quase arrancaria sua alma fora, ela teria feito um voto de castidade.

OF BONES AND EMBERS ━ fire and bloodOnde histórias criam vida. Descubra agora