Alguns minutos depois, meu celular vibra, avisando da chegada de uma mensagem. Quando visualizo, fico alguns segundos fitando a tela, incrédula. É uma mensagem direta. Apenas os números de uma conta. Sem qualquer cumprimento. Penso se é seu número pessoal. Levanto a cabeça para o segundo andar a tempo de vê-lo depositar o aparelho sobre sua mesa. Não olha para baixo, para mim.

Apressadamente, faço a transferência da quantia para a conta dele. Serei hipócrita se não disser que o faço com uma dorzinha no coração. Minha vida estaria resolvida com aquele dinheiro. Mas, da forma como vinha, sem o meu esforço... bom, sem esforço honesto do meu trabalho, nem cogito ficar com a soma.

Assim que finalizo a transação, levanto a cabeça para ver a reação dele. Apenas um vislumbre na tela do aparelho, um breve repuxo da boca bem feita para baixo, num gesto de desgosto e então ele volta ao trabalho.

Penso em escrever um agradecimento, mas... melhor não. Pronto. Tudo acabado.

Brandon esteve viajando pelos próximos dias. Foi para Singapura, a negócios. O secretário particular dele o acompanhou. Assim como Jéssica Lee. Esse último detalhe me irrita, me frustra, mas... o que posso fazer? Que direito tenho?

O lugar parece ter perdido a vida. Fico assustada ao constatar como sinto saudades dele. É algo que quase me causa dor física. E isso é ruim. Muito ruim.

Prefiro não pensar muito sobre esses sentimentos. Já tenho complicações demais em minha vida.

Eu sou uma pessoa bem introvertida. Difícil de me aproximar das pessoas. E talvez seja por isso que ainda não tenha feito uma amizade de verdade aqui no escritório. Os amigos que fiz na faculdade, a grande maioria se mudou, casou ou está ocupada seguindo suas vidas. Muitos deles se afastaram de mim por conta do meu ex., eu preciso admitir. Agora, com vergonha, não tenho coragem de tentar uma reaproximação. Ando muito solitária... e sentindo essa solidão ainda maior, sabendo que nem encontros esporádicos com meu chefe eu terei.

Por todas essas razões, estou tentando me aproximar mais dos meus colegas do escritório. Há Laura, uma moça que deve ter quase a minha idade e sua mesa é próxima à minha. Ela é muito agradável e me ajudou muito quando comecei a trabalhar por aqui. Estou tentando me aproximar dela. Descobri que é solteira, está no escritório já há uns dois anos. Convidei-a para almoçar comigo hoje. Torço para que nos tornemos amigas.

Dias depois, percebo que fiz a escolha certa. Laura e eu nos aproximamos muito! Ela é tão bem humorada, simpática! Passamos a almoçar juntas todos os dias! Conversamos sobre tantas coisas! Dessa forma, meus dias passaram mais rapidamente.

Na quinta feira, faltando cerca de 20 minutos para o fim do expediente, meu celular vibra. É uma mensagem. Estaco ao reconhecer o emissor. Brandon Reeves.

"Me encontre no estacionamento."

Releio inúmeras vezes. Olho ao redor, receosa, com medo de que alguém note meu estado, completamente chocado. Laura pergunta se já vou descer. Dou uma desculpa qualquer e digo que vou logo em seguida. Ela me sorri e parte. Logicamente não falei sobre minha... breve relação com nosso chefe com a garota. Nem eu mesma acredito que tenha acontecido.

Assim que me vejo sozinha de novo, volto a encarar o celular em minhas mãos e releio a mensagem. Nervosa, digito apenas um ok, arrumo minhas coisas rapidamente e rumo para o elevador. As pernas estão trêmulas, a boca seca, a respiração acelerada, o coração batendo muito forte.

Nos meses em que trabalho aqui, nunca estive no estacionamento que fica no subsolo. Então, ao chegar lá, fico completamente perdida. Recordo-me do carro dele, uma luxuosa Mercedes. Mas, ao sair do elevador, noto como o lugar está cheio e que será complicado encontrá-lo.

Suíte 220 - A Obsessão do CEOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora