♛. 𝟬𝟬𝟬 ━ PROLOGUE.

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Sempre foram seus lugares favoritos, nada como Porto Real. Não suportava ficar consciente por muito tempo envolta das paredes tortuosas da Fortaleza de Maegor, podendo jurar ouvir os gritos dos desafortunados assassinados por o Cruel.

Diferente das pessoas que aspiravam o principal assentamento da família real como uma alcova de oportunidades, Hera, quando passara a compreender a sublime finalidade da situação que transcorria ao redor de lados divididos por duas facções, o viu como um lugar onde ela deveria ser diligente. Ela era cuidadosa com os cortesãos que vagavam pela corte, as gentilezas que recebia quase sempre mascaradas por animosidade. Ser filha de quem era incentivou os olhares tortos, mas isso a endureceu para notá-los antes que fosse tarde. Os lambe-botas estão sedentos para sacrificar alguém, infestados por sua devoção cega aos Hightower e sua prole, Daemon uma vez disse.

Não era uma mentira.

Ainda que o Rei Viserys estivesse resoluto em sua decisão de prosseguir Rhaenyra como sua herdeira, haviam mãos gananciosas que tramavam contra sua incontestável pretensão. Essas que foram um estopim, convertendo Porto Real em um lugar mais infame e sórdido.

Os sorrisos falsos envergaram sorrisos trêmulos, do tipo coagido que se expõe para encobrir o medo.  

A sufocava o suficiente para sentir mãos se enrolarem em seus calcanhares e a arrastarem para baixo, como se estivesse se afogando, a água escura entrando em seus pulmões e seus olhos tornando-se turvos à medida que queimavam em desconforto. A liberação reprimida quando tudo o que gostaria de fazer era gritar, até que sua garganta estivesse em carne viva e que o inchaço adornando sua alma retrocedesse, apenas para aliviá-lo de sua constante consternação.

Talvez essa tenha sido a motivação que a incitou a abandonar seus aposentos e caminhar pelos corredores. Seus passos firmes rangendo sob o chão de mármore escuro, o barulho da chuva sendo abafado pelas paredes vermelhas. Candelabros de ferro guardavam tochas desvanecidas e vez ou outra um guarda movia-se ao seu redor, cumprimentando-a com um aceno conciso.

Com cautela ao acelerar seus passos, Hera atravessou os andares que guardavam os quartos até que o salão principal se acendeu em seus olhos, mais iluminado que os outros cômodos, com as janelas abertas flanqueando a claridade em sombras suaves, a tapeçaria de sua linhagem percorrendo um longo caminho nas paredes, de Aenar a Daenys e Gaemon, para Elaena e Aegon e um longo ramo oriundo do sangue da Antiga Valíria. Um exorbitante lustre pingava no centro com cristais pontiagudos e o teto abobadado carregava desenhos e runas valirianas.

Aproximando-se da saída enquanto acenava em direção a Sor Laszlo e outro homem que não recordava o nome, ambos guardando a porta, cada um disposto de um lado, o estandarte do caranguejo em um fundo branco — o símbolo da Casa Celtigar —, esculpido no canto superior da armadura revestida de prata. Notou quando os homens arquearam as sobrancelhas, confusos, seus elmos descansando embaixo dos braços ao vê-la se dirigir às portas munidas e as abrir lentamente.

Senhora...

Sor Laszlo a chamou, seu tom baixo indicando que ele não parecia apreciar sua saída. Seu cabelo ébano escorria até os ombros e um vinco surgia em sua testa, a preocupação estampada em seus contornos. Eram leais, isso ela não podia contestar.

— Não se preocupem. Preciso tratar de um assunto na Fortaleza Vermelha. — Ela precisava apenas sair um pouco. — Vou voltar a tempo de jantar com o rei e o menino Gaemon. Cuidem de sua proteção, enquanto isso.

Sor Laszlo deu um passo à frente, sua boca se abrindo como se quisesse dizer algo, antes de seus lábios se fecharem novamente em uma linha reta compenetrada. Ele se curvou em uma mesura, seu cabelo grisalho caindo no rosto.

OF BONES AND EMBERS ━ fire and bloodWhere stories live. Discover now