Ainda era cedo, porém, por conta do clima, o dia estava mais escuro que o normal. Direcionei os olhos até o som da água se movimentando e admirei o fato de ter alguém dentro daquela piscina gigante e bela. Eu só conseguia me concentrar no frio, e não na alegria que era se banhar nela. Quando o cabelo loiro emergiu, segurei o ar nos pulmões, assistindo ao seu corpo musculoso e esculpido pelos anjos aparecer na superfície.

Peter se sentou na borda e tirou o excesso de água do rosto e dos cabelos, para, assim, olhar para mim.

— Como consegue? — Fiz careta diante da sua coragem de enfrentar um mergulho. — Não dá para tomar banho aí nesse frio.

— Do mesmo jeito que você faz quando toma banho todos os dias — a voz rouca foi agradável aos meus ouvidos e eu quis conversar mais com ele.

— Eu tomo banho com água aquecida — falei o óbvio.

Ele riu.

— A água aqui também é aquecida, criança. — Levantou-se.

Sua altura e falta de roupas ofuscaram minha concentração em 100%. Ele usava apenas uma sunga de cor escura, a qual não consegui diferenciar se era preta ou azul-escuro, que estava muito bem marcada no seu corpo.

— Pode ficar bem aí. — Ergui as mãos para ele continuar a uma distância segura de mim.

Eu me sentia uma pervertida quando o encarava e pensava em como poderia usar seu corpo de diversas maneiras diferentes. E quem poderia me julgar? Ele era um pecado.

— Não vai me dizer que nunca entrou nessa piscina por causa do frio.

— Okay, não digo.

Ele abriu um sorriso pequeno, mas que me fez crer que era sincero.

— Você é uma incógnita.

— Obrigada? Mas não sei bem se isso é um elogio.

— Para você, com certeza é. — Soprou o ar fortemente e tocou em meu casaco, tentando abri-lo. — Tire.

— Não. — Apertei o tecido mais, confortável com o calorzinho que vinha dele.

— Esther! — Rangeu os dentes, impaciente. — Tire!

Por que ele não aceitava um "não", como uma pessoa normal?

Engoli a seco, sabendo que doeria na minha pele sentir aquele frio. A fumaça que vinha da água dava a ilusão de que era por estar gelada, só que nas laterais haviam equipamentos que a deixavam em movimento. Perceber isso fez eu me sentir tão patética.

Com pesar, abri os botões e vi seu olhar divertido sobre mim. Peter cruzou os braços e eu tirei o casaco, fechando os olhos e estremecendo com o frio anormal. A peça sumiu da minha mão e foi jogada no chão.

Ele fez um sinal para mim e eu o ignorei. Era insano.

— Não — repeti. — Está muito frio.

— Vai passar se fizer logo.

— Não vou ficar de calcinha e sutiã aqui fora, na frente de todos — reclamei.

Ele estreitou os olhos.

— Na frente de quem? — Eu me permiti olhar para todos os lados. Não havia nenhum soldado, nem ninguém ali. — Se for por mim, eu já pude ver cada centímetro de você. Não tem por que se incomodar.

— Hum. — A contragosto, retirei a blusa, sentindo toda a brisa gelada bater no meu peito.

Ele tomou o tecido de mim, como fez com o casaco, e esperou até conseguir fazer o mesmo com a calça. Eu estava quase nua, no frio, ao lado de um homem gostoso que tinha um senso de ordem irritante.

Aguardei seu próximo passo. Ele se colou ao meu corpo, e o seu peitoral molhado, gelado pelo vento que recebia, fez-me gemer. O loiro pôs o rosto no meu pescoço e inalou meu cheiro demoradamente.

— Esse fodido gemido foi um convite? — Acariciou minha cintura.

— Não. — Quase chorei. — É o frio. É o frio.

Ele gargalhou de leve, levantou-me centímetros do chão e andou na direção da água.

Não! Não!

Não pode...

Splash!

A água morna molhou o meu corpo e eu tive que prender a respiração enquanto estava debaixo dela. Peter não me soltou, levou-me consigo até a superfície e sacodiu a cabeça, tirando a água dos cabelos. Meu corpo relaxou com a temperatura agradável e o seu toque me acalmou.

Como era possível?

Ele não havia falado nada, nem mesmo eu. Não precisava de nada ali.

Senti sua mão tocar em minha bunda e a apertar por dentro da piscina. O safado queria apenas uma oportunidade para me tocar. Ele trouxe a mão para a minha intimidade e, automaticamente, eu abri as pernas para lhe dar espaço.

Foi naquele instante que percebi como ele fazia as coisas.

Mortes, negócios e sexo eram o que Peter usava para esconder algo que o machucava. Ele não era indestrutível, era um homem comum, e constatar isso me fez jogar o tesão longe. Eu apertei sua mão entre minhas pernas e ele me encarou, confuso.

— O quê? — questionou-me.

— O que te incomoda? — ousei e me arrependi levemente. — Por que é assim, tão duro?

— Duro? — Ele riu, sagaz, e se esfregou em mim, excitado. — Pode resolver isso e não estarei mais incomodado.

— Não estou falando do seu pau, Peter. — Eu tirei sua mão da minha boceta e a água se agitou na área em que estávamos.

Ele não deixou de me segurar.

— Do que está falando, Esther? — a seriedade dele chegou sem pedir permissão e eu repensei se fiz bem em ceder à curiosidade.

— De você. — Coloquei as mãos no seu peitoral e o empurrei minimamente. — Isso tudo que você faz. Esse poder e essa dominância vêm de onde? Do que você se esconde?

Seu rosto endureceu mais ainda, ele segurou meu queixo e estreitou os olhos.

— De que caralho está falando?

Meu coração acelerou e eu fiquei em alerta. Ele percebeu quando me retraí ao extremo, querendo distância, soltou-me imediatamente e se afastou de mim, mexendo na água ao meu redor.

Ele sabia do que eu estava falando, mas sua pergunta evitava uma resposta para a minha indagação. Parecia que o loiro sabia fazer isso bem.

— Só quero entender como...

— Nada sobre mim é da sua conta, porra! — esbravejou.

— Como não?

Ele me encarou com uma expressão furiosa e saiu da piscina, bufando.

— Não é porque fodemos, que somos amigos do peito, Esther. Pensei que sabia diferenciar as coisas.

Antes que eu pudesse responder, Peter me deu as costas e entrou na casa. Minha cabeça doeu e me lembrou de que ele estava certo: nada sobre ele tinha a ver comigo. No entanto, eu não parava de pensar sobre a dor à qual Willy se referiu.

Afundei na piscina, aproveitando a água gostosa, e repensei no que fazer.

Eu estava delirando se achava que poderia entender um mafioso.

Eu estava delirando se achava que poderia entender um mafioso

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