[16] Gnossienne

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— Ele veio me falar sobre o testamento do meu pai — dessa vez, soou como verdade, mas ainda assim havia algo estranho. Taehyung parecia sentir dor. Não uma dor física, mas os olhos denunciavam que ele estava sofrendo e sufocando algo no peito. — Foi por isso que fiquei, hm, emocionado? Desculpa se eu te acordei. Você pode voltar a dormir.

— Eu não quero dormir, Taehyung. Você não me respondeu nada que fizesse sentido. Testamento do seu pai? O quê? E esse cara? Não foi ele que nos perseguiu para todos os lugares...— Jeongguk puxou o ar com força para dentro dos pulmões, o cérebro virando gelatina com as informações que não faziam muito sentido.

Seokjin torceu o nariz e encolheu os ombros num pedido de desculpas, um sorriso amigável no canto dos lábios.

— Eu te explico depois, coração. Não é nada de mais.

— Mas não parece ser algo tão simples. Você não está mentindo, não é? — Jeongguk perguntou em um tom sério, encarando-o, deixando claro que se magoaria caso Taehyung estivesse mesmo mentindo dessa vez. Ele fechou os olhos por um segundo e abriu um sorriso forçado.

— Não, não estou mentindo, já disse que posso te explicar melhor depois. E ele já estava mesmo indo embora, não é? — Seokjin assentiu, mas era quase palpável o desconforto ao olhar Jeongguk.

— Você vai ficar bem, Taehyung? — Seokjin perguntou. A pergunta soou baixa como um segredo, mas o suficiente para que ouvisse.

— Eu estou bem, não se preocupe, cara, já superei. Depois a gente se fala sobre, hm, o testamento. — Deu outro sorriso, mas, outra vez, nem um pouco convincente.

Depois que Seokjin foi embora, um clima estranho se instaurou entre os dois. Jeongguk sentia que algo de errado e grave estava acontecendo, e a possibilidade de Taehyung estar mentindo talvez fosse a pior possível. Não era hora de mentir depois do que conseguiram superar, ainda estavam sob uma frágil camada de gelo fino, que a qualquer momento poderia simplesmente rachar. Mas tentou não pensar muito nisso enquanto recolhia o vidro espatifado do chão.

— Aí! — Reclamou quando um pedaço do vidro cortou um pouco da pele. Por reflexo levou o dedo até a boca, chupando-o, na tentativa de estancar o sangue.

— O que houve? — Taehyung perguntou, preocupado, ele se aproximou depressa e segurou a mão de Jeongguk com delicadeza. Havia um pequeno filete de sangue brotando na pele delicada do dedo. — Está doendo?

— Não. Não é nada, é só um cortinho...

Ignorando-o, Taehyung o arrastou até a cozinha e lavou o corte com água e sabão, em seguida, buscou nos armários por algo, até achar uma caixinha com band-aids coloridos.

— Pokémon? — perguntou quando Taehyung terminou de enrolar no machucado um band-aid amarelo com a carinha do Pikachu. — Você não é meio velho para ter isso?

— Pokémon é atemporal, seu pirralho. — Como sempre fazia, quase que no automático, Taehyung o puxou para perto segurando Jeongguk pela cintura, mas parou na metade do movimento. — Desculpe.

— Pelo quê?

— Eu não sei como estamos depois do que aconteceu ontem, me lembro de pouca coisa que conversamos, para falar a verdade. Como estamos? — Taehyung perguntou devagar. Jeongguk adorava os olhos dele, gentis e confortáveis, eram olhos bonitos, um marrom chocolate que tinham a sensação de morada, e em momentos assim, onde ele exalava insegurança, havia algo de muito genuíno brilhando neles.

— Você se lembra das coisas que disse ontem? — perguntou com um sorrisinho e uma sobrancelha arqueada. O rosto de Taehyung automaticamente se transformou em uma careta de desespero, os olhos arregalados e a boca aberta.

A grama do vizinho nem sempre é mais verde (taekook)Onde histórias criam vida. Descubra agora