Capitulo Um. Desejo de Sangue

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Uma fina névoa invadia a floresta sombria, rastejando-se ate minha pele exposta, como um animal pestilento á procura de algo vivo em meio às longas sombras. As árvores e seus habitantes não me incomodavam essa noite, talvez o simples medo os mantivesse longe do meu caminho. O silêncio tornava-se agradável aos meus ouvidos apurados, e uma gélida brisa bagunçava meus longos cabelos negros.
Sentia-me livre e em paz, como não me sentia há muito tempo. À noite me saudava, como uma velha amiga e eu a recebia de bom grado. Não haveria necessidades para máscaras agora, seríamos como duas companheiras que não se encontravam a um longo tempo, aproveitando o breve reencontro para nos readaptarmos as nossas duras vontades. Então algo mudou, o cheiro metálico de sangue encheu minhas narinas, aguçando meus sentidos.
Minha boca encheu-se de desejo e minha garganta ardeu com a sede. Não era minha intenção caçar essa noite, só queria esclarecer as idéias, respirar um pouco de ar puro, mas o som do coração tornava-se irresistível aos meus ouvidos. Não estava muito longe, eu podia ouvi-lo batendo a distancia.
Mordi meu lábio inferior. Só uma mordida... Uma voz sussurrou ao meu ouvido, num tom quase sensual. Ele não vai saber o que o atingiu...
- NÃO! - Gritei para a voz em minha mente. Prometi a mim mesma que não mataria outro humano.
Talvez não seja um humano...
- É claro que era humano, eu sabia a diferença. - Tentei argumentar, mas o pulsar tornava-me irracional.
Como pode ter certeza?
O coração estava mais próximo, aniquilando qualquer contra-argumento que eu pudesse formar. Podia ouvir o sangue bombeando por seu corpo, atravessando suas veias. Cinqüenta metros... Apenas cinqüenta metros.
Sem realmente ter certeza do que estava fazendo, senti meus pés avançarem quase sem ruído algum por entre as folhas mortas que cobriam o chão. Minhas presas cresceram e senti minha língua desenhar seu contorno afiado. Minhas mãos formaram garras enquanto escalava uma árvore próxima, sem dificuldade alguma. Esperei ansiosa, minha presa só estava a dez metros agora. Eu podia vê-lo se aproximar.
Era um mochileiro. Seus cabelos castanhos eram curtos, as veias cheias de sangue se destacavam em sua pele pálida. Ele possuía o porte atlético, os músculos se destacavam em suas roupas. Os olhos azuis tentavam achar a trilha, quase invisível na escuridão, enquanto ele avançava mancando. Um pequeno corte, acima do joelho esquerdo, restringia seus movimentos.
Um leve sorriso tomou conta dos meus lábios, ele seria uma presa fácil.
Aguardei em meu galho, em minha aparência mais mortal, agachando-me como uma pantera negra esperando sua presa. Ele nem ao menos percebeu, enquanto passava inocentemente por baixo da minha árvore.
Em um movimento ágil e mortal eu saltei sobre seu corpo e o derrubei no chão. Mordi seu pescoço e senti minhas presas penetrarem sua carne, entrarem em sua veia, O gosto forte e quente do sangue enchendo minha boca. Entreguei-me ao desejo ao sentir seu sangue acalmar minha sede. Minhas mãos tocaram seu peito e rasgaram sua camisa. Seus braços fortes tentaram lutar contra mim, enquanto um grito escapava por seus lábios.
Aos poucos eles se transformaram em pequenos gemidos de prazer, seus braços não tentavam mais me empurrar, estavam me puxando mais para perto enquanto uma de suas mãos acariciava meus seios.
Deixei que ele continuasse com seus toques por meu corpo. Estava sentindo tanto prazer quanto ele. Seu sangue despertara meu desejo carnal, mas aos poucos sentir suas mãos pararem com as carícias em minhas pernas. Seus braços caíram ao lado do corpo enquanto eu sugava as últimas gotas do líquido quente e vermelho.
Passei a língua no ferimento em seu pescoço quando terminei de sugar seu sangue. Seu corpo jazia sem vida no chão.
Foi então que percebi sua presença. Ele andava calmamente, quase imperceptível, por entre as folhas mortas. Quase podia vê-lo, elegante, sagaz e com aquele cruel sorriso no rosto.
- Parabéns Melanie! - sua voz soou por entre as árvores. - Foi bem prazeroso de se ver.
Não me virei para olhá-lo, mas senti ele se aproximar.
- O que quer aqui Ralph ? - perguntei irritada, ainda ajoelhada ao lado do corpo do mochileiro.
- Só vim ver se minha priminha tinha se metido em alguma confusão. - ele disse com seu tom arrogante. - Gabriel não ia ficar satisfeito se acontecesse algo a sua futura esposa.
- Estou pouco me lixando para o que Gabriel pensa. - Sussurrei num tom feroz.
Ele postou-se na minha frente, sorrindo. Ótimo, alguém tinha mesmo que se divertir com a situação.
- Está com a língua afiada, priminha. - seu olhar recaiu por um instante no corpo sem vida, analisando-o friamente. - Bem, parece que não é só a língua.
Rosnei baixo. Ralph era um dos motivos que me trouxera a floresta essa noite.
- Quase acreditei que era mesmo vegetariana. - Ele falou. - Decidiu fugir da dieta essa noite?
- Como se eu fosse responder a alguém como você. - permiti que um pequeno sorriso escapasse por meus lábios. - Você não passa de um capach...
Senti uma de suas mãos se fecharem em meu pescoço e meus pés deixarem o chão. Encarei os olhos vermelhos de Ralph, encontrando aquele maldito sorriso em seus lábios arrogantes.
- Dobre sua língua ao falar comigo, Melanie. - ele sussurrou. - fui transformado primeiro que você e, mesmo que seja uma nascida, eu ainda sou mais forte. Portanto, eu pensaria duas vezes antes de me insultar se fosse você.
Ele me aproximou do seu rosto e passou a língua pelo filete de sangue que escorria por minha boca. Um rosnado formou-se em meu peito, enquanto meu corpo preparava-se para atacar. Eu queria arrancar aquele sorriso maldito do seu rosto e transformá-lo em dor, queria vê-lo rastejar como um verme e implorar-me por misericórdia.
- Não demore muito. - ele me disse ao jogar-me no chão. - estamos preocupados com você.
Ele se virou e pegou o corpo no chão. Colocou o mochileiro nas costas como se não pesasse nada e desapareceu calmante por entre as sombras da floresta. Obriguei-me a ajoelhar, observando a névoa tomar o lugar vazio por onde ele tinha passado. Não podia mais aguentar aquilo, estava cansada. A exaustão já tomava conta do meu corpo, nem parecia que tinha acabado de me alimentar. Eu queria fugir, correr para nunca mais voltar, mas sabia que era um desejo impossível.
Uma brisa percorreu as árvores silenciosas enquanto um calafrio percorreu minha espinha, deixando-me alerta. Olhei a escuridão que me cercava procurando o impossível. Algo estranho estava para acontecer e eu podia sentir.





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