Um certo Beto sem noção (Matheus narrando)

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Eu ainda estava tonto e com a parte de trás da cabeça latejando enquanto o Beto mostrava o taco de beisebol e explicava como tudo tinha ocorrido. Os celulares tocaram e tratamos de nos agilizar. Ele pegou a mochila encheu com umas roupas já separadas e, me mostrando a vagina artifical, enfiou-a junto na sacola. Eu abri a boca para tentar falar algo, mas o Beto interrompeu:


- Na praia te explico como se usa isso já que ficou curioso, piá.

- Não tava curioso foi mais... - protestei, sendo interrompido.

- Bora? Te ajudo a te levantar... Lança a chave do carango aí que se tu for dirigir desse jeito a gente acaba dentro do Dilúvio* - e gargalhou da própria piada.

Minutos depois eu estava sentado num banquinho de cabeça baixa, sendo bezuntado de produtos médicos, por um gótico - ou emo, ou qualquer coisa do gênero - que trovava fiado com o meu (vamos chamar assim) concunhado. Um papo sobre tatuagens e Harry Potter que descambou com o cara da farmácia querendo mostrar o pau pra gente.

- Tá louco, meu? Tá nos estranhando? - o Beto deu um pulo pra trás 

- Vai mostrar a varinha pra quem curte... Aqui não tem disso, não. Bah, sai fora com essas paradas...

- É - eu disse levantando 

- A gente não quer ver nada, não. 

A nossa reação pareceu desapontá-lo.

- Mano do Céu! - o atendente passou as maões pelo cabelo 

- Eu jurava que vocês eram namorados. Tipo achei bonitinho até... Um cuidando do outro machucado... Que viagem!

Depois de uns segundos de silêncio, o cara e o Beto caíram na gargalhada. Eu tentei ficar sério, mas acabei rindo também. Já no carro, o Beto falava, dirigia e gesticulava:

- Da onde que o maluco tirou que a gente era gay? Essa foi a manhã mais sinistra de toda aminha vida, meu. Se um filme começasse mostrando tudo que a gente passou até agora ia ganhar o Oscar e tudo mais.. Aquele Morango de Ouro também...

- É Framboesa de Ouro - corrigi - E no caso esse é para o pior filme.

- Sabichão, hein!

Foi um grande alívio pra mim chegarmos na casa das gurias e nos separarmos. Eu deixei o Beto e a Bia levarem meu carro pra praia e me acomodei confortavelmente no banco de trás da camionete dos pais da Carol. Fui quase toda a viagem dormindo e recebendo cafuné da minha namorada que ainda não entendia bem como eu havia me machucado daquele jeito.Quatro horas de estrada e desembarcamos na casa dos Moreira da Cruz em Balneário Cassino, a maior paria do mundo. Um bangalô confortável, de um piso, com três quartos. As mulheres correram pra beira da praia. Eu e o Beto levamos a tralha toda pro quarto, e deixei ele lá estirado em uma das camas com uma cara emburrada. No pátio, o seu Atílio, pai da gurias, conferiu o registro de água e depois foi lubrificar o portão. 

- Vocês podem ir também - ele disse assim que viu - Não preciso de mais ajuda aqui.

Eu olhei pro céu e vi o sol salivando pela minha pele sem melanina. Tratei de encharcar pernas, braços, barriga e rosto com o fator 40. Me empenhava num contorcionismo para aplicar o protetor nas costas, quando o Beto apareceu de bermuda e óculos escuros.

- Eu te ajudo, alemão.

Eu odiava ser chamado de alemão. Era o apelido que eu carregara durante todo o colégio.

- Não, precisa. Tá, tranquilo

- Deixa de vergonha, meu. Eu passo pra ti. Só tamo nós aqui mesmo, não vai ter risco de nos confundirem com um casalzinho.

Ele tinha se superado em questão de segundos. As duas coisas que eu mais odiava: ser chamado de alemão e me ser recriminado por estar envergonhado.

- Certo - disse entregando o frasco ao Beto.

De início, mãos um pouco hesitantes tocaram a pele do meu ombro e a minha nuca. Minutos depois fui sentindo uma pressão maior que massageava até o fim do trapézio. Um tempo passou e polegares rígidos comprimiram a concavidade da minha espinha, quase me fazendo soltar um gemido. Quando as mãos do Beto tocaram as laterais do meu quadril dei um passo pra frente.

- Tô na finaleira aqui - ele me segurou.

Tentando não demonstrar, eu tremi em sigilo, ao ter meu cóccis friccionado com o óleo. Isso foi longe demais, esse maluco tá me tirando pra.. pra sei lá o que.. Eu vou agradecer e acabar com... Gelei!

O elástico do meu calção foi puxado e senti um líquido quente escorrendo pelo meio da minha bunda.

*O Arroio Dilúvio é um córrego de Porto Alegre que divide a cidade em norte e sul. Tem águas tão límpidas quanto as do Tietê em São Paulo. Carros caindo dentro do Dilúvio é um fato corriqueiro na cidade.

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