Para sempre, Vera (oneshot)

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Braga, 18 de Junho 1947

O dia começou como outro dia qualquer, a acordar na cadeira do meu gabinete com uma garrafa de bourbon vazia, garganta seca e uma dor de cabeça. Tive uma potencial cliente e, graças à minha secretária, consegui ficar com o caso. Alice Santos, outrora Alice Fernandes, habitante de uma aldeia dos arredores de Braga, veio até ao centro da cidade para encontrar a sua irmã, Vera Fernandes. Alice deu-me uma fotografia da sua irmã e, aquela era a mulher mais bonita que eu vi em toda a minha vida. Após horas de  pesquisa, surgiu um rumor de que a dama frequentava o Liffey Irish Pub, na rua do Carvalhal. Como tal, dirigi-me até aquele Pub. Mal entrei e o Jazz entrou pelos meus ouvidos e dirigi-me ao Bar.

- Bourbon.

O barman serve-me a bebida e aproveitei para perguntar:

- Talvez me possa ajudar. Estou à procura de uma dama.

Antes que eu pudesse acabar, ele pergunta:

- Não estamos todos?

- Esta é especial - digo eu - Conhece-a?

- Conhecê-la? Eu estou a olhar para ela.

Eu viro-me e os nossos olhos encontram-se. Ela estava com o cabelo cacheado, de lábios e vestido vermelho com luvas brancas. A única coisa que passava pela minha cabeça era "onde é que ela esteve toda a minha vida?"

Ela era o sonho de qualquer homem. Lembro-me de ser tirado dos meus pensamentos com dois homens a puxarem-me para o fundo do bar. Quando chegamos naquele corredor gélido, Gabriel Salvatore estava lá, dono da máfia italiana e namorado de Vera.

Gabriel pergunta-me:

- Sabes quem eu sou?

- O empregado? Eu vou querer um bourbon e estes dois partilham um gin. - respondo eu com um leve tom de ironia na minha voz.

Salvatore dá um pequeno riso sarcástico e diz:

- Odeio idiotas a olhar para a minha rapariga. É indelicado, incivil. Não faz mal, amigo. Os rapazes vão dar-lhe algumas lições.

Dito isto, aqueles dois homens puxam-me para fora do bar e começam a dar-me socos. Quando se cansaram, voltaram a entrar e eu encostei-me à parede do pub a perguntar-me se aquilo tinha valido a pena. E definitivamente valeu todos os socos que levei.

Vera sai do pub, olha para mim e pergunta-me:

- Estás magoado?

- Isto não foi nada, devias ter visto o que fiz ao outro homem.

Ela dá um pequeno sorriso e pergunta:

- Então qual é o teu nome?

- Isso importa boneca? - Pergunto

Antes que ela pudesse dizer algo, aqueles dois homens voltam e o cubano diz:

- Vera! Que passando?

E o irlandês continua:

- Não é suposto saíres da nossa beira com a mercadoria do chefe.

Vera dá um último olhar para mim e entra no pub de volta, e aqueles dois homens entraram a seguir. Fiquei um tempo com o olhar vidrado na parede a raciocinar o que tinha acabado de acontecer e que mercadoria eles estavam a falar. Ao fim de um tempo eu apercebi-me. Era aquele grande anel de rubi, vermelho como os lábios de Vera, que ela estava a usar.

- Esta história está cada vez melhor! - digo eu. 

Olá eu sou Bruno Santos, consultor da polícia judiciária de Braga e escritor nos tempos livres. Há uns dias eu e a minha colega Daniela Tavares fomos chamados a um local de um crime, um homem foi assassinado no Liffey Irish Pub. Inicialmente pensámos que teria sido apenas uma discussão entre dois bêbados que tinha dado para o torto mas, por câmaras de vigilância e por testemunhas oculares, não houve luta nenhuma. Segundo o médico legista, o ângulo a que a bala perfurou  a caixa toráxica daquele pobre homem era elevado, o que nos leva a presumir que o tiro foi à queima-roupa e que o assassino estava de frente para a vitima. Começamos a procurar pela arma, por cartuchos, por impressões digitais e não encontramos nada. Quase parecia um crime perfeito. Durante a nossa investigação, descobrimos que este homem estava obcecado em encontrar antiguidades perdidas ao longo do tempo. Encontramos um jornal dos anos 40 na casa deste homem, parece ter pertencido a um detetive privado. A minha cara colega achou as transcrições «giras», quase começamos uma pequena discussão na casa de um homem morto por causa desse comentário mas paramos quando nos vieram entregar mais informações sobre este homem. Realmente eu não consigo entender o que se passa na cabeça da Daniela, como é que ela pode achar «giro» os pensamentos de um homem que parece que saiu de um romance do Raymond Chandler? Realmente não dá para perceber.

Para sempre, Vera (Oneshot)Tahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon